DEU EM O GLOBO
As cenas são demolidoras da confiança de qualquer pessoa na política. O país se espanta, depois de achar que nada mais o espantaria. Não que se pudesse dar crédito aos protestos éticos do Democratas, mas as imagens do que houve em Brasília superaram as piores expectativas. Agora, cada partido tem seu escândalo. Existe o mensalão do PT, o do PSDB e o do DEM. São todos, tristemente, iguais.
Tão iguais que já se pode dizer que existe uma tecnologia conhecida, causas identificadas e um caminho previsível da corrupção no Brasil. Se há um padrão, pode-se ter uma metodologia de combate ao crime.
— Nos três mensalões, o dinheiro ilegal foi alimentado por empresas fornecedoras do governo ou de estatais, o que foi possível pela falta de transparência nos contratos. O remédio é aumentar o acesso da sociedade às informações — diz o jornalista Fabiano Angélico, diretor de projetos da Transparência Brasil.
Claudio Weber Abramo, que falou ontem aqui no jornal na campanha “São dois gritando”, acha que uma das causas já identificadas dos desvios é o excesso de cargos em comissão e a ocupação da máquina pública por estes nomeados, ainda que não haja garantia de que isso não ocorra com funcionário de carreira.
Fabiano Angélico explicou que no Brasil o número dos cargos que o presidente pode distribuir é desproporcional ao que acontece em outros países: — O presidente americano nomeia pessoas para novecentos cargos. No Brasil, o presidente nomeia mais de sessenta mil cargos. É uma verdadeira usina de corrupção.
Nos Estados Unidos, a pessoa indicada é investigada antes de ser confirmada.
Na montagem do governo Obama houve casos de pessoas que não puderam ser nomeadas por dúvidas quanto ao seu passado.
Na opinião de Fabiano Angélico, o país precisaria de mais ONGs especializadas em combate à corrupção, e a imprensa deveria tratar menos da briga política e mais de como combater o crime.
O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que em toda eleição há risco de caixa dois, porque isso é “inerente ao modelo” de financiamento eleitoral.
O argumento é que se houver financiamento público exclusivo de campanha isso não acontecerá. O financiamento público exclusivo não garante nada. O que poderia ajudar seria o incentivo do governo às doações de pequena quantia por pessoas — como existe na Costa Rica — o que aumentaria a relação do eleitorado com o partido, e deixaria os partidos mais independentes em relação às empresas.
Um erro que está ocorrendo é a naturalização do caixa dois, como se fosse um crime menor. Ao garantir que não houve pagamentos mensais à base para votar com o governo, José Eduardo Dutra disse ao “Estado de S.Paulo”: “O fato da existência do caixa dois é notório e comprovado.” O atual escândalo é mais corrosivo porque é possível ver as cenas, mas não há mensalão melhor ou menor.
Todos são inaceitáveis. No federal, há 39 denunciados e ele movimentou pelo menos R$ 55 milhões. No do PSDB de Minas Gerais saíram das empresas públicas R$ 3,5 milhões e houve empréstimos de R$ 11 milhões feitos por Marcos Valério no Banco Rural para irrigar o sistema.
O mesmo esquema com o mesmo personagem e no mesmo banco ocorreu no mensalão do governo Lula.
No mensalão do DEM, o país está vendo uma quantidade industrial de cenas de corrupção através dos vídeos gravados por Durval Barbosa.
No federal, houve também uma farta distribuição de recursos em quartos de hotéis ou na boca do caixa.
Estava tudo na contabilidade da diretora financeira do SMP&B ou nos registros do Banco Rural. Só não foi visto.
No federal, o país foi informado do dinheiro na cueca do assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães, irmão do então presidente do PT; mas agora, o país viu o dinheiro abarrotando os bolsos e as meias do presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente.
E a cueca voltou a aparecer como local-depósito, num vídeo exibido pelo site IG ontem à tarde.
Essa trágica equalização confirma a impressão de que política é assim mesmo: de que isso é feito “sistematicamente” neste país.
Diante da notícia do que aconteceu em Brasília, José Eduardo Dutra disse: “Quem com mensalão fere, com mensalão será ferido.” A frase é muito ruim. Sugere que ninguém denuncie ninguém? Ou sugere que isso é a vingança de quem foi ferido no primeiro mensalão? Outra causa da repetição dos mesmos crimes é a falta de punição. No Peru, o homem de confiança de Alberto Fujimori gravou a si mesmo distribuindo dinheiro para os deputados. O governo caiu, Fujimori fugiu, Vladimiro Montesinos está preso e agora Fujimori foi condenado. O Peru criou regras de mais transparência e um judiciário especializado em crimes de corrupção.
Os escândalos vão, em camadas, se sobrepondo.
Diante de um novo caso se esquece o anterior. Esta semana deve voltar ao Supremo o caso do senador Eduardo Azeredo, no mensalão mineiro, ofuscado pelo novo escândalo. Do mensalão federal nem se fala, e o PT faz esforço para apagá-lo da história. E os três são terrivelmente parecidos.
