DEU NO VALOR ECONÔMICO
Caiu o palanque do PSDB em Brasília. A desgraça do governador José Roberto Arruda terá repercussão na aliança tucano-demista para 2010. Mas nem José Serra, nem Aécio Neves, um dos dois o candidato da oposição à sucessão de Lula, acreditam que ela terá influência na eleição presidencial, daqui a dez meses. Desde que PSDB e DEM saibam reagir com presteza à crise que se instalou no território da oposição.
As notícias que chegam de trás das linhas tucano-pefelistas, no entanto, não parecem muito animadoras. Ainda não caiu a ficha do governador José Roberto Arruda, pilhado no comando de um suposto esquema de de pagamento a deputados aliados e bolsos afins. O governador resiste à ideia de renunciar ao mandato para não perder o foro privilegiado de julgamento, o STJ.
Arruda teve uma segunda oportunidade e a deixou escapar entre os dedos. É um boxeador nocauteado em pé. Inexplicável é a divisão do Democratas. Os líderes do DEM no Congresso, acostumados ao calor do dia a dia dos embates parlamentares, querem a expulsão sumária de Arruda do partido. O presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ), ainda resistia à ideia, embora tivesse claro em mente que seria atropelado pelos fatos.
Sete em cada oito demistas ouvidos por Rodrigo Maia, inclusive experimentados deputados e comunicólogos que trabalharam para o partido estavam horrorizados com o que pensavam ter visto: a imagem de Arruda recebendo dinheiro, refestelado num sofá residência oficial de Águas Claras.
Só que a imagem não é de Águas Claras e nem Arruda era então governador. Era candidato. O problema é que o tempo político é diferente do tempo legal, e por mais que tentasse se apegar a esse argumento, Rodrigo Maia já entrou na reunião de ontem do DEM com Arruda sabendo que não tinha como sustentar essa posição.
Gilberto Kassab, líder efetivo em ascensão no Democratas por sua vitoriosa campanha à prefeitura da maior cidade do país, desde o início não teve ilusões sobre o desfecho político do episódio: caíra o palanque presidencial de Brasília e não havia mais como se manter Arruda no Democratas. Para a campanha de 2010 será preciso criar uma outra opção.
Nos bastidores, Kassab dizia ontem que as denúncias eram graves, preocupantes e "consistentes". Mas no oficial recomendava cautela - "aguardar e pedir que as sindicâncias da área de segurança sejam as mais rápidas possíveis para, caso confirmadas, tenhamos punições exemplares para o sujeito".
O problema é que não haverá sindicância nem julgamentos rápidos e o tempo político exige do DEM algo mais que evasivas. E Kassab sabe disso. O prefeito de São Paulo é hoje o político do DEM em condições de tentar colar os cacos demistas.
A velha guarda ou está sem mandato, caso de Jorge Bornhausen, o ideólogo da mudança de geração na guarda partidária, ou em dificuldades para se reeleger, como o senador Marco Maciel (PE), que ao longo dos anos controlou o partido junto com Antonio Carlos Magalhães.
O DEM está numa encruzilhada. Defenestrado do poder em 2002 com a chegada do PT ao Palácio do Planalto, o partido tentou um passo grande demais para suas pernas, ao buscar guarida nos grandes centros urbanos, quando sua natureza era a dos grotões. Ganhou São Paulo, numa circunstância especial de aliança vitoriosa com José Serra, mas perdeu o Rio; nos Estados, ficou circunscrito ao Distrito Federal.
Expressões nacionais do partido foram abrigadas no governo, seja em cargos efetivos, seja na condição de consultores.
O "mensalão do DEM" é a mais grave crise da nova geração de dirigentes demistas. Não é a única, como demonstra a trajetória do partido, desde 1998. O ano da reeleição de Fernando Henrique Cardoso foi o apogeu do Democratas, então PFL, a frente que se formou de uma dissidência do PDS (ex-Arena) para compor com Tancredo Neves na transição democrática.
Naquele ano, elegeu 105 deputados. Na eleição de 2002, apesar da "onda vermelha", ainda mandou 84 representantes para a Câmara, mas só 75 tomaram posse. Em 2006 elegeu 65, e perdeu três até a posse. As comportas só não se abriram de vez e o DEM escapou da ação predatória dos outros partidos por causa da interpretação da Justiça Eleitoral sobre a fidelidade, pela qual os mandatos pertencem aos partidos e não ao deputado.
O PSDB convocou uma reunião da Executiva Nacional para hoje, depois que o DEM tomar sua decisão. Discretamente, fez pressão pela saída de Arruda. Os tucanos avaliam que uma decisão rápida e exemplar pode dar uma desculpa a ser dada aos eleitores em 2010. Mas também sabem que o PT tem agora em mãos uma imagem poderosa, a mesma montanha de dinheiro que fez desandar a candidatura presidencial da atual governadora do Maranhão, Roseana Sarney, então no PFL, em 2002
O colégio eleitoral do Distrito Federal - Brasília e as cidades que a circundam - é pequeno, com pouco mais de 1,6 milhão de eleitores. Mas é importante não só por se tratar da capital política e administrativa do país, como também pelo suporte estrutural que poderia fornecer ao candidato presidencial da oposição e dos aliados nos Estados. A fonte secou.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
Caiu o palanque do PSDB em Brasília. A desgraça do governador José Roberto Arruda terá repercussão na aliança tucano-demista para 2010. Mas nem José Serra, nem Aécio Neves, um dos dois o candidato da oposição à sucessão de Lula, acreditam que ela terá influência na eleição presidencial, daqui a dez meses. Desde que PSDB e DEM saibam reagir com presteza à crise que se instalou no território da oposição.
