Negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour não deve receber apoio do BNDES; sob a ótica dos consumidores, alto grau de concentração gera temor A notícia da possível fusão entre as redes Pão de Açúcar e Carrefour parece inexplicável. Chama a atenção por ao menos dois aspectos muito negativos. Ambos dizem respeito diretamente a milhões de contribuintes e consumidores.
O primeiro refere-se à participação de um banco público no financiamento do negócio. O BNDES entraria na operação, entre empresas privadas, com cerca de R$ 4 bilhões para que a fusão possa vir a ser viabilizada.
Não é a primeira vez que o banco elege um "campeão nacional" para receber dinheiro dos contribuintes sem dar maiores explicações à sociedade.
O argumento de patrocinar grupos nacionais para evitar que estrangeiros dominem o mercado brasileiro é tão falho quanto ruim. Pois abre o precedente para que dezenas de outros setores possam querer o mesmo tipo de tratamento. Desconhecem-se os motivos de o banco apoiar este e não outros empreendimentos.
Do ponto de vista do consumidor, a fusão é ainda mais incompreensível. E merece uma avaliação o quanto antes das autoridades de defesa da concorrência.
Com a fusão, Pão de Açúcar e Carrefour abocanhariam 32% de participação na média do varejo supermercadista brasileiro. Argumenta-se que tal concentração seria equivalente à encontrada nos Estado Unidos.
No Brasil, porém, a fatia de mercado decerto é maior em grandes centros como São Paulo e Rio, onde a presença e a capilaridade das duas redes é dominante.
Os interessados na fusão defendem que o negócio permitirá ganhos administrativos e logísticos nas duas redes. Isso acabaria redundando, de acordo com esse raciocínio, em preços finais menores para os consumidores.
Argumenta-se também que o NPA (Novo Pão de Açúcar) seria mais eficiente e difundiria práticas modernas de gestão, chacoalhando a concorrência em busca de inovações e custos menores.
Mas é inevitável que em fusões desse tipo haja uma diminuição importante de empregos e, neste caso específico, o fechamento de lojas que fiquem em áreas próximas umas das outras.
Por último, o negócio poderá auxiliar, com o patrocínio do Estado, a família Diniz, principal acionista do Pão de Açúcar, a contornar cláusula contratual que permite à rede Casino, concorrente do Carrefour na França, controlar o grupo brasileiro a partir de 2012.
Tal intenção vem provocando forte polêmica, que já chegou a um foro privado de arbitragem de conflitos empresariais.
Com tantos questionamentos, deve-se cobrar mais transparência tanto dos envolvidos na futura fusão quanto do banco público, que não deveria se propor a financiar esse tipo de negócio.
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