As cenas são demolidoras da confiança de qualquer pessoa na política. O país se espanta, depois de achar que nada mais o espantaria. Não que se pudesse dar crédito aos protestos éticos do Democratas, mas as imagens do que houve em Brasília superaram as piores expectativas. Agora, cada partido tem seu escândalo. Existe o mensalão do PT, o do PSDB e o do DEM. São todos, tristemente, iguais.
Tão iguais que já se pode dizer que existe uma tecnologia conhecida, causas identificadas e um caminho previsível da corrupção no Brasil. Se há um padrão, pode-se ter uma metodologia de combate ao crime.
— Nos três mensalões, o dinheiro ilegal foi alimentado por empresas fornecedoras do governo ou de estatais, o que foi possível pela falta de transparência nos contratos. O remédio é aumentar o acesso da sociedade às informações — diz o jornalista Fabiano Angélico, diretor de projetos da Transparência Brasil.
Claudio Weber Abramo, que falou ontem aqui no jornal na campanha “São dois gritando”, acha que uma das causas já identificadas dos desvios é o excesso de cargos em comissão e a ocupação da máquina pública por estes nomeados, ainda que não haja garantia de que isso não ocorra com funcionário de carreira.
Fabiano Angélico explicou que no Brasil o número dos cargos que o presidente pode distribuir é desproporcional ao que acontece em outros países: — O presidente americano nomeia pessoas para novecentos cargos. No Brasil, o presidente nomeia mais de sessenta mil cargos. É uma verdadeira usina de corrupção.
Nos Estados Unidos, a pessoa indicada é investigada antes de ser confirmada.
Na montagem do governo Obama houve casos de pessoas que não puderam ser nomeadas por dúvidas quanto ao seu passado.
Na opinião de Fabiano Angélico, o país precisaria de mais ONGs especializadas em combate à corrupção, e a imprensa deveria tratar menos da briga política e mais de como combater o crime.
O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que em toda eleição há risco de caixa dois, porque isso é “inerente ao modelo” de financiamento eleitoral.
O argumento é que se houver financiamento público exclusivo de campanha isso não acontecerá. O financiamento público exclusivo não garante nada. O que poderia ajudar seria o incentivo do governo às doações de pequena quantia por pessoas — como existe na Costa Rica — o que aumentaria a relação do eleitorado com o partido, e deixaria os partidos mais independentes em relação às empresas.
Um erro que está ocorrendo é a naturalização do caixa dois, como se fosse um crime menor. Ao garantir que não houve pagamentos mensais à base para votar com o governo, José Eduardo Dutra disse ao “Estado de S.Paulo”: “O fato da existência do caixa dois é notório e comprovado.” O atual escândalo é mais corrosivo porque é possível ver as cenas, mas não há mensalão melhor ou menor.
Todos são inaceitáveis. No federal, há 39 denunciados e ele movimentou pelo menos R$ 55 milhões. No do PSDB de Minas Gerais saíram das empresas públicas R$ 3,5 milhões e houve empréstimos de R$ 11 milhões feitos por Marcos Valério no Banco Rural para irrigar o sistema.
O mesmo esquema com o mesmo personagem e no mesmo banco ocorreu no mensalão do governo Lula.
No mensalão do DEM, o país está vendo uma quantidade industrial de cenas de corrupção através dos vídeos gravados por Durval Barbosa.
No federal, houve também uma farta distribuição de recursos em quartos de hotéis ou na boca do caixa.
Estava tudo na contabilidade da diretora financeira do SMP&B ou nos registros do Banco Rural. Só não foi visto.
No federal, o país foi informado do dinheiro na cueca do assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães, irmão do então presidente do PT; mas agora, o país viu o dinheiro abarrotando os bolsos e as meias do presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente.
E a cueca voltou a aparecer como local-depósito, num vídeo exibido pelo site IG ontem à tarde.
Essa trágica equalização confirma a impressão de que política é assim mesmo: de que isso é feito “sistematicamente” neste país.
Diante da notícia do que aconteceu em Brasília, José Eduardo Dutra disse: “Quem com mensalão fere, com mensalão será ferido.” A frase é muito ruim. Sugere que ninguém denuncie ninguém? Ou sugere que isso é a vingança de quem foi ferido no primeiro mensalão? Outra causa da repetição dos mesmos crimes é a falta de punição. No Peru, o homem de confiança de Alberto Fujimori gravou a si mesmo distribuindo dinheiro para os deputados. O governo caiu, Fujimori fugiu, Vladimiro Montesinos está preso e agora Fujimori foi condenado. O Peru criou regras de mais transparência e um judiciário especializado em crimes de corrupção.
Os escândalos vão, em camadas, se sobrepondo.
Diante de um novo caso se esquece o anterior. Esta semana deve voltar ao Supremo o caso do senador Eduardo Azeredo, no mensalão mineiro, ofuscado pelo novo escândalo. Do mensalão federal nem se fala, e o PT faz esforço para apagá-lo da história. E os três são terrivelmente parecidos.
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