DEU EM O GLOBO
A inflação, sempre ela, volta a incomodar. A inundação da Austrália baterá em preços da carne e de grãos, porque o país é grande produtor. O aumento dos preços de metais continua. O petróleo sobe puxado pelo frio extremo do hemisfério norte. Há sinais de desaceleração da inflação como a FGV mostrou ontem, mesmo assim, heranças de 2010 podem complicar 2011.
Os preços estão sempre no meio do redemoinho. Um fato leva a outro, que leva a outro. O excesso de liquidez nos Estados Unidos e o aumento da demanda na China elevaram os preços das commodities. São dois fenômenos: o dinheiro demais nos Estados Unidos, para reacender a economia, aumentou o fluxo de capital especulativo, de hedge funds, fundos de índices, em negócios no mercado futuro de matérias-primas. A demanda da China, que continua crescendo, confirma esses preços altos. Dependendo do produto, é bom para a nossa balança comercial, veja-se o que aconteceu no ano passado que, apesar da queda do dólar, o Brasil teve exportação recorde. Mas há o efeito colateral da alta interna dos preços. O dólar em queda é um problema por um lado, mas atenua o efeito das pressões inflacionárias.
Alguns economistas calculam que os preços dos alimentos no Brasil podem subir menos do que no ano passado, mas é até difícil dizer isso. Um post do meu blog sobre essa previsão de desaceleração do ritmo dos preços foi respondido na segunda-feira por muita gente no Twitter contando que quando faz compras sente que os preços de alimentos estão numa escalada. A percepção das pessoas é de inflação em alta.
Em reportagem na CNN, analistas confirmam que há várias fontes de pressão de alta de preços de produtos cotados internacionalmente. Trigo, arroz, milho e soja tiveram aumentos de dois dígitos de junho a dezembro. Trigo aumentou 69% e milho, 53%. O temor é que a demanda nos países emergentes, somada à especulação dos fundos no mercado de commodities, reproduza o fenômeno que preocupou o mundo em 2008 com a inflação de alimentos, que afetou ao todo 61 países.
Algumas commodities metálicas também subiram forte nos últimos meses pelo mesmo efeito somado de demanda em países emergentes que crescem, e precisam de matérias-primas para suas obras de infraestrutura, e a onda de capitais em busca de alto retorno nos mercados de commodities.
Uma rodada pelo noticiário do mundo mostra que estão tendo ondas de altas de preços de alimentos países como Paquistão, Indonésia, Quênia, Austrália, Índia, Canadá e Estados Unidos. Em alguns casos, por causa de problemas climáticos, como a Austrália que enfrenta inundações. Como grande produtora de alimentos, o que acontece lá acaba se refletindo no mundo, como se viu nos quatro anos consecutivos de seca que o país enfrentou recentemente. No Canadá, a expectativa é que essa pressão acabe favorecendo a Bolsa de Toronto, onde metade das ações negociadas está relacionada com matérias-primas e energia.
O petróleo tem subido em parte pela pressão do aumento da demanda no hemisfério norte. Normalmente, no inverno americano e europeu há aumento do consumo de petróleo para aquecimento, mas este ano o inverno está particularmente rigoroso, como se vê no noticiário. Aumento de preço de petróleo acaba afetando também os preços dos alimentos e a avaliação de especialistas é que nem toda a alta do petróleo já está nos preços dos alimentos.
Apesar de o Brasil ter chances de ter nos próximos meses uma redução da inflação acumulada em 12 meses e queda dos preços de alguns produtos pelo fim da entressafra, o problema continuará no horizonte das preocupações.
O ano de 2010 terminou com um quadro ruim para a inflação e alguns efeitos são propagadores, como dos IGPs, que reajustam o aluguel e ficaram acima de 11%. Há ainda toda essa pressão internacional. Por tudo isso, é tranquilizador ouvir do novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que a instituição continua convencida de que o crescimento sustentado decorre da inflação sob controle. Essa parece ser uma verdade simples, mas ela tem sido negada como se fosse uma improbabilidade teórica por integrantes do governo que permanecem na administração Dilma Rousseff. É isso mesmo, como tem dito o BC: não apenas não há conflito entre estabilidade de preços e crescimento, como é a única forma de garantir o crescimento sustentado.
Devemos ousar - como propõe Tombini - ter metas de inflação anual mais baixas se nem estamos conseguindo ficar no centro da meta atual? Sim, devemos. Já está na hora. O país está entrando no seu 17º ano após a vitória sobre a hiperinflação. Está entrando no 12º ano após a adoção da política de metas de inflação. Está na hora de ousar ser como todos os países do mundo que têm metas de 2% e ficam preocupados quando a taxa vai a 3%. Mas para isso não basta apenas elevar juros.
É preciso ter gastos públicos mais controlados. O trabalho não pode continuar sendo todo do Banco Central, do contrário vamos refazer as tensões e as pressões sobre as instituições que o Brasil viu durante os oito anos da administração Henrique Meirelles. Foi tão dura a briga que ele terminou o mandato pedindo água. Como se viu, na cerimônia de posse.
