DEU EM O GLOBO
Depois do fracasso de ministros e diplomatas, que não chegaram a um consenso após 11 dias de intensas discussões, líderes mundiais passaram a madrugada reunidos, em busca, até o último instante, de um plano de combate às mudanças climáticas. Ontem, Brasil e China acertaram uma posição comum para pressionar os países ricos a aceitar um acordo com poder de lei. Em troca, permitiriam inspeções dos cortes de emissões financiados pela comunidade internacional. Brasil e França convocaram os 25 maiores emissores para fechar um acordo, que precisa ser assinado ainda hoje.
Uma noite para salvar o mundo
Reunião de emergência entre líderes de 25 países tenta evitar fracasso da convenção
Chico de Gois, Deborah Berlinck e Roberta Jansen
Enviados especiais COPENHAGUE
Uma reunião de emergência entre chefes de Estado e governo de 25 economias ricas e emergentes foi convocada na noite de ontem para tentar salvar a Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas do que parecia ser um retumbante fracasso. A reunião foi costurada pelos presidentes Nicolas Sarkozy, da França, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil. Sarkozy propôs, com a adesão de Lula, que, após um jantar oferecido pela rainha Margaret II, os líderes mundiais se reunissem para buscar um consenso.
No início da madrugada de hoje, negociadores que participaram da reunião afirmaram que os países estariam muito perto de firmar um documento com força de lei. No encontro, foram discutidos os principais pontos do acordo climático — limite de aumento de temperatura, metas de redução de emissões, financiamento — que, mesmo depois de duas semanas de negociação, permaneciam em aberto antes do início oficial da reunião dos chefes de estado.
Após a reunião, ao chegar ao hotel onde está hospedado, Lula demonstrou bom humor: — Estou rindo para não chorar — disse, quando perguntado se tudo tinha corrido bem. — Estamos conversando (nas negociações) — completou o presidente.
Brasil e China fecham posição por metas legais
A reunião entre os líderes mundiais estava marcada, originalmente, para hoje, a partir das 9h, no Bella Center, inclusive com a presença do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que chega nesta manhã a Copenhague.
Obama já marcou uma reunião hoje com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao.
EUA e China são os dois maiores emissores de gases do efeito estufa e o encontro pode dar impulso a um acordo. Segundo informações da Casa Branca, Obama também teria uma reunião bilateral com o presidente Lula.
Lula e Sarkozy costuraram a reunião de emergência para antes da chegada do presidente americano por entenderem que, se deixassem para hoje o início das negociações, não haveria tempo hábil para concluir um acordo. Eles conversaram com o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, e com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merckel, para marcar o encontro. Lula admitiu que, até anteontem à noite, havia um grande pessimismo. Nas três conversas bilaterais que manteve, incluindo o telefonema trocado com Obama, Lula ouviu apelos para que o Brasil ajudasse a concluir as negociações.
— Seria imperdoável para a Humanidade se jogássemos fora (a conferência de) Copenhague — disse Lula. — Se não tivermos como reunir os líderes e tomar decisão, corremos o risco de sermos fotografados como os líderes que foram incompetentes para cuidar do clima.
Sarkozy minimizou o fato de Obama não estar presente na reunião da noite de ontem: — Ontem, Lula falou com Obama, e eu também falei. Conhecemos bem suas posições e sabemos em que pontos podemos solicitar maior esforço dos Estados Unidos.
Durante o dia, a secretária de Estado americana Hillary Clinton anunciou que os EUA iriam participar de um fundo de US$ 100 bilhões por ano até 2020 para ajudar os países pobres a lidar com o aquecimento global. Foi a primeira vez que os americanos mencionaram uma cifra para financiamento a longo prazo. Porém, além de anunciar uma quantia considerada pequena — os países em desenvolvimento pedem US$ 350 bilhões anuais — Hillary não especificou qual seria a participação americana no fundo.
