Marcelo de Moraes, BRASÍLIA
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Marconi Perillo: vice-presidente do Senado (PSDB-GO); Para senador, ele deveria cuidar mais de suas funções e deixar o Legislativo andar com as próprias pernas
O vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), criticou ontem as interferências feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise política do Senado. O próprio senador goiano tem sido alvo direto dessas ações, já que o Palácio do Planalto não deseja vê-lo assumir o comando da Casa, caso José Sarney (PMDB-AP) se afaste do posto por conta das acusações de participação em irregularidades. Para o governo, Perillo seria um político com perfil oposicionista demais para comandar o Senado.
O senador não esconde a insatisfação com esse comportamento do governo e critica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo que considera interferência excessiva nos trabalhos de outros Poderes. "Lula quer mandar em tudo", reclama. "Jamais confundiria questões pessoais e partidárias com institucionais."
Amigo pessoal de Sarney, com quem conversou esta semana em São Paulo, Perillo acha que o Senado precisa "passar a limpo" todas as denúncias de irregularidades, mas não pode esquecer de definir uma agenda propositiva para o segundo semestre, incluindo temas como reformas tributária e política. "Precisamos sacudir a poeira e olhar para a frente."
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Não é segredo de ninguém no Senado que o presidente Lula não deseja ver sua posse como presidente da Casa no lugar do senador José Sarney pelo fato de o senhor ser da oposição. O que acha disso?
Acho que, infelizmente, o presidente Lula interfere demais. Ele quer mandar em tudo. Deveria cuidar mais de suas funções, que já são tantas e tão nobres, e deixar o Legislativo andar com as próprias pernas. Outro dia, ele participou da posse do novo procurador-geral da República e quis dizer como um procurador deveria trabalhar. Isso não é possível. Temos uma tripartição de Poderes no Brasil e isso precisa ser respeitado.
Entre os governistas, o senhor costuma ser chamado ironicamente de "Marconi Perigo". A eventual posse do senhor representa perigo para o governo?
Eu sou um ser humano. E como todos os seres humanos sou um cara que carrega defeitos e virtudes. Entre as minhas virtudes está a coerência, o que faz com que eu tenha um lado definido. Sou tucano por vocação. Não sou um adesista e não vou me vergar aos cantos da sereia para apoiar um outro lado como alguns fazem. Mas o fato de eu ter um lado definido não significa que seja irresponsável em questões institucionais ou que ameace a governabilidade. Sou vice-presidente da Casa e jamais tratei o Senado de forma indevida. Jamais confundiria questões pessoais e partidárias com institucionais. Só que acho que o Senado precisa ser independente, a despeito de seu presidente ser da base governista ou de oposição.
Alguém do governo já lhe falou abertamente sobre as resistências contra sua eventual posse?
Alguns políticos da base governista vieram me sondar para saber como me comportaria na presidência e se faria uma oposição dura. Mas eu não misturo questões institucionais com partidárias. E também não desejo ascender a posto algum pisando nas pessoas.
Qual é sua avaliação da atual situação do Senado, que passou o primeiro semestre sendo bombardeado pelas descobertas de irregularidades e tem seu presidente denunciado no Conselho de Ética?
Minha avaliação sobre a atual situação do Senado é preocupante por conta das ações que estão sendo propostas e por essas ameaças de retaliação feitas por setores do PMDB. Não gostaria de fulanizar a questão, falando sobre a situação do senador Sarney. Mas, na volta do Senado, os líderes deveriam se reunir para tomar medidas que sirvam para sacudir a poeira. Precisamos passar a limpo a Casa, mas devemos também definir uma agenda propositiva para os trabalhos do Senado. Temos reformas internas importantes para fazer, mas também precisamos discutir outras reformas, como a tributária, que se arrasta há décadas, e a política. Precisamos ter uma visão de futuro para o País. Temos de olhar para a frente. É isso que a sociedade espera do Senado.
Mas é possível sacudir a poeira e olhar para a frente com a permanência do senador Sarney na Presidência?
Precisamos passar a limpo essa página do Senado e precisamos de reformas internas. Mas insisto em que devemos ter uma agenda afirmativa com a discussão de temas importantes para o País. Acredito também que muitas pessoas têm interesse em transformar o Senado num bode expiatório para desviar o foco de outros problemas muito importantes.
Que tipo de problemas?
A CPI da Petrobrás, por exemplo, que é uma investigação importante e não interessa a muita gente.
O senhor conversou com o senador Sarney esta semana?
