segunda-feira, 16 de maio de 2011

Consciência de classe :: Melchiades Filho

Nem os mais próximos acham que Aécio Neves está botando pra quebrar no Senado. Mesmo antes do caso do bafômetro, ele andou murcho. Como se pesasse nos ombros a constatação de que, enfim, depois de tanta briga dentro do PSDB, a candidatura da oposição em 2014 será mesmo a dele.

Aos poucos, porém, o ex-governador de Minas Gerais emplaca a agenda que lhe interessa, o "novo pacto federativo": estadualização de rodovias federais, compensações financeiras aos municípios, orçamento impositivo na área da segurança, redução dos mecanismos que permitem ao Planalto administrar tudo por decreto etc.

São temas de escasso apelo popular. O governador de Pernambuco até zombou. "Esse debate, sobre se a presidente pode ou não editar medidas provisórias, vai encantar alguém lá na feira de Caruaru?".

Mas são temas que soam como música para os milhares de prefeitos que marcharam a Brasília na semana passada e não arrancaram de Dilma contrapartida significativa para a queda abrupta de receitas.

Música, também, para os partidos da base aliada, atônitos com a multiplicação de cargos do PT.

Música, ainda, para um Congresso repetidamente subjugado por uma presidente que não sabe e não admite perder -como se viu na nova lei do salário mínimo e se vê na tramitação do Código Florestal.

Aécio julga difícil conquistar corações e mentes enquanto o governo estiver forte. Sabe que sua chance de vencer em 2014 depende do desgaste de Dilma e da marca PT.

Por isso adia a fusão PSDB-DEM, à espera de conjuntura que faça dessa união uma janela de infidelidade dos governistas descontentes -uma espécie de PSD às avessas.

FHC havia exortado a oposição a buscar a nova classe média, os eleitores emergentes ainda não seduzidos pelo discurso lulo-petista.

Aécio joga para outra classe média, a dos políticos, uma gente por vezes sem voz, mas com voto.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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