Instituto que petista quer criar será em SP e vai ter acervo sobre ditadura e redemocratização
Roldão Arruda
Planejado inicialmente para abrigar o acervo dos dois mandatos presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva e contar a história do primeiro governo petista no País, o memorial que o Instituto Cidadania planeja erguer nos próximos anos começa a ganhar contornos mais precisos - e ambiciosos. Curiosamente, representantes de Lula visitaram recentemente o Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, e conversaram com o ex-presidente tucano - a quem Lula atacou sucessivas vezes quando presidente, apesar de terem atuado juntos pela redemocratização do País. O objetivo foi conhecer a estrutura daquela entidade, tanto do ponto de vista da organização do acervo quanto da estrutura jurídica.
Já está praticamente acertado que o Memorial da Democracia, nome ainda provisório da instituição que abrigará o acervo de Lula, deve abranger a história dos movimentos e das lutas sociais desde a Proclamação da República, com ênfase na resistência à ditadura militar - especialmente o fim dos anos 70, quando Lula aparece na cena política do País como líder sindical dos metalúrgicos do ABC e se aproxima de FHC.
Ao receber os interlocutores de Lula, o ex-presidente tucano falou de maneira entusiasmada do sistema de organização de documentos adotado no instituto e que demorou quase cinco anos para ficar pronto. O que mais chamou a atenção dos aliados do petista foi a capacidade de produção de estudos, seminários e debates do Instituto FHC.
Em outra vertente, além desse diálogo envolvendo as duas principais referências políticas no recente processo de consolidação da democracia brasileira, já está praticamente acertado que o Memorial da Democracia não será instalado em São Bernardo do Campo, na região metropolitana da capital paulista. Contrariando as expectativas das lideranças sindicais e petistas daquela cidade, o endereço deverá ser algum edifício no centro de São Paulo, na região da Nova Luz.
Vocação. A escolha estaria ligada à vocação da região para se tornar um polo de museus e casas de cultura.
Por ali já funcionam a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica de São Paulo (cujo conselho de administração é presidido por Fernando Henrique), a Pinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa. Também está sendo erguido na região o futuro Teatro de Dança.
Nas conversas com assessores, Lula tem solicitado com insistência que o memorial dê atenção aos espaços interativos, destinados a oferecer aos visitantes a sensação de participação nos eventos históricos. O modelo mais citado é o do Museu do Futebol, realizado pela Fundação Roberto Marinho, com exposições projetadas por Daniela Thomas e Felipe Tassari.
Em uma de suas salas mais concorridas, o visitante parece estar no meio de uma torcida num estádio repleto. Outra referência é o Museu da Língua Portuguesa.
Doações. A forma jurídica da futura instituição ainda está sendo analisada. Já se sabe que aceitará colaborações de empresas e pessoas, a exemplo do que acontece com o Instituto Fernando Henrique Cardoso, uma sociedade civil sem fins lucrativos.
Segundo informações do site oficial da instituição, "as atividades ligadas ao tratamento técnico do acervo presidente Fernando Henrique Cardoso e às suas atividades têm recebido recursos captados ao amparo da Lei Rouanet".
No caso do Memorial da Democracia, Lula também gostaria de associá-lo a alguma instituição de ensino universitário, segundo amigos do petista. Estuda-se até a participação de centrais sindicais em sua estrutura.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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