DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
"Se tiver filme é o fim", dizia o líder do DEM no Senado, Agripino Maia, no fim da tarde de sexta-feira quando Brasília se alvoroçava sem ainda distinguir o que era verdade ou boato no forrobodó que acabava de explodir na capital do País: o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, pela segunda vez em oito anos era protagonista de um escândalo.
E não só há filme, como as imagens exibidas são as mais impressionantes já vistas em matéria de flagrante de corrupção num caso em que, se dúvida houver, é se existe alguém direta ou indiretamente ligado ao governo que esteja fora do esquema.
Na sexta-feira, a capital federal caiu de podre. Governador, vice-governador, presidente da Câmara Legislativa, deputados, secretários de Estado, empresários, jornalistas, presidentes de estatais, administradores regionais e sabe-se lá mais quantos integrantes de instâncias de decisão, sem cuja colaboração os crimes não poderiam ter sido cometidos com tanta desenvoltura, fazem parte de uma quadrilha de assaltantes do dinheiro público.
Nunca se viu nada parecido. Um escândalo que não se resolve com o impeachment do governador. Não só Arruda está impedido de continuar à frente do governo do Distrito Federal. Seu vice, Paulo Otávio, não pode suceder-lhe porque tinha um homem da mala preta encarregado de transportar a sua parte. O presidente da Câmara Legislativa tampouco: foi filmado enfiando dinheiro nas meias, nas calças e nos bolsos do paletó.
O denunciante, Durval Barbosa, centralizava a distribuição no próprio gabinete de trabalho e, não obstante carregasse dezenas de processos nas costas e integrasse a turma do antecessor Joaquim Roriz, de estripulias conhecidas na área - a mais vistosa, a partilha de R$ 2,2 milhões com Nenê Constantino, o levou à perda do mandato de senador - foi nomeado secretário de Relações Institucionais.
Fazia tudo institucionalmente, na hora do expediente, sem grandes mistérios e nenhuma cerimônia. Deputada até então das mais respeitadas como educadora, Eurides Brito entra na sala cheia de pressa e muita prática: pergunta por Durval e 19 segundos depois já enche a bolsa com maços de dinheiro. O deputado Júnior Brunelli leva 14 segundos.
Rápidos e rasteiros.
Três dias depois de conhecidos os fatos a partir da operação da Polícia Federal na busca e apreensão de documentos, Arruda estava "pronto" ontem para dar explicações ao seu partido, o DEM.
A ala mais jovem e antes interessada em fazer de Arruda o vice na chapa presidencial do PSDB dava um crédito de confiança. Sem dizer baseada no quê exatamente.
O grupo mais experiente - escaldado de outros carnavais e imagens de dinheiros que lhes dizimaram uma candidatura presidencial - não queria nem conversa. Convidado a se retirar do PSDB em 2001, Arruda, no que dependesse deles, seria agora convocado a fazer o mesmo.
Como sempre, os mais velhos têm razão. O episódio presente nem pode ser comparado aos tradicionais mensalões.
É muito pior. Não se limita a financiamento ilegal de campanha ou pagamento à base aliada: é corrupção explícita e generalizada.
Segunda chance
José Roberto Arruda jogou no lixo o perdão que recebeu em 2002 do eleitorado que o elegeu deputado federal, permitindo sua sobrevivência na política depois de ter sido pego no delito de violação do painel de votação do Senado.
Ali estava delineado um caráter. O desdobramento foi uma variação sobre o mesmo tema.
Marca registrada
Assim como o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, orientou o presidente Luiz Inácio da Silva a assumir a versão do caixa 2 de campanha para justificar o mensalão petista, o advogado de José Roberto Arruda aconselhou seu cliente a tentar transformar a rapinagem brasiliense em crime eleitoral.
Rende penas brandas e antigamente se rendia ao fato consumado - a eleição do infrator. Agora tem produzido cassações, embora tardias e contestadas pelos defensores do "voto do eleitor".
O abuso da máquina pública na eleição antecipa quais serão as bases de atuação do candidato quando governante.
O preço
O risco que se corre com a realização de uma obra - filme, livro, peça, vídeo -, assumidamente para fazer de um homem um mito, é acabar despertando o descontentamento de testemunhas de versões menos edulcoradas da mesma história.
Como César Benjamin e Paulo Vidal - o antecessor de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos - vão aparecer outras pessoas que conviveram com Lula o homem normal, não com o herói sem defeitos da fábula assinada pela família Barreto.
Um Lula mais próximo da realidade é mostrado no documentário Entreatos, de João Moreira Salles, que vale de novo conferir.
