DEU ESTADO DE MINAS
Em 1946, Josué de Castro publicava o livro Geografia da fome, uma das mais férteis obras de toda a bibliografia brasileira, lido em todo o mundo. Nele, combatendo o mito, vindo do Brasil Colônia, do “brasileiro indolente”, por razões de mestiçagem, latinidade, ser sul-americano e dominado por uma religiosidade primitiva, atrasada e complacente, Josué de Castro preconizava que o Brasil tinha todas as condições de não só eliminar a fome mas transformar-se em uma grande nação, por razões naturais. Mas, para isso, teria que realizar reformas estruturais, como a agrária e a política. Hoje, ao vermos a paralisação de Nova York por montanhas de neve, o que também ocorre com as capitais europeias e até na China, constatamos, como há mais de 60 anos o fez Josué de Castro, que o Brasil é realmente um país de sorte, muito bem dotado de recursos naturais e de poucas intempéries.
O Brasil não tem terremotos, tufões ou tornados, nevascas, vulcões ou tsunamis. Tem vasto território, com ampla insolação, garantindo duas e até três safras de alguns grãos por ano. E terras planas, férteis e agricultáveis a baixo preço, com boa irrigação, garantindo-lhe, neste 2011, a condições de líder na produção de vários produtos da cesta alimentar mundial. Mantém o maior rebanho bovino do mundo. Tem mais de 8 mil quilômetros de costa marítima, lagos e rios, os maiores do mundo, com grande potencial hidrelétrico. Seu subsolo é rico em ocorrências minerais, o que lhe garante a liderança mundial em várias comodities. É autossuficiente em energias, da renovável à fóssil. Nesta última, a petroquímica, com o pré-sal, passa a ser detentor da quarta maior reserva do mundo. É a oitava economia mundial e pode ser a quinta em poucos anos.
O que nos falta? Reler Josué de Castro – foi presidente da Organização para Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO) e embaixador do Brasil na ONU – é altamente pedagógico por sua adequação ao Brasil contemporâneo. Para ele, o subdesenvolvimento não é produto da natureza, mas da ação do homem: “A apropriação injusta da generosidade e abundância dos recursos da natureza é que é geradora de fome e miséria”. Profético, já previa a globalização e advertia que empresas vão se tornar mais fortes e influentes do que governos. Defendia a agricultura familiar, “capaz de fixar o homem na terra em que nasceu” e condenava o latifúndio e pedia a reforma agrária, sem o que, segundo ele, não seria possível “buscar um novo equilíbrio econômico”, condição essencial da justa distribuição de riquezas e pressuposto para a paz.
Cassado pela ditadura militar de 1964, morreu no exílio, em Paris (1974). Não viu a crise financeira de 2008, causada pela especulação gananciosa de banqueiros, manipuladores de uma ordem capitalista mundial sem compromissos a justiça social. Não viu a ameaça ecológica atingir níveis ameaçadores à sobrevivência de homens e animais. E não viu o Brasil dos nossos dias, no limiar de um novo patamar econômico e social. E, sobretudo, bem mais consciente de que temos condições excepcionais de avançar muito mais, mas ainda dependente dos homens e da prática política para eliminar os bolsões de pobreza e a fome e operar as transformações mecessárias.
Em 1946, Josué de Castro publicava o livro Geografia da fome, uma das mais férteis obras de toda a bibliografia brasileira, lido em todo o mundo. Nele, combatendo o mito, vindo do Brasil Colônia, do “brasileiro indolente”, por razões de mestiçagem, latinidade, ser sul-americano e dominado por uma religiosidade primitiva, atrasada e complacente, Josué de Castro preconizava que o Brasil tinha todas as condições de não só eliminar a fome mas transformar-se em uma grande nação, por razões naturais. Mas, para isso, teria que realizar reformas estruturais, como a agrária e a política. Hoje, ao vermos a paralisação de Nova York por montanhas de neve, o que também ocorre com as capitais europeias e até na China, constatamos, como há mais de 60 anos o fez Josué de Castro, que o Brasil é realmente um país de sorte, muito bem dotado de recursos naturais e de poucas intempéries.
O Brasil não tem terremotos, tufões ou tornados, nevascas, vulcões ou tsunamis. Tem vasto território, com ampla insolação, garantindo duas e até três safras de alguns grãos por ano. E terras planas, férteis e agricultáveis a baixo preço, com boa irrigação, garantindo-lhe, neste 2011, a condições de líder na produção de vários produtos da cesta alimentar mundial. Mantém o maior rebanho bovino do mundo. Tem mais de 8 mil quilômetros de costa marítima, lagos e rios, os maiores do mundo, com grande potencial hidrelétrico. Seu subsolo é rico em ocorrências minerais, o que lhe garante a liderança mundial em várias comodities. É autossuficiente em energias, da renovável à fóssil. Nesta última, a petroquímica, com o pré-sal, passa a ser detentor da quarta maior reserva do mundo. É a oitava economia mundial e pode ser a quinta em poucos anos.
O que nos falta? Reler Josué de Castro – foi presidente da Organização para Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO) e embaixador do Brasil na ONU – é altamente pedagógico por sua adequação ao Brasil contemporâneo. Para ele, o subdesenvolvimento não é produto da natureza, mas da ação do homem: “A apropriação injusta da generosidade e abundância dos recursos da natureza é que é geradora de fome e miséria”. Profético, já previa a globalização e advertia que empresas vão se tornar mais fortes e influentes do que governos. Defendia a agricultura familiar, “capaz de fixar o homem na terra em que nasceu” e condenava o latifúndio e pedia a reforma agrária, sem o que, segundo ele, não seria possível “buscar um novo equilíbrio econômico”, condição essencial da justa distribuição de riquezas e pressuposto para a paz.
Cassado pela ditadura militar de 1964, morreu no exílio, em Paris (1974). Não viu a crise financeira de 2008, causada pela especulação gananciosa de banqueiros, manipuladores de uma ordem capitalista mundial sem compromissos a justiça social. Não viu a ameaça ecológica atingir níveis ameaçadores à sobrevivência de homens e animais. E não viu o Brasil dos nossos dias, no limiar de um novo patamar econômico e social. E, sobretudo, bem mais consciente de que temos condições excepcionais de avançar muito mais, mas ainda dependente dos homens e da prática política para eliminar os bolsões de pobreza e a fome e operar as transformações mecessárias.
Mas está claro que o brasileiro, rico na sua diversidade humana, cultural e natural, criativo e operoso, nem tanto cordial ou somente macunaíma, tem tudo para construir um futuro melhor, se tiver líderes, sobretudo políticos, capazes de trabalhar mais pelos interesses coletivos e não somente para si próprios.
Jornalista
Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário