DEU NA FOLHA DE S. PAULO
A reforma política pode virar um álibi para requalificar as malfeitorias da quadrilha junto ao STF
O principal objetivo político do comissariado petista para o próximo ano é obter no Supremo Tribunal Federal a absolvição dos companheiros da quadrilha do mensalão.
Se for preciso aprovar uma reforma política que institua o financiamento público das campanhas e amaldiçoe o atual sistema eleitoral, isso será feito. Afinal, obtendo-se a reforma de uma estrutura que se denunciou como podre, pode-se argumentar que as podridões eram inevitáveis.
Segundo as repórteres Vera Rosa e Eugenia Lopes, o comissário José Dirceu disse, ao sair de um café da manhã com Nosso Guia, que, deixando o governo, Lula se dedicará, entre outras coisas a desmontar "a farsa do mensalão". Como fará isso junto ao plenário do Supremo, não se sabe.
É direito dos réus lutar pelas suas absolvições, mas o comissariado do governo parece estar perdendo a sensibilidade política. Há uma semana, o líder do PDT na Câmara, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, propôs numa reunião do Conselho Político que se aprove a legalização dos bingos. Passam-se uns dias e o Ministério Público de São Paulo revela que o deputado, bem como a poderosa central sindical que presidiu, foi condenado em primeira instância a devolver ao erário R$ 235 mil malversados, pagando também uma multa de R$ 471 mil. O litígio não está encerrado e caberá ao Tribunal Regional Federal julgar um recurso do parlamentar.
O comissariado do Planalto estava farto de saber da existência desse processo. Onipotente, achou perfeitamente natural que o incentivo à tavolagem entrasse na discussão no primeiro encontro do Conselho Político. Início de governo estimula a onipotência, mas exageraram.
Durante a campanha de 2002 e nos primeiros dias inebriantes de 2003, um tipo de megalomania primitiva e desonesta criou o mensalão: "Nós devemos a você, você cobra do Marcos Valério, ele toma dinheiro emprestado, nós vamos para o Planalto, um companheiro vai ao Banco Central, levanta a intervenção em dois bancos e o ervanário aparece". (Esqueceram-se de combinar com o russo Henrique Meirelles.)
Há uma forte carga de preconceito quando militantes do sindicalismo dos trabalhadores são nomeados para funções de relevo no governo. Busca-se transformar esse tipo de liderança em estigma. Se o indicado é um representante do sindicalismo patronal, tudo bem. Seu prestígio seria enobrecedor.
A ressurreição da quadrilha do mensalão depende apenas da Justiça e, até certo ponto, da opinião pública. Um governo que acredita na capacidade de mobilização dos sindicatos e entra em campo gritando "Bingo!" acha que pode tudo, em qualquer lugar, à hora que quiser. Engano. Olhado de dentro, o aparelho sindical pode ser lindo. Visto de fora, nem tanto.
Já se foi o tempo em que a morte de um sindicalista como Chico Mendes relacionava-se com uma causa. Nos últimos três anos foram assassinados pelo menos cinco dirigentes sindicais. Três eram tesoureiros de entidades. Em outubro mataram um diretor do sindicato dos motoristas de São Paulo, detentor de uma marca dramática: em 18 anos foram assassinados cinco diretores e sete funcionários do SindMotoristas.
A reforma política pode virar um álibi para requalificar as malfeitorias da quadrilha junto ao STF
O principal objetivo político do comissariado petista para o próximo ano é obter no Supremo Tribunal Federal a absolvição dos companheiros da quadrilha do mensalão.
Se for preciso aprovar uma reforma política que institua o financiamento público das campanhas e amaldiçoe o atual sistema eleitoral, isso será feito. Afinal, obtendo-se a reforma de uma estrutura que se denunciou como podre, pode-se argumentar que as podridões eram inevitáveis.
Segundo as repórteres Vera Rosa e Eugenia Lopes, o comissário José Dirceu disse, ao sair de um café da manhã com Nosso Guia, que, deixando o governo, Lula se dedicará, entre outras coisas a desmontar "a farsa do mensalão". Como fará isso junto ao plenário do Supremo, não se sabe.
É direito dos réus lutar pelas suas absolvições, mas o comissariado do governo parece estar perdendo a sensibilidade política. Há uma semana, o líder do PDT na Câmara, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, propôs numa reunião do Conselho Político que se aprove a legalização dos bingos. Passam-se uns dias e o Ministério Público de São Paulo revela que o deputado, bem como a poderosa central sindical que presidiu, foi condenado em primeira instância a devolver ao erário R$ 235 mil malversados, pagando também uma multa de R$ 471 mil. O litígio não está encerrado e caberá ao Tribunal Regional Federal julgar um recurso do parlamentar.
O comissariado do Planalto estava farto de saber da existência desse processo. Onipotente, achou perfeitamente natural que o incentivo à tavolagem entrasse na discussão no primeiro encontro do Conselho Político. Início de governo estimula a onipotência, mas exageraram.
Durante a campanha de 2002 e nos primeiros dias inebriantes de 2003, um tipo de megalomania primitiva e desonesta criou o mensalão: "Nós devemos a você, você cobra do Marcos Valério, ele toma dinheiro emprestado, nós vamos para o Planalto, um companheiro vai ao Banco Central, levanta a intervenção em dois bancos e o ervanário aparece". (Esqueceram-se de combinar com o russo Henrique Meirelles.)
Há uma forte carga de preconceito quando militantes do sindicalismo dos trabalhadores são nomeados para funções de relevo no governo. Busca-se transformar esse tipo de liderança em estigma. Se o indicado é um representante do sindicalismo patronal, tudo bem. Seu prestígio seria enobrecedor.
A ressurreição da quadrilha do mensalão depende apenas da Justiça e, até certo ponto, da opinião pública. Um governo que acredita na capacidade de mobilização dos sindicatos e entra em campo gritando "Bingo!" acha que pode tudo, em qualquer lugar, à hora que quiser. Engano. Olhado de dentro, o aparelho sindical pode ser lindo. Visto de fora, nem tanto.
Já se foi o tempo em que a morte de um sindicalista como Chico Mendes relacionava-se com uma causa. Nos últimos três anos foram assassinados pelo menos cinco dirigentes sindicais. Três eram tesoureiros de entidades. Em outubro mataram um diretor do sindicato dos motoristas de São Paulo, detentor de uma marca dramática: em 18 anos foram assassinados cinco diretores e sete funcionários do SindMotoristas.
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