Substituto de Pagot perde o cargo por denúncias envolvendo sua mulher
Uma nova denúncia provocou a queda de mais um indicado do PR no Ministério dos Transportes e levou a presidente Dilma a determinar uma mudança geral nos cargos da pasta e de estatais ligadas a ela. Ontem, foi afastado temporariamente José Henrique Sadok de Sá dos cargos de diretor-executivo e diretor-geral interino, após a acusação de que a construtora da mulher dele tinha contratos de R$ 18 milhões com o Dnit. A faxina que a presidente Dilma vai fazer no ministério - e que incluirá também a Valec, que cuida de ferrovias - será gradual, para evitar o agravamento da crise. O diretor-geral afastado do Dnit, Luiz Antônio Pagot, não vai ficar no cargo quando voltar das férias.
"Faxina" será ampla, mas gradual
Substituto de Pagot, outro diretor do Dnit é afastado e leva Dilma a planejar mudança geral
Gerson Camarotti, Regina Alvarez e Maria Lima
A presidente Dilma Rousseff decidiu fazer mudança total nos cargos de diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit. Ontem, ela determinou o afastamento temporário de José Henrique Sadok de Sá dos cargos de diretor-executivo e diretor-geral interino, após novas denúncias contra o órgão. Agora, já são três os cargos de diretoria vagos no Dnit, sendo que dois dos principais dirigentes foram afastados no rastro das denúncias de corrupção. Para não paralisar o órgão e evitar nova crise, as mudanças serão graduais e ocorrerão durante todo o segundo semestre.
Dilma também decidiu mudar o comando da Valec (estatal que cuida de ferrovias), que já teve seu presidente afastado. Ontem, ela se reuniu duas vezes com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para discutir a crise no setor e tentar resolver o impasse no Dnit. A expectativa era que seria anunciado ainda ontem o novo diretor interino do órgão, mas a decisão foi adiada.
O início das mudanças foi precipitado pela notícia de que a construtora Araújo, da mulher de Sadok, Ana Paula Batista Araújo, realizou, entre 2006 e 2011, contratos de R$18 milhões para obras em rodovias do Dnit, principalmente em Roraima, terra do diretor, segundo "O Estado de S. Paulo".
- Diante desses fatos, não tinha outra atitude a tomar - disse Passos, determinando investigação interna.
Sadok: licitações foram "legítimas"
Sadok acumulava os dois principais cargos de comando do Dnit no lugar de Luiz Antonio Pagot, de férias após Dilma ter determinado seu afastamento. Procurado, Sadok não atendeu ontem os pedidos de entrevista, mas já dissera que não tem influência nos contratos fechados pela empresa da mulher e que a construtora participa "de licitações legítimas" do governo de Roraima.
Já sob a mira de setores da oposição, que argumentam que ele esteve à frente das decisões dos Transportes nos últimos anos, Passos disse que Dilma o escolheu para fazer mudanças:
- Ela está confiante de que eu possa promover modificações substanciais de gestão e fazer o programa de investimentos, o PAC, ser tocado de forma competente e ritmo vigoroso. E conduzir o ministério nos melhores padrões de ética e moralidade. Significa rever práticas administrativas, trocar pessoas onde necessário e aprimorar o planejamento setorial.
Desde o início da semana, Dilma já se decidira a trocar todos os cargos do Dnit e encarregou o novo ministro das mudanças. Passos foi nomeado após a situação do ex-ministro Alfredo Nascimento ficar insustentável.
- A ordem da presidente em relação ao Dnit e à Valec é muito clara. Ela quer sanear esses órgãos. Não vai ter contemplação. Se necessário, não vai ficar pedra sobre pedra - disse um interlocutor com acesso a Dilma.
Dilma avalia que seria incoerente substituir só Pagot, já que as decisões do órgão são colegiadas, e já há consenso também pela saída do diretor de Infraestrutura Rodoviária, Hideraldo Caron, filiado ao PT gaúcho.
- Não dá para manter o Caron e tirar o Pagot. As decisões são colegiadas. Depois do que o próprio Pagot falou no Congresso, o futuro dos dois está associado. Se o Caron ficar, pode ter nova crise - disse esse auxiliar.
Pagot deve sair na volta das férias, dando tempo a Dilma para escolher o substituto, que precisa ser sabatinado pelo Senado. Mas Dilma pode ter dificuldade na Casa, sobretudo com o PR. Em conversas com parlamentares ontem, o senador Blairo Maggi (PR-MT) mostrou-se irritado com as afirmações de que Dilma exonerará Pagot, seu afilhado político. Blairo tem ameaçado se declarar independente do governo. O ex-líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), mostrou a preocupação:
- Isso está parecendo um dominó colocado enfileirado.
Questionada sobre a mudança total no Dnit, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foi cautelosa:
- É um processo lento. Não dá para substituir toda a diretoria de uma vez, senão o Dnit não pode deliberar, fica paralisado. Não é mudança fácil.
FONTE: O GLOBO
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