segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Serra: 'Estamos começando uma luta de verdade'

DEU EM O GLOBO

Ao reconhecer a derrota, tucano diz que era só um "até logo" e que oposição deve continuar lutando pela democracia

Silvia Amorim e Flávio Freire

SÃO PAULO. Ao reconhecer a derrota ontem à noite, o tucano José Serra deu a entender, em seu discurso de despedida, por volta das 22h30m, que pode voltar à cena política. Sem referências ao ex-governador e senador eleito Aécio Neves (MG), virtual candidato do partido à Presidência daqui a quatro anos, Serra disse que estava dando apenas um “até logo”. Ele chegou a interromper o pronunciamento, com a voz embargada.

— Minha mensagem de despedida neste momento não é de adeus, mas um até logo. A luta continua — disse, na sede do comitê de campanha, no edifício Joelma: — E, para os que nos imaginam derrotados, quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade.

O tucano também fez questão de fazer um agradecimento especial ao “querido amigo” Geraldo Alckmin (governador eleito de São Paulo), “que fez mais campanha para mim do que para ele mesmo”

“Quis o povo que não fosse agora”

Serra abriu seu discurso agradecendo aos 43,6 milhões de votos e parabenizando sua adversária, Dilma Rousseff (PT). Disse que disputou a eleição com “muito orgulho”, mas frisou: — Quis o povo que não fosse agora.

O tucano afirmou ter recebido o resultado com “respeito e humildade”.

Depois de agradecer à militância, disse que enfrentou uma das campanhas “mais terríveis” de sua trajetória política: — Nestes meses, quando enfrentamos forças terríveis, vocês construíram uma fortaleza.

Consolidaram um campo político em defesa da liberdade e da democracia no país — disse Serra, garantindo ter reunido neste período energia capaz de mantêlo na disputa com serenidade.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu à despedida de Serra da corrida sucessória. O tucano brincou com a ausência: — Ele (FH) deve estar em casa nos assistindo.

O candidato derrotado disse ainda que o PSDB sai da eleição fortalecido por conta dos dez governadores (na verdade, onze), entre tucanos e aliados, eleitos nesta eleição.

Em seguida, o candidato derrotado disse que o sentimento de confiança e esperança foi um legado que ele leva para os próximos anos: — A maior vitória que conquistamos nessa campanha não foi minha, mas de vocês.

Pode parecer estranho para um candidato que não ganhou, mas não vim falar de frustração, e sim de confiança e de esperança.

Serra disse que sua campanha ajudou a levantar as bandeiras da democracia, da liberdade e de causas sociais e econômicas do país. Afirmou ainda ter encontrado milhares de jovens, “assim como eu fui um dia”, dispostos a lutar por um país mais justo e democrático.

E partiu para o ataque: — Encontrei milhares de jovens que lutam por um país melhor, mais justo e mais democrático, onde os políticos são servidores do povo, e não se servem do povo.

Para encerrar o discurso de meia hora, Serra cantou a parte final do Hino Nacional. Ele deixou o comitê ao lado de amigos, da mulher, Mônica, e da filha, Verônica.

De manhã, ao votar, no Colégio Santa Cruz, no bairro do Alto de Pinheiros, Serra defendera alternância de poder.

Ele chegou para votar acompanhado da mulher, da filha, dos netos Antônio e Gabriela, e de aliados.

— Hoje, é o povo falando em todo o Brasil, é a beleza da democracia e, talvez, hoje mesmo, a beleza da alternância no poder que faria muito bem ao Brasil.

As palavras foram retribuídas com aplausos pelos eleitores que acompanhavam sua fala.Mas o clima do lado de fora do colégio não foi só de animação.

Pouco antes, um eleitor que exibia um cartaz com a frase “Serra vereador 2011” foi hostilizado por militantes tucanos.

Ao votar, Serra foi à urna com a neta, de 3 anos. Depois, posou para fotógrafos e cinegrafistas.

Juntaram-se a ele Alckmin, o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o governador Alberto Goldman (PSDB). Todos vestiam camisas azuis claras.

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