José de Sousa Martins
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Metrópole
– Dá um tiro nele! Dá um tiro nele! – berrava a mulher de meia idade, apontando na direção por onde ele entrara no recinto do banco, afundando-se no meio do numeroso grupo de pessoas que esperava atendimento. Era a tarde de 5 de fevereiro de 2007. Ela estava na minha frente, na fila, quando, de um pulo, subiu numa das cadeiras e começou a gritar com o segurança indeciso, a poucos passos de nós.
– Dá um tiro nele! – insistia ela, com uma expressão de pavor. Estava fora de si.
– Ele está doente – gemia o pobre segurança, a mão no revólver, ainda no coldre, dividido entre o dever e a compaixão. – Senão, ele não estaria assim tão calmo – esclareceu.
Ali na Cidade Universitária, um certo tumulto já havia se formado na entrada da Nossa Caixa quando o intruso fizera as primeiras tentativas de encostar a cara no vidro e olhar para dentro. Parecia procurar alguém. Era jovem e simpático. Era também inteligente, como o rapaz que, me agarrando pelo pescoço, comandara um assalto numa agência do Banco do Brasil, anos antes, em que fui refém e escudo no tiroteio. Percebeu que, para entrar, as pessoas tinham que esperar uma vaga na porta giratória. Respeitou a fila e, na primeira vaga que abriu. pulou para dentro dela. Todos vimos a giratória rodando, ele caminhando calmo para acompanhar-lhe a rotação, como um cliente normal. Já dentro do banco, enfiou-se no meio da pequena multidão que ali esperava há um bom tempo. Alarmadas com os gritos da mulher, outras pessoas gritavam também, empurravam-se, tentavam subir nas cadeiras e olhavam cada uma para um lado, já que ninguém conseguia vê-lo.
– Pra onde ele foi?! Gritou outro sujeito ali perto, um cliente, cheio de valentia. – Me mostra, que eu mato ele!
Lá no fundo, em face do tumulto e da gritaria, do “atira nele” e do “eu mato ele!”, o outro segurança, sem saber muito bem o que estava acontecendo, levou a mão ao revólver, olhando rapidamente o banco muito cheio, por cima da cabeça das pessoas, tentando ver a cara de um suspeito.
Ao grito de “me mostra, que eu mato ele”, do cliente valentão, quinhentas mãos, finalmente, apontaram para uma mesma direção no meio do banco. O sujeito continuava gritando, numa valentia incrível. Mas, em vez de avançar, recuava de costas, auto-defensivo, para a parede protetora, junto à qual, de pé na cadeira, a mulher de meia idade também gritava, pedindo violência e sangue. Valentes e covardes se irmanaram nos mesmos gestos de horror e medo. Foi um milagre que os seguranças, atônitos, não tivessem iniciado um tiroteio.
No dia seguinte, fui à procura de notícias. Uma contristada funcionária, com verdadeiro pesar, disse-me, então, que o invasor havia sido encontrado e morto, altas horas da noite, pelo pessoal da faxina. Nesta sociedade do medo nem rato escapa.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Metrópole
– Dá um tiro nele! Dá um tiro nele! – berrava a mulher de meia idade, apontando na direção por onde ele entrara no recinto do banco, afundando-se no meio do numeroso grupo de pessoas que esperava atendimento. Era a tarde de 5 de fevereiro de 2007. Ela estava na minha frente, na fila, quando, de um pulo, subiu numa das cadeiras e começou a gritar com o segurança indeciso, a poucos passos de nós.
– Dá um tiro nele! – insistia ela, com uma expressão de pavor. Estava fora de si.
– Ele está doente – gemia o pobre segurança, a mão no revólver, ainda no coldre, dividido entre o dever e a compaixão. – Senão, ele não estaria assim tão calmo – esclareceu.
Ali na Cidade Universitária, um certo tumulto já havia se formado na entrada da Nossa Caixa quando o intruso fizera as primeiras tentativas de encostar a cara no vidro e olhar para dentro. Parecia procurar alguém. Era jovem e simpático. Era também inteligente, como o rapaz que, me agarrando pelo pescoço, comandara um assalto numa agência do Banco do Brasil, anos antes, em que fui refém e escudo no tiroteio. Percebeu que, para entrar, as pessoas tinham que esperar uma vaga na porta giratória. Respeitou a fila e, na primeira vaga que abriu. pulou para dentro dela. Todos vimos a giratória rodando, ele caminhando calmo para acompanhar-lhe a rotação, como um cliente normal. Já dentro do banco, enfiou-se no meio da pequena multidão que ali esperava há um bom tempo. Alarmadas com os gritos da mulher, outras pessoas gritavam também, empurravam-se, tentavam subir nas cadeiras e olhavam cada uma para um lado, já que ninguém conseguia vê-lo.
– Pra onde ele foi?! Gritou outro sujeito ali perto, um cliente, cheio de valentia. – Me mostra, que eu mato ele!
Lá no fundo, em face do tumulto e da gritaria, do “atira nele” e do “eu mato ele!”, o outro segurança, sem saber muito bem o que estava acontecendo, levou a mão ao revólver, olhando rapidamente o banco muito cheio, por cima da cabeça das pessoas, tentando ver a cara de um suspeito.
Ao grito de “me mostra, que eu mato ele”, do cliente valentão, quinhentas mãos, finalmente, apontaram para uma mesma direção no meio do banco. O sujeito continuava gritando, numa valentia incrível. Mas, em vez de avançar, recuava de costas, auto-defensivo, para a parede protetora, junto à qual, de pé na cadeira, a mulher de meia idade também gritava, pedindo violência e sangue. Valentes e covardes se irmanaram nos mesmos gestos de horror e medo. Foi um milagre que os seguranças, atônitos, não tivessem iniciado um tiroteio.
No dia seguinte, fui à procura de notícias. Uma contristada funcionária, com verdadeiro pesar, disse-me, então, que o invasor havia sido encontrado e morto, altas horas da noite, pelo pessoal da faxina. Nesta sociedade do medo nem rato escapa.
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