DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Nabuco se extremou como espécie de figura quase apostólica de abolicionista, como disse Gilberto Freyre na costumeira elegância e na precisão conceitual sempre invejável.
Esse apostolado radicalizou a ação nabuqueana, que não se batia apenas por mudanças, mas por eficiente transformação.
Casa Grande & Senzala deixa bem claro de como em relação à história da abolição passamos do preconceito ao conceito.
Em O Abolicionismo, Nabuco observa que noutros países a luta contra a escravidão não tinha o caráter de reforma política primordial, porque “não se queria a raça negra para elemento permanente da população, nem como parte homogênea da sociedade”.
A nossa Academia, testemunha dos tempos e mensageira do passado como provocação das construções do hoje e do amanhã, ativamente está comprometida a cultivar a personalidade de Joaquim Nabuco, a rastrear sua fascinação política, sua estética atraente, sua personalidade a um só tempo singular e plural. O fatiamento ideológico de que talvez seja vítima, não nos impede de apreendê-lo em sua totalidade. A fatia que nos coube não seria o que é se não alimentasse, como o comprova a sua biografia devidamente registrada pela historiografia, a compreensão da atualidade e, inclusive, do futuro de nossa realidade e utopia brasileiras.
Rubén Dario reconhece que nos pensamentos de Nabuco a profundidade alcançada, quase sempre através de uma bela imagem, está a indicar o quanto frequentava os poetas, os livros santos.
Como sugere Roberto Cavalcanti de Albuquerque, um de seus melhores estudiosos, vamos nos dedicar a desvestir nele a bipolaridade de razão e sentimento, a inglesa impressão aristocrática, a impressão literária tão francesa, a italiana impressão artística e a civilização material tão americana. Escanear o monarquista que se converteu a um certo republicanismo é tarefa prazerosa.
Nesse desvestir não estamos sozinhos. Já convidamos e continuaremos a convocar inteligências que nos auxiliem na desafiante análise nabuqueana.
Brennand ou Caetano Veloso, Alfredo Bosi ou Rubens Ricúpero, brasileiros ou estrangeiros, muitos já foram ou serão chamados e escolhidos.
Houve a vez do professor Fernando Henrique Cardoso em quem Francisco Weffort ressalta o gosto por revelar identidades complexas. Pois Nabuco é um rico tema complexo para um sociólogo que tratou de capitalismo e escravidão, proletariado e mudança social em São Paulo, autoritarismo e democratização.
É claro que a Casa é atenta à sua sensibilidade, que demonstrou a vida inteira, pela história e para a ação, raízes que o explicam na excepcionalidade como intelectual.
Em texto de tempos atrás, é ainda Weffort quem diz que a biografia de Fernando Henrique Cardoso ajuda a entender a história do seu tempo. É como no caso de Joaquim Nabuco. E tem razão.
A criação intelectual e o exercício da vida pública em Fernando Henrique Cardoso se prestam “a entender um pedaço decisivo da nossa história”.
Teremos muito a aprender, agora, com o professor da USP e de tantos outras universidades “desse mundo de meu Deus”, como dizemos na terra de Joaquim Nabuco. A profundidade com que estudou a escravidão e a sua pesada herança na vida do País, em termos de raça, desigualdade e pobreza é título já suficiente.
Com a sua costumeira e louvada lucidez, Celso Lafer observa ter Fernando Henrique Cardoso zelado pela atenção ao método: “buscar a informação relevante e compreender, sem dogmatismos ideológicos, todos os pontos de vista procurando entender e discutir antes de escrever ou decidir”. É com base neste modo superior de ser que escreveu o prefácio elucidativo ao Balmaceda.
Fernando Henrique Cardoso a vida toda entendeu o que Guimarães Rosa alertava sobre a importância da travessia. Daí confiarmos tanto no que há de ponderar das experiências vividas por Joaquim Nabuco. Sobre elas ouvimos o professor Fernando Henrique Cardoso na forma a que Hannah Arendt atribuía importância compreendedora: a narrativa e a experiência.
