Sob pressão, a presidente Dilma cedeu e prorrogou o pagamento das emendas dos restos a pagar de 2009 - um custo de R$ 4,6 bi. A equipe econômica foi contra. Mas a ministra Ideli Salvatti avisou que seria quase impossível controlar a base no Congresso
Dilma cede à pressão
Presidente deixa discurso da austeridade fiscal de lado e prorroga emendas para conter base
Gerson Camarotti e Luiza Damé
Adeterminação da presidente Dilma Rousseff de não prorrogar o prazo para pagamento de emendas de parlamentares de 2009, no valor de R$4,6 bilhões, anunciado na terça-feira, durou pouco mais de 24 horas. O discurso do rigor fiscal, para combater a inflação, perdeu força ao longo do dia de ontem, com a crescente ameaça de sua base aliada, e à noite ela decidiu prorrogar por mais três meses o prazo do decreto que disciplina o pagamento dessas emendas, que estão nos chamados restos a pagar de 2009.
Assim que chegou da viagem oficial ao Paraguai, onde passou o dia, a presidente se reuniu com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e cedeu aos apelos da articuladora política do governo, que reproduziu o clima de beligerância na base aliada no Congresso por causa da decisão do governo de deixar caducar as emendas, o que aconteceria a partir de amanhã. O decreto vence hoje.
Ideli disse à presidente que a situação era "seríssima e que os problemas seriam muito grandes na base" se o decreto não fosse prorrogado. A ministra reproduziu o que ouviu dos líderes governistas, que foram claros no alerta de que não tinham como controlar seus liderados em votações polêmicas como a da Emenda 29, que aumenta recursos para a Saúde, e a chamada PEC-300, que cria piso salarial para policiais e bombeiros.
Ao fim da reunião com Dilma, por voltar das 21h, Ideli começou a telefonar para os líderes aliados, avisando que a presidente aceitara prorrogar a validade das emendas por mais três meses, mas que esta será a última prorrogação.
- A prefeitura que conseguir viabilizar seus projetos dentro desse período terá o dinheiro das emendas. A que não conseguir, não terá mais prorrogação - disse Ideli.
- Está certo, nós aceitamos esse compromisso, de não mais pedir prorrogação do decreto - disse o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), confirmou os termos da prorrogação do decreto, e afirmou:
- A solução é boa porque atende as prefeituras.
Ameaças explícitas ao longo do dia
Ao longo do dia, a área política do governo entrou em campo para convencer a presidente Dilma de que a briga que estava comprando com os parlamentares - ao não prorrogar as emendas dos restos a pagar de 2009 - poderia sair mais cara. O Palácio do Planalto foi informado de que setores da base aliada estavam decididos a dar o troco ao governo, pondo em votação duas propostas explosivas: a regulamentação da emenda 29, que trata do dinheiro para a Saúde, e o piso salarial dos policiais estaduais.
As emendas parlamentares que Dilma pretendia cancelar - mas acabou prorrogando à noite - custariam cerca de R$4,6 bilhões, se todos os projetos forem aprovados. Mas só o custo da aprovação dos dois projetos (Emenda 29 e piso salarial dos policiais) chegaria a pelo menos R$50 bilhões.
Na Câmara, ontem, não houve votações no plenário porque o governo não queria correr riscos. Mas, durante o dia, líderes aliados se revezaram em reuniões para decidir o que fazer nos próximos dias.
Os dirigentes petistas estavam preocupados com o acordo para aprovação de convite ao ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, para falar na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. Isso foi feito com a ajuda do vice-líder do PMDB, Eduardo Cunha(RJ), e de pelo menos dois petistas: Eduardo Santos (RJ) e Jorge Boeira (SC), o que foi entendido como uma ameaça velada de manter o assunto em pauta.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário