segunda-feira, 16 de maio de 2011

Deem-se ao respeito!:: Ricardo Noblat

“A ignorância sobre o papel da imprensa perdura nos lugares onde há voto de cabresto.” (Deputado Chico Alencar, PSOL-RJ)

Achei engraçado quando ouvi umcolega dizer que a pressão popular fora, sim, responsável pelo cancelamento da compra de uma nova frota de carros para os vereadores do Rio de Janeiro. Que pressão? A do balconista José Joel de Lima, que se acorrentou na mureta em frente à Câmara para protestar? Ou a das cem pessoas que na ocasião o apoiaram?

Aposto que nove em cada dez cariocas, se consultados, repudiariam a decisão da Câmara de gastar R$ 2,3 milhões para que todos os vereadores possam passear por aí em possantes carros novinhos em folha. Somente em duas capitais, vereadores desfrutam de tamanho luxo: Curitiba e Goiânia.

Os do Rio perderam tal mordomia há 20 anos e se ressentem disso. Mas recebem um cartão que lhes permite gastar mensalmente por conta da Câmara até mil litros de gasolina. Com mil litros poderiam percorrer 172 vezes os 58 quilômetros da Avenida Brasil. Ou dar um pulo até Manaus com direito à volta.

Onde se leu acima “pressão popular” leia-se, na verdade, “pressão da mídia”. Porque foi o barulho produzido por jornais, emissoras de rádio e de televisão que obrigou os vereadores a reverem a decisão da compra dos carros, aprovada por 41 de 43 deles, em sessão no final de abril último. Pegara mal.

Em recente encontro do seu partido, o senador José Sarney (PMDB-AP) acusou a mídia de disputar com o Congresso o papel de representar o povo. Disse: “Os deputados não sabem por que foram eleitos, e o eleitor não sabe mais por que os elegeu. A partir daí, a mídia entra ediz: Não, nós passamos a representar o povo.”

A mídia não representa o povo. Não tem delegação para isso. Caso queira, porém, corresponder ao que o povo espera dela, deve atuar em sintonia com seus sentimentos. Nem sempre a

“opinião publicada” é muito diferente da “opinião pública”. Não há diferença, por exemplo, quando se trata de cobrar seriedade no uso do nosso dinheiro.

Outro dia, o Senado anunciou que trocaria sua frota de carros próprios por carros alugados. E que assim economizaria quase R$ 6 milhões. A economia seria feita em cima dos funcionários que administram a frota atual. Só que eles não podem ser demitidos. Serão remanejados. Não haverá economia, portanto.

Sarney: os políticos são pouco respeitados porque não se dão ao respeito.

Palocci (1)

Nos últimos quatro anos como deputado federal, Antonio Palocci, chefe da Casa Civil da Presidência da República, multiplicou por 20 o valor do seu patrimônio, segundo reportagem publicada pela “Folha de S.Paulo”. O que tinha em 2006 valia R$ 375 mil. Há um ano, comprou um escritório em área nobre da capital paulista por R$ 882 mil. Pouco antes de virar ministro, e na mesma cidade, comprou umapartamento de luxo por R$ 6,6 milhões. Como deputado, em quatro anos, recebeu em salários R$ 974 mil, brutos. O que fez Palocci enriquecer tão rapidamente?

Palocci (2)

Resposta: serviços de consultoria. Quais foram seus clientes? Não diz. Quanto recebeu de cada um deles? Não diz. Qual a natureza da consultoria prestada? Não diz. Seus clientes tinham negócios com o governo? Não diz. Seus clientes passaram a ter negócios com o governo depois que ele lhes deu consultoria? Não diz. Servidor público comum é proibido de exercer cargo de administração em empresa privada. Servidor público eleito pode. Até prova em contrário, Palocci é um político honesto e, agora, rico. Mas que deve explicações ao distinto público.

FONTE: O GLOBO

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