Nós conversamos em São Paulo, no hospital onde está internada a esposa do senador Sarney (Marly). Visitei também o vice-presidente José Alencar lá. Mas a conversa com o senador Sarney foi apenas sobre a saúde de sua esposa.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Marconi Perillo: vice-presidente do Senado (PSDB-GO); Para senador, ele deveria cuidar mais de suas funções e deixar o Legislativo andar com as próprias pernas
O vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), criticou ontem as interferências feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise política do Senado. O próprio senador goiano tem sido alvo direto dessas ações, já que o Palácio do Planalto não deseja vê-lo assumir o comando da Casa, caso José Sarney (PMDB-AP) se afaste do posto por conta das acusações de participação em irregularidades. Para o governo, Perillo seria um político com perfil oposicionista demais para comandar o Senado.
O senador não esconde a insatisfação com esse comportamento do governo e critica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo que considera interferência excessiva nos trabalhos de outros Poderes. "Lula quer mandar em tudo", reclama. "Jamais confundiria questões pessoais e partidárias com institucionais."
Amigo pessoal de Sarney, com quem conversou esta semana em São Paulo, Perillo acha que o Senado precisa "passar a limpo" todas as denúncias de irregularidades, mas não pode esquecer de definir uma agenda propositiva para o segundo semestre, incluindo temas como reformas tributária e política. "Precisamos sacudir a poeira e olhar para a frente."
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Não é segredo de ninguém no Senado que o presidente Lula não deseja ver sua posse como presidente da Casa no lugar do senador José Sarney pelo fato de o senhor ser da oposição. O que acha disso?
Acho que, infelizmente, o presidente Lula interfere demais. Ele quer mandar em tudo. Deveria cuidar mais de suas funções, que já são tantas e tão nobres, e deixar o Legislativo andar com as próprias pernas. Outro dia, ele participou da posse do novo procurador-geral da República e quis dizer como um procurador deveria trabalhar. Isso não é possível. Temos uma tripartição de Poderes no Brasil e isso precisa ser respeitado.
Entre os governistas, o senhor costuma ser chamado ironicamente de "Marconi Perigo". A eventual posse do senhor representa perigo para o governo?
Eu sou um ser humano. E como todos os seres humanos sou um cara que carrega defeitos e virtudes. Entre as minhas virtudes está a coerência, o que faz com que eu tenha um lado definido. Sou tucano por vocação. Não sou um adesista e não vou me vergar aos cantos da sereia para apoiar um outro lado como alguns fazem. Mas o fato de eu ter um lado definido não significa que seja irresponsável em questões institucionais ou que ameace a governabilidade. Sou vice-presidente da Casa e jamais tratei o Senado de forma indevida. Jamais confundiria questões pessoais e partidárias com institucionais. Só que acho que o Senado precisa ser independente, a despeito de seu presidente ser da base governista ou de oposição.
Alguém do governo já lhe falou abertamente sobre as resistências contra sua eventual posse?
Alguns políticos da base governista vieram me sondar para saber como me comportaria na presidência e se faria uma oposição dura. Mas eu não misturo questões institucionais com partidárias. E também não desejo ascender a posto algum pisando nas pessoas.
Qual é sua avaliação da atual situação do Senado, que passou o primeiro semestre sendo bombardeado pelas descobertas de irregularidades e tem seu presidente denunciado no Conselho de Ética?
Minha avaliação sobre a atual situação do Senado é preocupante por conta das ações que estão sendo propostas e por essas ameaças de retaliação feitas por setores do PMDB. Não gostaria de fulanizar a questão, falando sobre a situação do senador Sarney. Mas, na volta do Senado, os líderes deveriam se reunir para tomar medidas que sirvam para sacudir a poeira. Precisamos passar a limpo a Casa, mas devemos também definir uma agenda propositiva para os trabalhos do Senado. Temos reformas internas importantes para fazer, mas também precisamos discutir outras reformas, como a tributária, que se arrasta há décadas, e a política. Precisamos ter uma visão de futuro para o País. Temos de olhar para a frente. É isso que a sociedade espera do Senado.
Mas é possível sacudir a poeira e olhar para a frente com a permanência do senador Sarney na Presidência?
Precisamos passar a limpo essa página do Senado e precisamos de reformas internas. Mas insisto em que devemos ter uma agenda afirmativa com a discussão de temas importantes para o País. Acredito também que muitas pessoas têm interesse em transformar o Senado num bode expiatório para desviar o foco de outros problemas muito importantes.
Que tipo de problemas?
A CPI da Petrobrás, por exemplo, que é uma investigação importante e não interessa a muita gente.
O senhor conversou com o senador Sarney esta semana?
Nós conversamos em São Paulo, no hospital onde está internada a esposa do senador Sarney (Marly). Visitei também o vice-presidente José Alencar lá. Mas a conversa com o senador Sarney foi apenas sobre a saúde de sua esposa.
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