E, ainda, a secretária dos EUA afirmou que a oferta teria como condição que o acordo em Copenhague tivesse “transparência”. Foi uma menção à insistência americana para que os países em desenvolvimento aceitem verificação internacional de suas ações contra o aquecimento global, o que encontra resistência em China, Brasil e outros grandes emergentes.
O vice-ministro das Relações Exteriores da China, He Yafei, afirmou que o anúncio dos americanos era um “bom primeiro passo”.
Em Pequim, autoridades do governo chinês afirmaram que o país estava disposto a “dialogar e cooperar” sobre suas emissões “desde que não houvesse intromissão na soberania chinesa”.
China e Brasil fecharam posição ontem, ao lado de Índia e África do Sul, para pressionarem os países ricos a assinarem, em Copenhague, um acordo legalmente vinculante — ou seja, um documento que, a exemplo do Protocolo de Kioto, tenha força de lei para seus signatários. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, reuniu-se com Lula pela manhã.
Segundo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, chefe da delegação brasileira, China e Brasil concordam que é preciso ter “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, ou seja, que cabe aos ricos um esforço maior. Mas Dilma disse também que isso vai se expressar em “ações concretas dos países em desenvolvimento”. Segundo a ministra, China e Brasil concordaram em aceitar, em suas ações de combate ao aquecimento global que têm apoio internacional, o monitoramento externo — através de metas mensuráveis, reportáveis e verificáveis:
Depois do fracasso de ministros e diplomatas, que não chegaram a um consenso após 11 dias de intensas discussões, líderes mundiais passaram a madrugada reunidos, em busca, até o último instante, de um plano de combate às mudanças climáticas. Ontem, Brasil e China acertaram uma posição comum para pressionar os países ricos a aceitar um acordo com poder de lei. Em troca, permitiriam inspeções dos cortes de emissões financiados pela comunidade internacional. Brasil e França convocaram os 25 maiores emissores para fechar um acordo, que precisa ser assinado ainda hoje.
Uma noite para salvar o mundo
Reunião de emergência entre líderes de 25 países tenta evitar fracasso da convenção
Chico de Gois, Deborah Berlinck e Roberta Jansen
Enviados especiais COPENHAGUE
Uma reunião de emergência entre chefes de Estado e governo de 25 economias ricas e emergentes foi convocada na noite de ontem para tentar salvar a Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas do que parecia ser um retumbante fracasso. A reunião foi costurada pelos presidentes Nicolas Sarkozy, da França, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil. Sarkozy propôs, com a adesão de Lula, que, após um jantar oferecido pela rainha Margaret II, os líderes mundiais se reunissem para buscar um consenso.
No início da madrugada de hoje, negociadores que participaram da reunião afirmaram que os países estariam muito perto de firmar um documento com força de lei. No encontro, foram discutidos os principais pontos do acordo climático — limite de aumento de temperatura, metas de redução de emissões, financiamento — que, mesmo depois de duas semanas de negociação, permaneciam em aberto antes do início oficial da reunião dos chefes de estado.
Após a reunião, ao chegar ao hotel onde está hospedado, Lula demonstrou bom humor: — Estou rindo para não chorar — disse, quando perguntado se tudo tinha corrido bem. — Estamos conversando (nas negociações) — completou o presidente.
Brasil e China fecham posição por metas legais
A reunião entre os líderes mundiais estava marcada, originalmente, para hoje, a partir das 9h, no Bella Center, inclusive com a presença do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que chega nesta manhã a Copenhague.
Obama já marcou uma reunião hoje com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao.
EUA e China são os dois maiores emissores de gases do efeito estufa e o encontro pode dar impulso a um acordo. Segundo informações da Casa Branca, Obama também teria uma reunião bilateral com o presidente Lula.
Lula e Sarkozy costuraram a reunião de emergência para antes da chegada do presidente americano por entenderem que, se deixassem para hoje o início das negociações, não haveria tempo hábil para concluir um acordo. Eles conversaram com o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, e com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merckel, para marcar o encontro. Lula admitiu que, até anteontem à noite, havia um grande pessimismo. Nas três conversas bilaterais que manteve, incluindo o telefonema trocado com Obama, Lula ouviu apelos para que o Brasil ajudasse a concluir as negociações.