As notícias que chegam de trás das linhas tucano-pefelistas, no entanto, não parecem muito animadoras. Ainda não caiu a ficha do governador José Roberto Arruda, pilhado no comando de um suposto esquema de de pagamento a deputados aliados e bolsos afins. O governador resiste à ideia de renunciar ao mandato para não perder o foro privilegiado de julgamento, o STJ.
Arruda teve uma segunda oportunidade e a deixou escapar entre os dedos. É um boxeador nocauteado em pé. Inexplicável é a divisão do Democratas. Os líderes do DEM no Congresso, acostumados ao calor do dia a dia dos embates parlamentares, querem a expulsão sumária de Arruda do partido. O presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ), ainda resistia à ideia, embora tivesse claro em mente que seria atropelado pelos fatos.
Sete em cada oito demistas ouvidos por Rodrigo Maia, inclusive experimentados deputados e comunicólogos que trabalharam para o partido estavam horrorizados com o que pensavam ter visto: a imagem de Arruda recebendo dinheiro, refestelado num sofá residência oficial de Águas Claras.
Só que a imagem não é de Águas Claras e nem Arruda era então governador. Era candidato. O problema é que o tempo político é diferente do tempo legal, e por mais que tentasse se apegar a esse argumento, Rodrigo Maia já entrou na reunião de ontem do DEM com Arruda sabendo que não tinha como sustentar essa posição.
Gilberto Kassab, líder efetivo em ascensão no Democratas por sua vitoriosa campanha à prefeitura da maior cidade do país, desde o início não teve ilusões sobre o desfecho político do episódio: caíra o palanque presidencial de Brasília e não havia mais como se manter Arruda no Democratas. Para a campanha de 2010 será preciso criar uma outra opção.
Nos bastidores, Kassab dizia ontem que as denúncias eram graves, preocupantes e "consistentes". Mas no oficial recomendava cautela - "aguardar e pedir que as sindicâncias da área de segurança sejam as mais rápidas possíveis para, caso confirmadas, tenhamos punições exemplares para o sujeito".
O problema é que não haverá sindicância nem julgamentos rápidos e o tempo político exige do DEM algo mais que evasivas. E Kassab sabe disso. O prefeito de São Paulo é hoje o político do DEM em condições de tentar colar os cacos demistas.
A velha guarda ou está sem mandato, caso de Jorge Bornhausen, o ideólogo da mudança de geração na guarda partidária, ou em dificuldades para se reeleger, como o senador Marco Maciel (PE), que ao longo dos anos controlou o partido junto com Antonio Carlos Magalhães.
O DEM está numa encruzilhada. Defenestrado do poder em 2002 com a chegada do PT ao Palácio do Planalto, o partido tentou um passo grande demais para suas pernas, ao buscar guarida nos grandes centros urbanos, quando sua natureza era a dos grotões. Ganhou São Paulo, numa circunstância especial de aliança vitoriosa com José Serra, mas perdeu o Rio; nos Estados, ficou circunscrito ao Distrito Federal.
Expressões nacionais do partido foram abrigadas no governo, seja em cargos efetivos, seja na condição de consultores.
O "mensalão do DEM" é a mais grave crise da nova geração de dirigentes demistas. Não é a única, como demonstra a trajetória do partido, desde 1998. O ano da reeleição de Fernando Henrique Cardoso foi o apogeu do Democratas, então PFL, a frente que se formou de uma dissidência do PDS (ex-Arena) para compor com Tancredo Neves na transição democrática.
Naquele ano, elegeu 105 deputados. Na eleição de 2002, apesar da "onda vermelha", ainda mandou 84 representantes para a Câmara, mas só 75 tomaram posse. Em 2006 elegeu 65, e perdeu três até a posse. As comportas só não se abriram de vez e o DEM escapou da ação predatória dos outros partidos por causa da interpretação da Justiça Eleitoral sobre a fidelidade, pela qual os mandatos pertencem aos partidos e não ao deputado.
O PSDB convocou uma reunião da Executiva Nacional para hoje, depois que o DEM tomar sua decisão. Discretamente, fez pressão pela saída de Arruda. Os tucanos avaliam que uma decisão rápida e exemplar pode dar uma desculpa a ser dada aos eleitores em 2010. Mas também sabem que o PT tem agora em mãos uma imagem poderosa, a mesma montanha de dinheiro que fez desandar a candidatura presidencial da atual governadora do Maranhão, Roseana Sarney, então no PFL, em 2002
O colégio eleitoral do Distrito Federal - Brasília e as cidades que a circundam - é pequeno, com pouco mais de 1,6 milhão de eleitores. Mas é importante não só por se tratar da capital política e administrativa do país, como também pelo suporte estrutural que poderia fornecer ao candidato presidencial da oposição e dos aliados nos Estados. A fonte secou.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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