Cada vez que uma barata surge na sua frente, Dilma Rousseff não pestaneja -dá-lhe logo uma chinelada mortal.
Tem sido assim há duas semanas, desde que vieram à tona os escândalos no Ministério dos Transportes. Diante das denúncias de cobranças regulares de propinas e obras superfaturadas, a presidente já no dia seguinte acertou quatro. Entre eles, Luiz Antonio Pagot, o poderoso diretor-geral do Dnit.
Três dias depois foi o próprio ministro Alfredo Nascimento quem recebeu uma sapatada e caiu. Anteontem, a presidente se viu obrigada a tirar o calçado pela terceira vez para acertar mais dois.
Um deles, José Henrique Sadok, braço direito e substituto interino de Pagot no Dnit. Soube-se que sua mulher, dona de empreiteira, recebeu R$ 18 milhões em contratos com o órgão que o marido chefiava.
O outro a cair era uma espécie de assessor fantasma da direção do Dnit, onde estava a serviço do deputado Valdemar Costa Neto. Pagot o chamou de "boy" e de "estafeta".
Em todos os casos, Dilma agiu com rapidez e determinação, coisa que Lula jamais fez. Mas Dilma, em todos os casos, só mostrou o chinelo depois que a imprensa trouxe à luz as baratas. Ela pisa e torce o pé, mas a reboque do noticiário. Sua ação saneadora é tão veemente quanto pontual e limitada.
Dilma talvez gostasse de realizar o desejo da personagem de Clarice Lispector no famoso conto: "Agora eu só queria gelidamente uma coisa: matar cada barata que existe". Mas ela sabe que não tem condições de dizer: "Esta casa foi dedetizada". Com o ninho, destruiria os alicerces do sistema que a sustenta.
Os gestos de repulsa à corrupção são, em grande medida, responsáveis pelo acolhimento da presidente nas classes médias mais ou menos alérgicas ao PT. Mas é essa mesma intransigência que mantém as baratas de antenas ligadas, desconfiadas do estilo da nova dona da casa. Não está claro ainda o desfecho da luta de Dilma com suas baratas.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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