— Seria imperdoável para a Humanidade se jogássemos fora (a conferência de) Copenhague — disse Lula. — Se não tivermos como reunir os líderes e tomar decisão, corremos o risco de sermos fotografados como os líderes que foram incompetentes para cuidar do clima.
Sarkozy minimizou o fato de Obama não estar presente na reunião da noite de ontem: — Ontem, Lula falou com Obama, e eu também falei. Conhecemos bem suas posições e sabemos em que pontos podemos solicitar maior esforço dos Estados Unidos.
Durante o dia, a secretária de Estado americana Hillary Clinton anunciou que os EUA iriam participar de um fundo de US$ 100 bilhões por ano até 2020 para ajudar os países pobres a lidar com o aquecimento global. Foi a primeira vez que os americanos mencionaram uma cifra para financiamento a longo prazo. Porém, além de anunciar uma quantia considerada pequena — os países em desenvolvimento pedem US$ 350 bilhões anuais — Hillary não especificou qual seria a participação americana no fundo.
E, ainda, a secretária dos EUA afirmou que a oferta teria como condição que o acordo em Copenhague tivesse “transparência”. Foi uma menção à insistência americana para que os países em desenvolvimento aceitem verificação internacional de suas ações contra o aquecimento global, o que encontra resistência em China, Brasil e outros grandes emergentes.
O vice-ministro das Relações Exteriores da China, He Yafei, afirmou que o anúncio dos americanos era um “bom primeiro passo”.
Em Pequim, autoridades do governo chinês afirmaram que o país estava disposto a “dialogar e cooperar” sobre suas emissões “desde que não houvesse intromissão na soberania chinesa”.
China e Brasil fecharam posição ontem, ao lado de Índia e África do Sul, para pressionarem os países ricos a assinarem, em Copenhague, um acordo legalmente vinculante — ou seja, um documento que, a exemplo do Protocolo de Kioto, tenha força de lei para seus signatários. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, reuniu-se com Lula pela manhã.
Segundo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, chefe da delegação brasileira, China e Brasil concordam que é preciso ter “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, ou seja, que cabe aos ricos um esforço maior. Mas Dilma disse também que isso vai se expressar em “ações concretas dos países em desenvolvimento”. Segundo a ministra, China e Brasil concordaram em aceitar, em suas ações de combate ao aquecimento global que têm apoio internacional, o monitoramento externo — através de metas mensuráveis, reportáveis e verificáveis:
— Defendemos que, com base em critérios definidos internacionalmente, se façam monitoramentos e relatórios em níveis nacionais, e que esses documentos sejam encaminhados, por exemplo, a um painel intergovernamental de mudanças de clima da ONU.
Solução, agora, terá que ser política
Otimista com os avanços que poderia obter na reunião de ontem à noite, Lula disse acreditar que esperava chegar a um consenso possível.
Sarkozy, por sua vez, foi duro sobre a possibilidade de fracasso da conferência: — Quem quer o fracasso que o assuma.
Nós não vamos nos associar a eles.
De fato, se existe qualquer possibilidade de sucesso na reunião de Copenhague, ela está, agora, nas mãos dos chefes de Estado.
— Não sei que saída vão dar, mas, a essa altura, terá que ser política — afirmou a diretora de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Branca Americano.
Solução, agora, terá que ser política
Otimista com os avanços que poderia obter na reunião de ontem à noite, Lula disse acreditar que esperava chegar a um consenso possível.
Sarkozy, por sua vez, foi duro sobre a possibilidade de fracasso da conferência: — Quem quer o fracasso que o assuma.
Nós não vamos nos associar a eles.
De fato, se existe qualquer possibilidade de sucesso na reunião de Copenhague, ela está, agora, nas mãos dos chefes de Estado.
— Não sei que saída vão dar, mas, a essa altura, terá que ser política — afirmou a diretora de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Branca Americano.
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