DEU EM O GLOBO
Discursos opostos no palco da ONU
O presidente Barack Obama estreou na Assembleia Geral da ONU com o discurso da cooperação internacional. “Os que costumam criticar os EUA por atuarem sozinhos no mundo não podem agora ficar à margem e deixar que os EUA resolvam os problemas.” Também estreante nesse palco, o líbio Muamar Kadafi atacou a ONU, dizendo que seus princípios foram traídos. Em seu discurso, ao referir-se à crise global, Lula disse que “faliu um insensato modelo de pensamento e de ação, que subjugou o mundo por décadas”. Lula encontrou-se com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Estreias contrastantes na Assembleia Geral
Obama abandona tom unilateral de Bush e desafia o mundo a ajudá-lo
NOVA YORK. A estreia de Barack Obama no palco principal da ONU — diante de mais de cem líderes mundiais — foi marcada por uma sensível mudança no tom da política externa americana.
Em sua primeira participação na Assembleia Geral, Obama conclamou a uma nova era de cooperação internacional. E fez questão de pontuar, diversas vezes, que sua filosofia multilateral se opõe à postura isolada de seu antecessor, George W. Bush. Ao dizer que “os que costumam criticar os EUA por atuarem sozinhos no mundo não podem agora ficar à margem e deixar que os EUA resolvam os problemas do mundo”, o presidente reiterou sua proposta conciliadora com os países da ONU e pediu ajuda diante de desafios como o combate ao terrorismo, a luta contra os programas nucleares de Irã e Coreia do Norte e a guerra do Afeganistão.
— Chegamos a um momento decisivo. Os EUA estão prontos para iniciar um novo capítulo na cooperação internacional, em que se reconheçam os direitos e as responsabilidades de todas as nações — convocou o presidente americano, que muitas vezes foi interrompido por aplausos de líderes de outros países, à exceção do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que se manteve impassível.
Ahmadinejad não mostrou irritação nem quando o assunto foram os controversos programas nucleares de Irã e Coreia do Norte, e o tom conciliador de Obama deu lugar a uma postura firme.
— Em suas ações até agora, os governos da Coreia do Norte e do Irã ameaçam nos levar a um ponto perigoso — advertiu, acrescentando que está comprometido com a diplomacia em relação a tais países, mas, se eles “puserem a pesquisa de armas nucleares à frente da estabilidade regional e da segurança, então terão de prestar contas”.
Um dia após ter se reunido com o primeiroministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, para tentar avançar no processo de paz, Obama declarou também que os EUA “não reconhecem a legitimidade da continuação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia”.
Em muitos momentos, o presidente americano admitiu, ainda, erros de governos anteriores ao seu, inclusive ao dizer que os EUA estavam “recomprometidos com a ONU”, numa clara referência ao isolamento da era Bush.
— Nenhuma nação pode tratar de dominar a outra. Nenhuma ordem mundial que ponha um país ou um grupo acima de outro pode perdurar. A divisão entre Norte e Sul já não faz sentido — disse, sob aplausos, para em seguida causar silêncio na Assembleia Geral ao falar sobre a interferência americana na soberania de países estrangeiros, no passado.
— A democracia não pode ser imposta por nenhuma nação de fora, e no passado os EUA foram com frequência seletivos em relação à democracia.
Isso não enfraquece nosso compromisso, mas o reforça: há princípios básicos que são universais, e os EUA jamais renunciarão ao direito dos povos de decidir seu próprio futuro em qualquer lugar do mundo — acrescentou.
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