Brasil, China e Índia serão compelidos a adotar metas de redução das emissões. A China já sabe que não escapará e está fazendo investimentos pesados em conversão energética. A Índia está irredutível: acha que tem o direito de poluir para crescer. No Brasil, a posição diplomática é velha, mas a sociedade está mudando. Um sinal animador é o de as empresas pedirem que o Brasil adote metas.
O “Valor Econômico” publicou reportagem nesta quinta-feira, de Samantha Maia, contando que algumas grandes empresas e associações empresariais estão preparando um documento pedindo que o Brasil adote metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa. Eles acham possível a redução das emissões do setor industrial.
Atenção governo: não vale dizer que o Brasil já tem metas. As anunciadas no Plano Nacional de Mudanças Climáticas não são compulsórias, não são auditáveis, não são comparáveis e não estão sendo cumpridas.
A diplomacia brasileira precisa ouvir os empresários e os segmentos da sociedade que estão dizendo que é urgente o Brasil assumir suas responsabilidades ambientais e se comprometer em reduzir as emissões tanto do setor industrial quanto do desmatamento.
O governo ficou parado nos anos 90, na ideia de que os países emergentes precisam emitir para crescer.
Ela dá aos grandes países emergentes, mesmo que sejam altamente poluentes, o direito de não assumir metas.
Os países de industrialização antiga são os principais responsáveis pelos gases que foram emitidos no passado e nos causam danos agora, mas isso não torna as novas emissões menos nocivas. O animador agora é que a sociedade está se movendo.
Os avanços não são feitos sem conflito e pressão sobre o setor produtivo.
Há três anos, militantes do Greenpeace vestidos de frango na porta do McDonald’s, em Londres, gritaram contra o desmatamento da Amazônia. A Conservação Internacional e a WWF também pressionaram.
Os importadores exigiram explicações aos produtores brasileiros. Foi este o começo do mais bem sucedido acordo entre o setor produtivo brasileiro para a redução do desmatamento da Amazônia. Por causa dele, os grandes esmagadores de soja no Brasil, Cargill, Amaggi, ADM, Bunge, e rede de produtores Amigos da Terra, assumiram compromissos de não comprar de área recentemente desmatada.
Assim nasceu a moratória da soja.
O que aqueles enormes frangos berravam na porta da lanchonete é que eles comiam ração feita com soja plantada em área de desmatamento.
Quem entrava lá e comia um sanduíche de frango era cúmplice do desmatamento.
O primeiro a pedir satisfação foi o próprio McDonald’s à Cargill.
Vieram outros. A negociação acabou sendo referendada pelo governo. Os grandes exportadores de soja puseram o compromisso por escrito e assinaram. Exigência dos consumidores.
Normalmente, os grandes produtores de soja compram de pequenos e médios que invadiram a floresta para produzir. Segundo dados da Conab, a moratória da soja, ou seja, esse compromisso de não comprar de áreas desmatadas, não afetou absolutamente nada a produção de grãos no país. Ela cresceu e as exportações também.
Na área que ela passou a vigorar, caiu a violência, a disputa de terra e a grilagem.
Isso prova o que têm dito os estudiosos do assunto: a disputa de terra, a grilagem e o desmatamento não produzem progresso.
Elevam a violência. A pacificação com a floresta é que nos trará índices maiores de qualidade de vida.
Esta é a ordem do progresso.
Esta semana foi assinada a renovação desse compromisso da soja com o ministro Carlos Minc.
A pressão contra a carne é mais difícil. Boi anda. Há dificuldades técnicas e resistência à rastreabilidade. O BNDES deu um prazo longo demais para os produtores. A pressão contra a carne produzida em área desmatada foi desencadeada pelo relatório do Greenpeace mostrando que a cadeia produtiva da pecuária brasileira vai direto de áreas griladas e desmatadas ao mercado consumidor, passando por grandes frigoríficos. Ao mesmo tempo, o Ministério Público do Pará iniciou ação contra grandes empresas ao fim de longo trabalho de investigação de compra de carne de fazendas embargadas pelo Ibama. O trabalho está no começo. A lavoura arcaica, reunida na CNA, reagiu. Mas os mais inteligentes começam a se preparar para cumprir o que o mercado exige. A pressão vai crescer. Esta semana, a Timberland disse que não compra mais couro da Amazônia, até que provem que não vem de área desmatada recentemente.
A Nike fez a mesma coisa na semana passada.
A fiscalização pública, a vigilância do Ministério Público, essa rede de ONGs, consumidores, empresas modernas estão fazendo o Brasil avançar. Os argumentos velhos têm um bom lugar para ir: para o lixo. Não é nem reciclável. A tese de que o Brasil precisa desmatar para produzir não resiste à menor análise; aquela desculpa esfarrapada de que o governo militar incentivou o desmatamento é ainda mais ridícula: o governo militar acabou há um quarto de século. Estamos falando de crime recente.
No Brasil, o governo avança quando é empurrado pela sociedade. É isso que começa a acontecer.
Com Alvaro Gribel
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