Mesmo sem assumir a pré-candidatura à Presidência da República, o governador de São Paulo, José Serra, tornou-se a referência para a disputa presidencial, e a pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem tem recados importantes tanto para ele quanto para o governo.
No cenário com o deputado federal Ciro Gomes disputando pelo PSB, Serra lidera com 31,8%, mas cai do patamar de 40% que vem mantendo nas últimas pesquisas. Isso quer dizer que a disputa polarizada entre ele e a ministra Dilma Rousseff lhe é benéfica.
Mas há outro ponto importante para a definição do eleitorado: a influência negativa que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso exerce sobre o candidato que lhe seja próximo. Nada menos que 49,3% dos pesquisados disseram que não votariam em um candidato apoiado pelo ex-presidente.
Essa avaliação mostra que, até o momento, o presidente Lula está correto em querer que a eleição venha a ser plebiscitária, com uma comparação entre o seu governo e o do ex-presidente, ao mesmo tempo em que o governador de São Paulo está certo ao querer uma confrontação direta entre ele e a ministrachefe da Casa Civil, sem intermediários.
Serra vive dizendo que nem Lula nem Fernando Henrique são candidatos, e não se lança justamente para evitar ser um alvo direto do presidente Lula, querendo esperar março para, então, se confrontar com Dilma, e não com Lula.
Mas essa demora para decidir quem será seu candidato está claramente prejudicando o PSDB que, embora liderando as pesquisas, vem perdendo espaço político para o governo.
É evidente que dizer, como fez o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, que o governador paulista perdeu cerca de 15 pontos percentuais em um ano é erro estatístico, além de uma avaliação política equivocada.
Quando confrontado apenas com Dilma e a provável candidata do Partido Verde, senadora Marina Silva, o governador José Serra mantém os mesmos 40,8% que tinha em setembro, enquanto Dilma varia pouco acima da margem de erro, com 23,5% (tinha 19,9% em setembro) e a senadora Marina Silva cai para 8,1% (tinha 9,5% em setembro).
Não há na série histórica das pesquisas CNT/Sensus nenhum cenário anterior com apenas os três candidatos, e nem outra com os quatro, incluindo Ciro Gomes.
Portanto, as comparações são indevidas. No cenário polarizado, o governador José Serra continua ganhando no primeiro turno.
O potencial candidato do PSB, Ciro Gomes, se sai bem na pesquisa, mostrando sua força eleitoral, chegando a ficar na frente no cenário em que Aécio Neves é o candidato do PSDB.
Quando ele surge na lista juntamente com Dilma Rousseff, não apenas fica quase em empate técnico com ela — 21,7% para Dilma contra 17,5% para Ciro — como tira votos de Serra, que cai para um patamar de 30%.
Esses números reforçam sua tese de que ter dois candidatos da base governista é a melhor tática para combater a candidatura tucana.
Além do mais, o deputado Ciro Gomes conseguiu uma proeza: sua rejeição junto ao eleitorado recuou nada menos que 15 pontos percentuais, passando a ser um dos menos rejeitados pelo eleitor: de 39,9% dos eleitores em setembro, para 25,3% na nova rodada da CNT/Sensus, ficando atrás apenas de Aécio Neves, que agora tem 22,8%.
Por incrível que possa parecer, Ciro hoje é menos rejeitado do que Serra e Dilma, os dois favoritos, o que mostra que ele é um candidato competitivo quando controla seu temperamento.
O governador Aécio Neves, se continua não sendo individualmente um candidato competitivo, ficando em terceiro lugar quando aparece como o nome tucano, mostra que pode fortalecer uma chapa.
Mas a situação dele é ambígua: quando aparece como vice da chapa de Serra, cenário que era o dos sonhos para os tucanos, mas que ele rejeita formalmente, a chapa do PSDB cresce para 35,8%.
Mas quando aparece na cabeça de chapa, com Ciro Gomes como vice, a dupla recebe 32,4% dos votos, vencendo a chapa Dilma/Temer.
O recente encontro dos dois em Belo Horizonte suscitou uma série de especulações e criou um clima de mal-estar entre os tucanos.
Os números dessa pesquisa podem voltar a criar um clima de tensão partidária dentro do PSDB.
Nada indica, no entanto, que essa dobradinha PSDB/PSB possa se tornar realidade, menos pelo fato de o PSB ser da base governista do que pelas divergências profundas que existem entre o deputado e o grupo paulista do PSDB que comanda o partido, especialmente o ex-presidente Fernando Henrique e o governador José Serra.
Além do mais, se o governador de Minas, em uma chapa puro-sangue tucana, ajuda a consolidar a vantagem do PSDB, não há lógica em tentar fazer uma revolução interna no seu partido para tentar viabilizar uma composição política polêmica dentro do partido.
A favor da tese de Aécio Neves de que a candidatura deveria ser “pós-Lula” e não “anti-Lula”, estão os números da popularidade do presidente da República e sua capacidade de transferir votos para sua candidata, cujo limite é até agora uma incógnita.
O fato é que Dilma Rousseff cresceu bastante no último ano, mas não o suficiente.
Ela atingiu o patamar de 20% que, não por coincidência, é o mesmo índice dos que dizem que votariam no candidato indicado por Lula, e também o índice estimado de apoio do PT entre os eleitores.
A partir daí, ela teria que demonstrar ter vida própria como política, o que até agora não aconteceu. Será preciso verificar se o presidente Lula terá êxito na tarefa de ampliar o eleitorado de Dilma. Há um conjunto de eleitores que se dispõe a votar num candidato apoiado por Lula, mas quer conhece-lo (a) melhor. É aí que está o desafio.
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