» Marcos Vinicios Vilaça é presidente da ABL
Nabuco se extremou como espécie de figura quase apostólica de abolicionista, como disse Gilberto Freyre na costumeira elegância e na precisão conceitual sempre invejável.
Esse apostolado radicalizou a ação nabuqueana, que não se batia apenas por mudanças, mas por eficiente transformação.
Casa Grande & Senzala deixa bem claro de como em relação à história da abolição passamos do preconceito ao conceito.
Em O Abolicionismo, Nabuco observa que noutros países a luta contra a escravidão não tinha o caráter de reforma política primordial, porque “não se queria a raça negra para elemento permanente da população, nem como parte homogênea da sociedade”.
A nossa Academia, testemunha dos tempos e mensageira do passado como provocação das construções do hoje e do amanhã, ativamente está comprometida a cultivar a personalidade de Joaquim Nabuco, a rastrear sua fascinação política, sua estética atraente, sua personalidade a um só tempo singular e plural. O fatiamento ideológico de que talvez seja vítima, não nos impede de apreendê-lo em sua totalidade. A fatia que nos coube não seria o que é se não alimentasse, como o comprova a sua biografia devidamente registrada pela historiografia, a compreensão da atualidade e, inclusive, do futuro de nossa realidade e utopia brasileiras.
Rubén Dario reconhece que nos pensamentos de Nabuco a profundidade alcançada, quase sempre através de uma bela imagem, está a indicar o quanto frequentava os poetas, os livros santos.
Como sugere Roberto Cavalcanti de Albuquerque, um de seus melhores estudiosos, vamos nos dedicar a desvestir nele a bipolaridade de razão e sentimento, a inglesa impressão aristocrática, a impressão literária tão francesa, a italiana impressão artística e a civilização material tão americana. Escanear o monarquista que se converteu a um certo republicanismo é tarefa prazerosa.
Nesse desvestir não estamos sozinhos. Já convidamos e continuaremos a convocar inteligências que nos auxiliem na desafiante análise nabuqueana.
Brennand ou Caetano Veloso, Alfredo Bosi ou Rubens Ricúpero, brasileiros ou estrangeiros, muitos já foram ou serão chamados e escolhidos.
Houve a vez do professor Fernando Henrique Cardoso em quem Francisco Weffort ressalta o gosto por revelar identidades complexas. Pois Nabuco é um rico tema complexo para um sociólogo que tratou de capitalismo e escravidão, proletariado e mudança social em São Paulo, autoritarismo e democratização.
É claro que a Casa é atenta à sua sensibilidade, que demonstrou a vida inteira, pela história e para a ação, raízes que o explicam na excepcionalidade como intelectual.
Em texto de tempos atrás, é ainda Weffort quem diz que a biografia de Fernando Henrique Cardoso ajuda a entender a história do seu tempo. É como no caso de Joaquim Nabuco. E tem razão.
A criação intelectual e o exercício da vida pública em Fernando Henrique Cardoso se prestam “a entender um pedaço decisivo da nossa história”.
Teremos muito a aprender, agora, com o professor da USP e de tantos outras universidades “desse mundo de meu Deus”, como dizemos na terra de Joaquim Nabuco. A profundidade com que estudou a escravidão e a sua pesada herança na vida do País, em termos de raça, desigualdade e pobreza é título já suficiente.
Com a sua costumeira e louvada lucidez, Celso Lafer observa ter Fernando Henrique Cardoso zelado pela atenção ao método: “buscar a informação relevante e compreender, sem dogmatismos ideológicos, todos os pontos de vista procurando entender e discutir antes de escrever ou decidir”. É com base neste modo superior de ser que escreveu o prefácio elucidativo ao Balmaceda.
Fernando Henrique Cardoso a vida toda entendeu o que Guimarães Rosa alertava sobre a importância da travessia. Daí confiarmos tanto no que há de ponderar das experiências vividas por Joaquim Nabuco. Sobre elas ouvimos o professor Fernando Henrique Cardoso na forma a que Hannah Arendt atribuía importância compreendedora: a narrativa e a experiência.
» Marcos Vinicios Vilaça é presidente da ABL
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