DEU EM O GLOBO
Pressionado por alimentos, IPCA-15 sobe 0,86% este mês e mercado vê preços em patamar elevado no ano que vem
Fabiana Ribeiro
Após um ano com preços em alta - até outubro, a inflação acumula alta de 4,38% e deve fechar 2010 em 5,60% -, 2011 não promete alívio ao orçamento dos brasileiros. A inflação deverá ficar em torno de 5,15%, segundo projeções do mercado, portanto inferior à de 2010, mas, ainda assim, acima do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4,5%. Ontem, o IBGE informou que Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15, similar ao IPCA, usado nas metas do governo, porém com período de coleta entre os dias 15 de cada mês) subiu 0,86% este mês, bem acima das expectativas dos analistas, que eram de 0,72%.
- Ainda que a inflação de 2010 seja maior, o ano que vem seguirá com uma inflação num patamar alto. As expectativas não seriam tão altas se o Banco Central (BC) já tivesse começado a subir a taxa de juros da economia - disse Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.
Com o resultado divulgado ontem, o IPCA-15 acumulado em 12 meses está em 5,47%, quase um ponto percentual acima da meta de inflação.
Além de alimentos, vestuário e combustíveis pressionam
Mais uma vez, os alimentos puxaram o avanço dos preços frente a outubro (0,62%), mas não foram o único vilão. Combustíveis (2,22%) e vestuário (1,17%) também contribuíram para a formação do índice.
O consumidor passou a pagar 6,10% a mais pelo quilo de carne - item que ficou na dianteira dos principais impactos, com 0,14 ponto percentual do IPCA-15 de novembro. No ano, os preços das carnes já subiram 20,49%. No Rio, por exemplo, o quilo do filé mignon está saindo a R$44,90 no Zona Sul. Já o feijão carioca aumentou 10,83% no mês e mais do que dobrou de preços este ano (105,48%). No Rio, o preço médio do feijão está a R$2,74, bem acima dos R$2,26 de um ano atrás, segundo a Fecomércio-RJ.
Em novembro, altas expressivas foram registradas ainda no custo de açúcar cristal (14,05%), tomate (10,28%), batata-inglesa (9,96%), feijão preto (7,15%), farinha de trigo (5,76%) e açúcar refinado (4,50%).
- Quebra de safras, secas, problemas estruturais na pecuária brasileira ajudam a explicar a alta dos preços dos alimentos agora. Os preços, contudo, devem ceder nos próximos meses e no início de 2011 - acredita Fábio Romão, economista da LCA, acrescentando que as commodities em alta também refletem especulações do mercado financeiro.
Na casa de Adriana Martins, a carne é comprada apenas quando há promoções e, por isso, vem sendo substituída por cortes de frango.
- Não dá mesmo. Optamos por outros alimentos, como nugget e hambúrguer e até peixe. Proteína é importante, pois temos crianças em casa. Mas está tudo muito caro - comentou Bruno Martins, que acompanhou a mãe no supermercado ontem.
Nos cálculos de Romão, o IPCA de 2010 deve ficar em 5,80%, já os preços dos alimentos devem subir 10%. Em 2011, prevê, a inflação ficará em 4,80% e os alimentos subirão 5,70%.
- Também há a influência do mercado de trabalho. Os números do emprego começam a perder o fôlego. E o reajuste do salário mínimo pode ser em 2011 de 1,4%, abaixo da média de 6% em 2010 e 2009. Com menos renda, a pressão sobre os preços é menor - concluiu Romão, que acredita na necessidade de um ajuste na Selic em 2011, de 0,75% a dois pontos percentuais em relação ao nível atual (10,75% ao ano), caso não se verifiquem desacelerações nos gastos do governo e nos desembolsos do BNDES.
Economista sugere ajuste fiscal para segurar preços
O professor Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP, acredita que os preços dos alimentos vão se "acomodar" no ano que vem. Para ele, há uma bolha nas commodities, mas outros fatores influenciam na inflação brasileira:
- Ajustes na área fiscal ajudariam a combater a inflação - disse o Correa de Lacerda, para quem subir os juros pode apreciar o câmbio. - Isso traria mais problemas.
Leal, no entanto, diz que a alta nos juros seria um remédio necessário para conter a inflação. E lembra que, no ano que vem, o câmbio deve ser menos favorável à inflação do que o atual.
- O ideal seria subir os juros o quanto antes. Postergar essa decisão só aumenta o problema. É como se o BC fosse, mais tarde, tratar de uma pneumonia e não mais uma gripe.
O aumento do IPCA-15 puxou ontem os juros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Entre os contatos mais líquidos, os com vencimento em abril de 2013 subiram para 10,91%, ante 10,84% do fechamento de segunda-feira.
