quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Eleição de Dilma Rousseff segue incerta mas já aponta cenários contraditórios:: Jarbas de Holanda


A liderança e a tendência de crescimento da candidata lulista na média das últimas pesquisas (a serem confirmadas, reduzidas ou hipoteticamente zerada nas do final desta semana, entre elas a do Datafolha), esses dados da disputa presidencial estão levando crescente número de analistas a anteciparem como quase ou praticamente certa uma vitória dela no segundo e, como provável, já em 3 de outubro. Avaliação que vai disseminando-se entre os diferentes atores políticos, inclusive em parte das lideranças da própria oposição e nos círculos empresariais, além de gerar a emergência de problemas no encaminhamento da candidatura oposicionista de José Serra – na relação dele com dirigentes do DEM e na consistência, fragilizada, de vários palanques estaduais,como os do Estado do Rio, da Bahia, de Pernambuco, do Ceará, do Amazonas. Tudo isso, obviamente (reiterando análise anterior), ainda podendo ser revertido por fatos políticos e/ou econômicos negativos para o campo governista desde que tenham forte impacto social, e porque Serra tem condições pessoais de qualificação e competitividade capazes de afirmar-se na fase decisiva da disputa – no rádio e na televisão.

Com o cálculo predominante de uma vitória de Dilma, delineiam-se duas perspectivas basicamente contraditórias sobre um novo governo, ao invés de uma só, com naturais diferenças de composição e de ênfase em prioridades. Eis os dois cenários básicos correspondentes (cada um dos quais desdobrável em vários outros): 1º - Um governo Dilma que dê sequência ao pragmatismo do de Lula, combinando populismo assistencialista a uma orientação macroeconômica responsável,e dosando posturas radicais na política externa, com a garantia de espaço e estímulos a investidores privados, de fora e domésticos (embora com o empenho de vinculá-los à associação ou ao controle estatais). E que na esfera político-institucional, após o desastre do mensalão, reduziu o peso do PT na máquina governamental e no relacionamento com o Congresso por meio de partilha do poder com o PMDB e de cargos com partidos menores não esquerdistas, o que inviabilizou a manutenção da CPMF, o projeto do terceiro mandato do presidente e propostas como as de manipulação dos direitos humanos para cerceamento da mídia e graves restrições à propriedade privada. Um governo com objetivos semelhantes deverá basear-se na aliança com o PMDB (cuja direção combina um pragmatismo centrista e moderadamente reformista a um fisiologismo abusivo com o qual agrega a federação de interesses regionais que representa) e contar com o ex-ministro reformista Antonio Palocci como uma de suas ações importantes. 2º cenário – Um governo Dilma dominado pelo petismo ou sem força para conter suas de-mandas de hegemonia. O que se traduzirá no enfraquecimento e progressivo abandono do realismo macroeconômico; na exacerbação do estatismo; no descarte completo de reformas indispensáveis; na retomada de propostas institucionais antidemocráticas; na tentativa de controle das duas casas do Congresso, especialmente do Senado, com o desencadeamento de conflitos com o PMDB e o vice-presidente Michel Temer.

O risco deste cenário será significativamente ampliado com a hipótese – ainda pouco provável de uma decisão pró-Dilma no primeiro turno. Que poderia ser lida como demonstração de força do petismo, de par com as implicações que teria no aumento das bancadas federais da legenda, em detrimento das do PMDB e dos partidos oposicionistas, bem como nas disputas pelos governos estaduais

Jarbas de Holanda é jornalista

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