quarta-feira, 23 de março de 2011

BC indica mais restrição ao crédito para conter inflação

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, indicou que o ritmo atual de expansão do crédito no Brasil, de 20,3%, é um combustível à inflação e, por isso, deverá ser alvo de medidas do BC. Em audiência no Senado, ele fez um balanço dos riscos à alta dos preços e disse que há um "descompasso" entre a demanda e a oferta de bens e serviços da economia. O diagnóstico veio uma semana após a presidente Dilma ter descartado, categoricamente, que exista uma inflação pressionada pela demanda maior no país. Segundo ela, preços de alimentos subiram, mas já recuaram. Tombini destacou o salto de 70% nos preços das commodities nos últimos nove meses. Para analistas, a avaliação do BC reforça que novas medidas, como as de restrição ao financiamento de longo prazo adotadas em dezembro, serão usadas, junto com a elevação dos juros básicos do país, com o objetivo de conter a inflação.

Contra inflação, BC mira no crédito

Uma semana após Dilma dizer que não há pressão de demanda, Tombini indica freio nos financiamentos

Patrícia Duarte

Oritmo atual de expansão do crédito no Brasil, de 20,3% anualizados no fim de janeiro, é um combustível para a inflação e deverá ser alvo de medidas do Banco Central (BC), indicou ontem no Senado o presidente da instituição, Alexandre Tombini. Em audiência, ele fez um balanço dos riscos à alta dos preços e disse que há descompasso entre demanda e oferta de bens e serviços da economia. O diagnóstico veio uma semana após a presidente Dilma Rousseff, em entrevista, ter afirmado, sobre a inflação, que o governo não acha "que ela é de demanda".

"Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores, mas é inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento do preço do material escolar, dos transportes urbanos, que são sazonais", disse a presidente. Tombini também destacou o salto de 70% nos preços das commodities nos últimos nove meses. E admitiu que começa a ser percebido um aumento na inadimplência, fruto da desaceleração da atividade econômica.

Para analistas, a avaliação de Tombini reforça que novas medidas macroprudenciais - como as de restrição ao financiamento de longo prazo adotadas em dezembro - serão usadas como reforço à elevação dos juros básicos da economia. O impacto das medidas macroprudenciais de dezembro foi equivalente a uma puxada da Taxa Selic de 0,75 ponto percentual.

Segundo Tombini, o mercado de crédito tem de crescer entre 10% e 15% ao ano para evitar problemas.

- Acima (desse patamar), serão avaliados com muito cuidado por nós, para que não gere riscos excessivos no sistema financeiro. Crescimento de 10% a 15% no crédito seria adequado, mas de 15% a 20%, não - disse Tombini, em sua primeira audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) como presidente do BC.

Comércio também vê inadimplência maior

A projeção oficial do BC é que a concessão de crédito termine 2011 crescendo 15%. A adoção de novas medidas macroprudenciais já foi engatilhada pela instituição na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou, no início de fevereiro, os juros pela segunda vez consecutiva em meio ponto percentual, para 11,75% anuais.

- O BC reforçou que a política monetária será menos de alta (dos juros) - avaliou o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.

Na audiência de ontem no Senado, que durou quase três horas, Tombini afirmou que no Brasil, hoje, a demanda está crescendo mais que a oferta:

- Existem elementos subjacentes que apontam para um descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda. É importante suavizar o ritmo de crescimento da demanda, para que sejam contidas pressões sobre os preços - disse Tombini

Ele defendeu que as ações adotadas pelo BC ainda estão surtindo efeito e levarão os preços a andarem no sentido do centro da meta de inflação, de 4,5% pelo IPCA, a partir do segundo semestre. Perguntado sobre as críticas que o BC tem recebido do mercado, que enxerga mais necessidade de alta nos juros, Tombini disse que é preciso ter calma. Os analistas preveem que o IPCA este ano ficará em torno de 6%, perto do teto da meta (6,5%).

- É sangue frio e tranquilidade para fazer a inflação chegar à meta num futuro próximo.

Para o comércio, um freio no crédito significará vendas menores.

- O problema é a inadimplência. O consumidor está muito endividado e a situação deve piorar com os juros mais altos - disse Antônio Carlos Borges, diretor-executivo da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio).

O discurso de Tombini se refletiu na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que subiu 1,33%, aos 67.578 pontos, diante da interpretação do mercado de que o BC está vendo um cenário mais suave para a inflação. Isso favoreceu as ações dos setores bancário e de construção, apesar da previsão de alta menor do crédito. Bradesco PN subiu 3,32% e Itaú Unibanco PN, 3,28%. O dólar recuou 0,23%, ontem, a R$1,663, na terceira queda seguida.

Colaboraram Wagner Gomes e Lucianne Carneiro

FONTE: O GLOBO

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