Colaborou Bruno Villas Bôas
Pressionado por alimentos, IPCA-15 sobe 0,86% este mês e mercado vê preços em patamar elevado no ano que vem
Fabiana Ribeiro
Após um ano com preços em alta - até outubro, a inflação acumula alta de 4,38% e deve fechar 2010 em 5,60% -, 2011 não promete alívio ao orçamento dos brasileiros. A inflação deverá ficar em torno de 5,15%, segundo projeções do mercado, portanto inferior à de 2010, mas, ainda assim, acima do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4,5%. Ontem, o IBGE informou que Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15, similar ao IPCA, usado nas metas do governo, porém com período de coleta entre os dias 15 de cada mês) subiu 0,86% este mês, bem acima das expectativas dos analistas, que eram de 0,72%.
- Ainda que a inflação de 2010 seja maior, o ano que vem seguirá com uma inflação num patamar alto. As expectativas não seriam tão altas se o Banco Central (BC) já tivesse começado a subir a taxa de juros da economia - disse Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.
Com o resultado divulgado ontem, o IPCA-15 acumulado em 12 meses está em 5,47%, quase um ponto percentual acima da meta de inflação.
Além de alimentos, vestuário e combustíveis pressionam
Mais uma vez, os alimentos puxaram o avanço dos preços frente a outubro (0,62%), mas não foram o único vilão. Combustíveis (2,22%) e vestuário (1,17%) também contribuíram para a formação do índice.
O consumidor passou a pagar 6,10% a mais pelo quilo de carne - item que ficou na dianteira dos principais impactos, com 0,14 ponto percentual do IPCA-15 de novembro. No ano, os preços das carnes já subiram 20,49%. No Rio, por exemplo, o quilo do filé mignon está saindo a R$44,90 no Zona Sul. Já o feijão carioca aumentou 10,83% no mês e mais do que dobrou de preços este ano (105,48%). No Rio, o preço médio do feijão está a R$2,74, bem acima dos R$2,26 de um ano atrás, segundo a Fecomércio-RJ.
Em novembro, altas expressivas foram registradas ainda no custo de açúcar cristal (14,05%), tomate (10,28%), batata-inglesa (9,96%), feijão preto (7,15%), farinha de trigo (5,76%) e açúcar refinado (4,50%).
- Quebra de safras, secas, problemas estruturais na pecuária brasileira ajudam a explicar a alta dos preços dos alimentos agora. Os preços, contudo, devem ceder nos próximos meses e no início de 2011 - acredita Fábio Romão, economista da LCA, acrescentando que as commodities em alta também refletem especulações do mercado financeiro.
Na casa de Adriana Martins, a carne é comprada apenas quando há promoções e, por isso, vem sendo substituída por cortes de frango.
- Não dá mesmo. Optamos por outros alimentos, como nugget e hambúrguer e até peixe. Proteína é importante, pois temos crianças em casa. Mas está tudo muito caro - comentou Bruno Martins, que acompanhou a mãe no supermercado ontem.
Nos cálculos de Romão, o IPCA de 2010 deve ficar em 5,80%, já os preços dos alimentos devem subir 10%. Em 2011, prevê, a inflação ficará em 4,80% e os alimentos subirão 5,70%.
- Também há a influência do mercado de trabalho. Os números do emprego começam a perder o fôlego. E o reajuste do salário mínimo pode ser em 2011 de 1,4%, abaixo da média de 6% em 2010 e 2009. Com menos renda, a pressão sobre os preços é menor - concluiu Romão, que acredita na necessidade de um ajuste na Selic em 2011, de 0,75% a dois pontos percentuais em relação ao nível atual (10,75% ao ano), caso não se verifiquem desacelerações nos gastos do governo e nos desembolsos do BNDES.
Economista sugere ajuste fiscal para segurar preços
O professor Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP, acredita que os preços dos alimentos vão se "acomodar" no ano que vem. Para ele, há uma bolha nas commodities, mas outros fatores influenciam na inflação brasileira:
- Ajustes na área fiscal ajudariam a combater a inflação - disse o Correa de Lacerda, para quem subir os juros pode apreciar o câmbio. - Isso traria mais problemas.
Leal, no entanto, diz que a alta nos juros seria um remédio necessário para conter a inflação. E lembra que, no ano que vem, o câmbio deve ser menos favorável à inflação do que o atual.
- O ideal seria subir os juros o quanto antes. Postergar essa decisão só aumenta o problema. É como se o BC fosse, mais tarde, tratar de uma pneumonia e não mais uma gripe.
O aumento do IPCA-15 puxou ontem os juros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Entre os contatos mais líquidos, os com vencimento em abril de 2013 subiram para 10,91%, ante 10,84% do fechamento de segunda-feira.
Colaborou Bruno Villas Bôas
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