As ações do Pão de Açúcar movimentaram ontem 26,2% do total da Bolsa de São Paulo, chegando a R$ 1,7 bi. O valor é quatro vezes o da véspera. Para analistas, o Casino, sócio de Abílio Diniz, estaria comprando para ganhar força
Fome de ações
Volume de negociação do Pão de Açúcar na Bolsa quadruplica. Papéis caem 3% em dia de especulação
Lucianne Carneiro
Um dia depois do anúncio da proposta de fusão do Grupo Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, o volume de negócios das ações da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) disparou para R$1,669 bilhão, quase quatro vezes o registrado na terça-feira (R$431,07 milhões). O montante correspondeu a 26,2% do volume do Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa. No dia anterior, a participação tinha sido de 8,1%. O dia foi marcado por muita especulação, em meio a rumores de que o sócio francês Casino estaria comprando papéis da empresa em circulação no mercado. A ação preferencial (PN, sem direito a voto) da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, nome do grupo) chegou a subir 12,09% durante o pregão, mas acabou fechando em queda de 3,07%, a R$71, a maior desvalorização do Ibovespa. Investidores aproveitaram para embolsar parte dos ganhos, já que, na terça-feira, o papel tinha subido 12,64%.
O sócio francês do Pão de Açúcar é contra e já declarou que considera ilegal a operação com seu principal rival. O negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour inclui ainda o banco BTG Pactual, que entraria como investidor, e o BNDES, via BNDESpar, o braço de equity do banco de fomento, que entraria com R$3,91 bilhões por uma fatia de 18% no capital do Novo Pão de Açúcar (NPA), nome da holding que comandaria os negócios integrados das duas redes de varejo. Para o analista da Empiricus Research Felipe Miranda, a forte compra das ações por operadores estrangeiros sugere que o movimento do Casino é possível:
- Não dá para afirmar que isso realmente ocorreu, mas seria algo como o Casino se armar para a guerra na negociação.
Por trás dos rumores está a ideia de que o Casino estaria buscando formas de se fortalecer para negociar sua posição no acordo. A compra de ações preferenciais (sem voto) não aumentaria o poder de decisão do Casino, mas, segundo analistas, poderia garantir algum poder de barganha.
- O movimento (das ações do Pão de Açúcar) foi bem atípico, com quase 30% do volume geral. O grosso foi de bancos estrangeiros - disse o analista da SLW Corretora, Cauê de Campos Pinheiro.
Diniz: "Sem emoção" por parte do Casino
Segundo dados da agência Bloomberg, a corretora Link Investimentos - que foi adquirida pelo banco suíço UBS no ano passado - foi a que teve o maior volume de compra de ações do Pão de Açúcar ontem, no montante de R$92,86 milhões. Em seguida, foi o Credit Suisse, com R$60,15 milhões.
- O que se viu foi um movimento mais de especulação que impulsionado pelos fundamentos da empresa - disse Paulo Hegg, da Um Investimentos.
Procurada, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
Ontem, o Ibovespa fechou com leve alta, de 0,05%, aos 62.333 pontos. No mercado de câmbio, o dólar recuou 0,38%, a R$1,572, menor valor desde 27 de abril, quando atingiu R$1,571.
Em entrevista ao "Jornal Nacional" ontem, o empresário Abilio Diniz, do grupo Pão de Açúcar, defendeu, a participação do BNDES na operação:
- O BNDES fez um bom negócio. Está evitando que o sistema de abastecimento seja totalmente desnacionalizado. Acho que está fazendo um serviço para o consumidor, para a sociedade, para todos os brasileiros.
Ele disse esperar que o Casino analise a oferta:
- O que eu espero é que o Casino analise a proposta que recebeu, com atenção, com cuidado, sem emoção.
FONTE: O GLOBO
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