A inflação, sempre ela, volta a incomodar. A inundação da Austrália baterá em preços da carne e de grãos, porque o país é grande produtor. O aumento dos preços de metais continua. O petróleo sobe puxado pelo frio extremo do hemisfério norte. Há sinais de desaceleração da inflação como a FGV mostrou ontem, mesmo assim, heranças de 2010 podem complicar 2011.
Os preços estão sempre no meio do redemoinho. Um fato leva a outro, que leva a outro. O excesso de liquidez nos Estados Unidos e o aumento da demanda na China elevaram os preços das commodities. São dois fenômenos: o dinheiro demais nos Estados Unidos, para reacender a economia, aumentou o fluxo de capital especulativo, de hedge funds, fundos de índices, em negócios no mercado futuro de matérias-primas. A demanda da China, que continua crescendo, confirma esses preços altos. Dependendo do produto, é bom para a nossa balança comercial, veja-se o que aconteceu no ano passado que, apesar da queda do dólar, o Brasil teve exportação recorde. Mas há o efeito colateral da alta interna dos preços. O dólar em queda é um problema por um lado, mas atenua o efeito das pressões inflacionárias.
Alguns economistas calculam que os preços dos alimentos no Brasil podem subir menos do que no ano passado, mas é até difícil dizer isso. Um post do meu blog sobre essa previsão de desaceleração do ritmo dos preços foi respondido na segunda-feira por muita gente no Twitter contando que quando faz compras sente que os preços de alimentos estão numa escalada. A percepção das pessoas é de inflação em alta.
Em reportagem na CNN, analistas confirmam que há várias fontes de pressão de alta de preços de produtos cotados internacionalmente. Trigo, arroz, milho e soja tiveram aumentos de dois dígitos de junho a dezembro. Trigo aumentou 69% e milho, 53%. O temor é que a demanda nos países emergentes, somada à especulação dos fundos no mercado de commodities, reproduza o fenômeno que preocupou o mundo em 2008 com a inflação de alimentos, que afetou ao todo 61 países.
Algumas commodities metálicas também subiram forte nos últimos meses pelo mesmo efeito somado de demanda em países emergentes que crescem, e precisam de matérias-primas para suas obras de infraestrutura, e a onda de capitais em busca de alto retorno nos mercados de commodities.
Uma rodada pelo noticiário do mundo mostra que estão tendo ondas de altas de preços de alimentos países como Paquistão, Indonésia, Quênia, Austrália, Índia, Canadá e Estados Unidos. Em alguns casos, por causa de problemas climáticos, como a Austrália que enfrenta inundações. Como grande produtora de alimentos, o que acontece lá acaba se refletindo no mundo, como se viu nos quatro anos consecutivos de seca que o país enfrentou recentemente. No Canadá, a expectativa é que essa pressão acabe favorecendo a Bolsa de Toronto, onde metade das ações negociadas está relacionada com matérias-primas e energia.
O petróleo tem subido em parte pela pressão do aumento da demanda no hemisfério norte. Normalmente, no inverno americano e europeu há aumento do consumo de petróleo para aquecimento, mas este ano o inverno está particularmente rigoroso, como se vê no noticiário. Aumento de preço de petróleo acaba afetando também os preços dos alimentos e a avaliação de especialistas é que nem toda a alta do petróleo já está nos preços dos alimentos.
Apesar de o Brasil ter chances de ter nos próximos meses uma redução da inflação acumulada em 12 meses e queda dos preços de alguns produtos pelo fim da entressafra, o problema continuará no horizonte das preocupações.
O ano de 2010 terminou com um quadro ruim para a inflação e alguns efeitos são propagadores, como dos IGPs, que reajustam o aluguel e ficaram acima de 11%. Há ainda toda essa pressão internacional. Por tudo isso, é tranquilizador ouvir do novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que a instituição continua convencida de que o crescimento sustentado decorre da inflação sob controle. Essa parece ser uma verdade simples, mas ela tem sido negada como se fosse uma improbabilidade teórica por integrantes do governo que permanecem na administração Dilma Rousseff. É isso mesmo, como tem dito o BC: não apenas não há conflito entre estabilidade de preços e crescimento, como é a única forma de garantir o crescimento sustentado.
Devemos ousar - como propõe Tombini - ter metas de inflação anual mais baixas se nem estamos conseguindo ficar no centro da meta atual? Sim, devemos. Já está na hora. O país está entrando no seu 17º ano após a vitória sobre a hiperinflação. Está entrando no 12º ano após a adoção da política de metas de inflação. Está na hora de ousar ser como todos os países do mundo que têm metas de 2% e ficam preocupados quando a taxa vai a 3%. Mas para isso não basta apenas elevar juros.
É preciso ter gastos públicos mais controlados. O trabalho não pode continuar sendo todo do Banco Central, do contrário vamos refazer as tensões e as pressões sobre as instituições que o Brasil viu durante os oito anos da administração Henrique Meirelles. Foi tão dura a briga que ele terminou o mandato pedindo água. Como se viu, na cerimônia de posse.
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