A presidente Dilma Rousseff alertou a equipe econômica sobre os inconvenientes de adotar, neste momento, medidas para alterar a política cambial, que tem hoje um papel essencial na contenção da inflação, pela via das importações. Parece-nos que isso oferece oportunidade para uma análise mais pormenorizada do tema.
O essencial é que os estímulos à importação estão provocando uma desindustrialização que terá efeito prolongado e altamente negativo na economia. O recuo da participação dos produtos manufaturados na pauta das exportações diminui a demanda doméstica, assim como as receitas do governo, que, de outro modo, poderiam aumentar sem necessidade de aumentar a alíquota dos impostos, pois são bens com maior valor agregado. Mas o maior inconveniente é que esse processo elimina os estímulos à inovação, que permitiriam presença mais importante do País nos mercados, criando bases para uma exportação mais sustentável. Um país cuja produção fica estagnada não tem motivação para investir e inovar: torna-se dependente.
Com uma taxa cambial irreal, o governo se obriga a subsidiar algumas das suas empresas, aumentando o déficit público. Por outro lado, com a elevação do preço das commodities, de que é grande produtor, o País não está se dando conta da fragilidade das receitas obtidas em divisas, uma vez que se trata de bens sujeitos a violentas variações de preços externos.
Pode-se argumentar que a supervalorização da moeda nacional possibilita a grande vantagem de assumir dívidas externas a um custo excepcionalmente baixo. Mas ocorre que esse estímulo ao endividamento externo excessivo está na origem de todos os graves problemas que muitos países enfrentam agora, sem falar que uma eventual mudança da taxa cambial pode levar o País ao "default".
Além disso, uma taxa cambial excessivamente valorizada leva o Brasil a ser classificado entre os mais caros do mundo, e isso inibe o desenvolvimento do turismo, que, por sua vez, é fonte de importante demanda de mão de obra de serviços e de favorecimento ao comércio.
Caberia avaliar a contribuição dada pela importação ao controle da inflação: é grande no caso dos preços de automóveis (que podemos fabricar a custo menor, com taxa cambial real), de artigos de residência e de informática. Mas, em compensação, os bens de alimentação que produzimos têm de acompanhar os preços internacionais de uma moeda supervalorizada.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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