"Se tiver filme é o fim", dizia o líder do DEM no Senado, Agripino Maia, no fim da tarde de sexta-feira quando Brasília se alvoroçava sem ainda distinguir o que era verdade ou boato no forrobodó que acabava de explodir na capital do País: o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, pela segunda vez em oito anos era protagonista de um escândalo.
E não só há filme, como as imagens exibidas são as mais impressionantes já vistas em matéria de flagrante de corrupção num caso em que, se dúvida houver, é se existe alguém direta ou indiretamente ligado ao governo que esteja fora do esquema.
Na sexta-feira, a capital federal caiu de podre. Governador, vice-governador, presidente da Câmara Legislativa, deputados, secretários de Estado, empresários, jornalistas, presidentes de estatais, administradores regionais e sabe-se lá mais quantos integrantes de instâncias de decisão, sem cuja colaboração os crimes não poderiam ter sido cometidos com tanta desenvoltura, fazem parte de uma quadrilha de assaltantes do dinheiro público.
Nunca se viu nada parecido. Um escândalo que não se resolve com o impeachment do governador. Não só Arruda está impedido de continuar à frente do governo do Distrito Federal. Seu vice, Paulo Otávio, não pode suceder-lhe porque tinha um homem da mala preta encarregado de transportar a sua parte. O presidente da Câmara Legislativa tampouco: foi filmado enfiando dinheiro nas meias, nas calças e nos bolsos do paletó.
O denunciante, Durval Barbosa, centralizava a distribuição no próprio gabinete de trabalho e, não obstante carregasse dezenas de processos nas costas e integrasse a turma do antecessor Joaquim Roriz, de estripulias conhecidas na área - a mais vistosa, a partilha de R$ 2,2 milhões com Nenê Constantino, o levou à perda do mandato de senador - foi nomeado secretário de Relações Institucionais.
Fazia tudo institucionalmente, na hora do expediente, sem grandes mistérios e nenhuma cerimônia. Deputada até então das mais respeitadas como educadora, Eurides Brito entra na sala cheia de pressa e muita prática: pergunta por Durval e 19 segundos depois já enche a bolsa com maços de dinheiro. O deputado Júnior Brunelli leva 14 segundos.
Rápidos e rasteiros.
Três dias depois de conhecidos os fatos a partir da operação da Polícia Federal na busca e apreensão de documentos, Arruda estava "pronto" ontem para dar explicações ao seu partido, o DEM.
A ala mais jovem e antes interessada em fazer de Arruda o vice na chapa presidencial do PSDB dava um crédito de confiança. Sem dizer baseada no quê exatamente.
O grupo mais experiente - escaldado de outros carnavais e imagens de dinheiros que lhes dizimaram uma candidatura presidencial - não queria nem conversa. Convidado a se retirar do PSDB em 2001, Arruda, no que dependesse deles, seria agora convocado a fazer o mesmo.
Como sempre, os mais velhos têm razão. O episódio presente nem pode ser comparado aos tradicionais mensalões.
É muito pior. Não se limita a financiamento ilegal de campanha ou pagamento à base aliada: é corrupção explícita e generalizada.
Segunda chance
José Roberto Arruda jogou no lixo o perdão que recebeu em 2002 do eleitorado que o elegeu deputado federal, permitindo sua sobrevivência na política depois de ter sido pego no delito de violação do painel de votação do Senado.
Ali estava delineado um caráter. O desdobramento foi uma variação sobre o mesmo tema.
Marca registrada
Assim como o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, orientou o presidente Luiz Inácio da Silva a assumir a versão do caixa 2 de campanha para justificar o mensalão petista, o advogado de José Roberto Arruda aconselhou seu cliente a tentar transformar a rapinagem brasiliense em crime eleitoral.
Rende penas brandas e antigamente se rendia ao fato consumado - a eleição do infrator. Agora tem produzido cassações, embora tardias e contestadas pelos defensores do "voto do eleitor".
O abuso da máquina pública na eleição antecipa quais serão as bases de atuação do candidato quando governante.
O preço
O risco que se corre com a realização de uma obra - filme, livro, peça, vídeo -, assumidamente para fazer de um homem um mito, é acabar despertando o descontentamento de testemunhas de versões menos edulcoradas da mesma história.
Como César Benjamin e Paulo Vidal - o antecessor de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos - vão aparecer outras pessoas que conviveram com Lula o homem normal, não com o herói sem defeitos da fábula assinada pela família Barreto.
Um Lula mais próximo da realidade é mostrado no documentário Entreatos, de João Moreira Salles, que vale de novo conferir.
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