DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Vale a pena dar nova chance à negociação, com menos jogadas de efeito e mais objetividade
Sob pena DE desmoralização, o Brasil não tinha como aprovar as sanções ao Irã no Conselho de Segurança após a rejeição do acordo mediado pelo presidente Lula e o premiê turco. Conforme admitiu editorial do "Financial Times", o voto contra preserva a possibilidade de que os dois mediadores voltem a agir como facilitadores imparciais.
A imparcialidade é, porém, atitude que se deve manter em relação aos dois lados. A única justificativa para rejeitar as sanções é o objetivo de manter aberta a porta da solução pacífica, nunca a de passar atestado de boa conduta ao governo de Teerã.
Foi, aliás, o que expressou no conselho de modo digno e sóbrio a embaixadora Maria Luiza Viotti, ao lembrar que, isoladas de outras medidas, as sanções nada resolvem e conduzem a consequências trágicas, como no caso do Iraque.
Juntamente com a Turquia, o Brasil tem sido acusado de se deixar manipular pelos iranianos e de agir como bisonho aprendiz de feiticeiro. A fim de mostrar que não se move por ingenuidade, a diplomacia brasileira precisa ancorar os seus próximos passos na óbvia necessidade de que o governo do Irã colabore para dissipar as veementes suspeitas acerca do real objetivo de seu programa nuclear.
Um país com gigantescas reservas de gás, ainda sem nenhuma usina elétrica nuclear em funcionamento, não tem como justificar a existência de uma cascata de 164 centrifugadoras de enriquecimento de urânio em operação, uma segunda cascata já pronta e planos de instalar dez mais!
Diante desses fatos, das declarações provocativas, das restrições aos fiscais da Agência Internacional de Energia Atômica, da instalação clandestina de Qom, não há como dar crédito aos protestos de que o programa tem fins pacíficos.
O que não quer dizer que o Irã não tenha razões de se sentir ameaçado depois do que aconteceu a seus vizinhos iraquianos. Tais preocupações legítimas teriam de fazer parte de uma negociação abrangente de todas as questões de segurança na área.
Responsáveis pelo desastre estratégico da invasão do Iraque, os americanos desempenham papel-chave: só eles podem fornecer as garantias que permitam aos iranianos se sentirem em segurança sem recurso a armas atômicas.
Ninguém, nem mesmo os EUA, acredita que as sanções sirvam para algo mais do que levar o Irã à mesa de negociação. Esse é também o propósito declarado do Brasil e da Turquia. As alternativas são muito piores: um improvável ataque militar de implicações imprevisíveis ou o desenvolvimento da bomba por Teerã com efeitos desestabilizadores numa região explosiva.
As sanções empataram o jogo, neutralizando por ora o acordo comemorado em Teerã com triunfalismo imprudente. Para desempatar e chegar a uma vitória sem perdedores, o melhor caminho é reconhecer que os EUA devem trabalhar com o Brasil e a Turquia a fim de persuadir o Irã a completar e aperfeiçoar o acordo de enriquecimento.
Vale a pena dar nova chance à negociação. Desta vez, no entanto, o jogo vai exigir menos jogadas de efeito para as arquibancadas e mais objetividade com vistas a produzir o único resultado em que todos saiam ganhando: a paz e a segurança para a região sem introdução de bombas nucleares.
Vale a pena dar nova chance à negociação, com menos jogadas de efeito e mais objetividade
Sob pena DE desmoralização, o Brasil não tinha como aprovar as sanções ao Irã no Conselho de Segurança após a rejeição do acordo mediado pelo presidente Lula e o premiê turco. Conforme admitiu editorial do "Financial Times", o voto contra preserva a possibilidade de que os dois mediadores voltem a agir como facilitadores imparciais.
A imparcialidade é, porém, atitude que se deve manter em relação aos dois lados. A única justificativa para rejeitar as sanções é o objetivo de manter aberta a porta da solução pacífica, nunca a de passar atestado de boa conduta ao governo de Teerã.
Foi, aliás, o que expressou no conselho de modo digno e sóbrio a embaixadora Maria Luiza Viotti, ao lembrar que, isoladas de outras medidas, as sanções nada resolvem e conduzem a consequências trágicas, como no caso do Iraque.
Juntamente com a Turquia, o Brasil tem sido acusado de se deixar manipular pelos iranianos e de agir como bisonho aprendiz de feiticeiro. A fim de mostrar que não se move por ingenuidade, a diplomacia brasileira precisa ancorar os seus próximos passos na óbvia necessidade de que o governo do Irã colabore para dissipar as veementes suspeitas acerca do real objetivo de seu programa nuclear.
Um país com gigantescas reservas de gás, ainda sem nenhuma usina elétrica nuclear em funcionamento, não tem como justificar a existência de uma cascata de 164 centrifugadoras de enriquecimento de urânio em operação, uma segunda cascata já pronta e planos de instalar dez mais!
Diante desses fatos, das declarações provocativas, das restrições aos fiscais da Agência Internacional de Energia Atômica, da instalação clandestina de Qom, não há como dar crédito aos protestos de que o programa tem fins pacíficos.
O que não quer dizer que o Irã não tenha razões de se sentir ameaçado depois do que aconteceu a seus vizinhos iraquianos. Tais preocupações legítimas teriam de fazer parte de uma negociação abrangente de todas as questões de segurança na área.
Responsáveis pelo desastre estratégico da invasão do Iraque, os americanos desempenham papel-chave: só eles podem fornecer as garantias que permitam aos iranianos se sentirem em segurança sem recurso a armas atômicas.
Ninguém, nem mesmo os EUA, acredita que as sanções sirvam para algo mais do que levar o Irã à mesa de negociação. Esse é também o propósito declarado do Brasil e da Turquia. As alternativas são muito piores: um improvável ataque militar de implicações imprevisíveis ou o desenvolvimento da bomba por Teerã com efeitos desestabilizadores numa região explosiva.
As sanções empataram o jogo, neutralizando por ora o acordo comemorado em Teerã com triunfalismo imprudente. Para desempatar e chegar a uma vitória sem perdedores, o melhor caminho é reconhecer que os EUA devem trabalhar com o Brasil e a Turquia a fim de persuadir o Irã a completar e aperfeiçoar o acordo de enriquecimento.
Vale a pena dar nova chance à negociação. Desta vez, no entanto, o jogo vai exigir menos jogadas de efeito para as arquibancadas e mais objetividade com vistas a produzir o único resultado em que todos saiam ganhando: a paz e a segurança para a região sem introdução de bombas nucleares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário