quarta-feira, 23 de março de 2011

Coalizão não freia ataques de Kadafi a civis

Forças aliadas lideradas por EUA, Reino Unido e França não têm conseguido frear o ataque das tropas do ditador Muamar Kadafi contra as cidades sob controle rebelde, como Misurata e Zintan, onde 50 pessoas morreram. Um caça americano F-15 caiu perto de Benghazi, mas os dois pilotos foram resgatados. O presidente Obama venceu as resistências de França e Reino Unido, conseguindo apoio para que a Otan tenha um papel estratégico na operação. Kadafi reapareceu em público e disse que sairá vitorioso.

Ofensiva não detém Kadafi

Tropas do regime atacam cidades e expõem população civil ao aumento da violência

TRÍPOLI – Apesar do recrudescimento da ofensiva da coalizão internacional, que entrou ontem em seu quarto dia, as forças aliadas lideradas por EUA, Reino Unido e França não têm conseguido frear o ataque das tropas de Muamar Kadafi contra as cidades sob controle dos rebeldes. Mesmo que mísseis e bombas da coalizão já tenham danificado uma parte dos equipamentos da defesa aérea do ditador, os aliados não têm conseguido cumprir seu principal objetivo, estabelecido pela resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU: proteger os civis líbios. Essa dificuldade ficou evidente ontem com o avanço das forças de Kadafi nas cidades de Misurata e Zintan, onde mais de 50 pessoas morreram, segundo fontes médicas, enquanto a coalizão anunciava o que parecia ser o início de uma segunda fase da operação Odisseia da Alvorada, mais focada em atacar as tropas do ditador.

Num comunicado conjunto, Reino Unido, França e EUA pediram que Kadafi freasse o avanço de suas tropas, e retirasse suas forças de Misurata, Ajdabiya e Zawiya. O ditador, no entanto, apareceu em público pela primeira vez desde o início dos ataques da coalizão em Trípoli, onde prometeu diante de uma multidão de simpatizantes que continuaria lutando.

- Seremos vitoriosos no final - disse.

Avião americano cai perto de Benghazi

A queda de um caça americano F-15 de manhã perto de Benghazi - aparentemente provocada por defeito técnico - não só representou a primeira perda para a coalizão como desatou uma controvérsia sobre a proteção de civis. Apesar de os dois americanos a bordo terem conseguido se ejetar da aeronave e serem resgatados por forças aliadas, testemunhas no local relataram que seis moradores da região foram baleados pela equipe de resgate do piloto e do técnico, na tentativa de afastar os líbios que se aproximavam dali. Essa versão, no entanto, foi negada por um porta-voz dos Fuzileiros Navais dos EUA.

- Isso não aconteceu. Posso negar 100% disso - disse Richard Ulsh.

Mas segundo o "New York Times", um fuzileiro naval afirmou que dois jatos de ataque Harrier lançaram 250 quilos de bomba durante o resgate do piloto. Segundo o militar, o piloto ejetado solicitou o ataque por precaução enquanto não chegassem para recuperá-lo.

Em visita à Rússia, o secretário de Defesa americano, Robert Gates, garantiu que os ataques da coalizão estão evitando bombardeios que possam provocar vítimas civis.

- A maior parte dos alvos da coalizão é isolada das aéreas populosas. Além disso, acho que o combate militar em curso deve diminuir nos últimos dias - disse Gates.

À noite, fortes explosões foram ouvidas em Trípoli, seguidas de disparos de artilharia antiaérea, num sinal de que a coalizão voltara a atacar a capital, e as forças leais a Kadafi, a responder. Um dos ataques foi responsável pela morte, perto da capital, de Hussein El Warfali, comandante militar de uma das brigadas de elite do Exército líbio, segundo a al-Jazeera. A mesma rede de TV também relatou que um avião das forças do ditador foi derrubado enquanto voava em direção a Benghazi, na primeira ação de fato para preservar a zona de exclusão aérea. Por sua vez, a secretária de Estado, Hillary Clinton, disse ter recebido informações não confirmadas de que ao menos um dos filhos de Kadafi morreu, e se apressou a negar que ele tenha sido alvo de forças americanas. Hillary afirmou ainda que Kadafi estaria sondando opções de exílio com países aliados, mas lembrou que tudo isso poderia não passar "de teatro" do ditador.

Mudando um pouco o foco da operação, o almirante Samuel Locklear III, responsável pelo comando tático da missão, disse que a coalizão reforçará ataques contra as tropas de Kadafi nos próximos dias, depois que 161 mísseis Tomahawk já danificaram parte das defesas aéreas do regime.

Mas apesar dos números anunciados pelos aliados, os ganhos militares da coalizão não foram capazes de impedir ataques de forças de Kadafi a cidades dominadas por rebeldes. Em Misurata, palco de violentos combates entre os dois lados, ao menos 44 pessoas morreram ontem. Entre as vítimas, há quatro crianças que estavam num carro reduzido a escombros após ser atingido por um projétil disparado por soldados do governo. O bombardeio aéreo dos arredores da cidade por aviões da coalizão levou as tropas do regime a entrarem em Misurata. Uma multidão saiu às ruas para tentar impedir a entrada dos tanques na cidade, mas foi recebida com balas. Segundo um médico trabalhando no local, "a situação é catastrófica".

- Os tanques atacaram, e franco-atiradores também participam da operação. Pedimos às organizações humanitárias que intervenham da forma que for possível para nos trazer alimentos e remédios - pediu.

As Forças Armadas americanas afirmaram que estão avaliando "todas as opções" para tentar pôr fim à violência na cidade, sem dar mais detalhes. A oeste, perto da fronteira com a Tunísia, a situação em Zintan também parecia se deteriorar. Segundo um porta-voz do movimento insurgente, as forças de Kadafi bombardearam a cidade, que está nas mãos de rebeldes, a partir de tanques, matando mais de dez pessoas. Os insurgentes afirmaram que conseguiram fazer os militares recuarem para fora de Zintan, mas temem uma nova ofensiva do regime em breve.

Já em Ajdabiya, a pouco mais de 100 quilômetros de Benghazi, o combate entre os dois lados continua, com rebeldes tendo dificuldade de avançar a oeste por falta de equipamentos militares adequados, segundo um porta-voz.

FONTE: O GLOBO

Nenhum comentário: