DEU NA FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - Como a sua aprovação popular traduz, Lula fez um governo de comunhão nacional. Um governo que patrocinou ganhos consideráveis aos mais pobres sem que nenhum interesse dos poderosos tenha sido arranhado. O próprio presidente nunca cansou de alardear, referindo-se aos bancos: "Nunca ganharam tanto dinheiro". Valeria para empreiteiras etc.
Na quase totalidade das vezes, os enfrentamentos retóricos que Lula protagonizou foram apenas isso -brigas retóricas, fumaça verbal. Na condução da economia, ele foi conservador e extremamente cauteloso. Na política, concedeu o que foi necessário à tradição patrimonialista, abençoando o casamento da velha fisiologia com os piores aspectos do petismo. Ao mesmo tempo, seu governo agiu sobre o país como uma espécie de morfina social. É por isso que será lembrado.
Eleita por obra e graça do padrinho, Dilma Rousseff herda esse arranjo complexo e delicado que sustenta o lulismo. O que fará dele e com ele é uma grande incógnita.
Lula governou por assimilação, por cooptação, acomodando conflitos. Dilma terá essa vocação? Terá condições de exercê-la, diante da variedade de interesses e do gigantismo de sua base de apoio?
Há, no PT, quem veja nessa vitória a oportunidade histórica para executar uma política mais claramente de esquerda. Mas há, também, quem considere Dilma refém demais das circunstâncias, além de lulo-dependente, para ousar qualquer passo em falso. Entre visões díspares e até antagônicas, a futura Presidência parece mais cercada de dúvidas do que de expectativas.
Não tenho memória de outra candidatura presidencial no país tão ostensivamente tutelada. O gesso que Dilma usou numa das pernas durante parte da disputa talvez fosse a peça mais maleável da sua persona política. Ao acordar hoje, livre da armadura da campanha, é possível que a própria presidente eleita estranhe o rosto que estará a observá-la do lado de lá do espelho.
SÃO PAULO - Como a sua aprovação popular traduz, Lula fez um governo de comunhão nacional. Um governo que patrocinou ganhos consideráveis aos mais pobres sem que nenhum interesse dos poderosos tenha sido arranhado. O próprio presidente nunca cansou de alardear, referindo-se aos bancos: "Nunca ganharam tanto dinheiro". Valeria para empreiteiras etc.
Na quase totalidade das vezes, os enfrentamentos retóricos que Lula protagonizou foram apenas isso -brigas retóricas, fumaça verbal. Na condução da economia, ele foi conservador e extremamente cauteloso. Na política, concedeu o que foi necessário à tradição patrimonialista, abençoando o casamento da velha fisiologia com os piores aspectos do petismo. Ao mesmo tempo, seu governo agiu sobre o país como uma espécie de morfina social. É por isso que será lembrado.
Eleita por obra e graça do padrinho, Dilma Rousseff herda esse arranjo complexo e delicado que sustenta o lulismo. O que fará dele e com ele é uma grande incógnita.
Lula governou por assimilação, por cooptação, acomodando conflitos. Dilma terá essa vocação? Terá condições de exercê-la, diante da variedade de interesses e do gigantismo de sua base de apoio?
Há, no PT, quem veja nessa vitória a oportunidade histórica para executar uma política mais claramente de esquerda. Mas há, também, quem considere Dilma refém demais das circunstâncias, além de lulo-dependente, para ousar qualquer passo em falso. Entre visões díspares e até antagônicas, a futura Presidência parece mais cercada de dúvidas do que de expectativas.
Não tenho memória de outra candidatura presidencial no país tão ostensivamente tutelada. O gesso que Dilma usou numa das pernas durante parte da disputa talvez fosse a peça mais maleável da sua persona política. Ao acordar hoje, livre da armadura da campanha, é possível que a própria presidente eleita estranhe o rosto que estará a observá-la do lado de lá do espelho.
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