domingo, 17 de julho de 2011

O 'topete' de Itamar na hora de governar o país

Relatos sobre ex-presidente, que morreu há duas semanas, mostram como era a sua intolerância com escândalos

Flávio Freire

SÃO PAULO. Mal começava o ano de 1994 e o governo Itamar Franco enfrentava uma crise no Ministério dos Transportes, com denúncias de corrupção na pasta, como ocorreu também com a presidente Dilma Rousseff. Com Itamar, bastou um emissário soprar em seu ouvido que a então ministra da pasta, Margarida Coimbra do Nascimento - que não tem nenhum parentesco com o ex-ministro Alfredo Nascimento -, era casada com o diretor de uma empresa envolvida em escândalo. Do gabinete, ele telefonou para Margarida, que conseguiu argumentar só por cinco minutos até ser demitida, menos de três meses depois de assumir o cargo.

Com o país em frangalhos politicamente, Itamar buscou no inesperado pulso firme a forma de governar sem atropelar preceitos éticos que teriam pautado sua vida pública. Aos poucos, mostrou-se pouco afeito a compactuar com o jogo de poder. Lembram alguns que Itamar tinha como hábito abrir mão da clássica tese de que o ônus da prova é de quem acusa, pelo menos como pretexto para manter no governo pessoas sob acusações sérias. O acusado que se defendesse a título de pessoa física, avaliava ele.

Sem muito alarde, Itamar deu ouvidos às reclamações do então ministro da Educação, Murilo Hingel, que enfrentava forte lobby de escolas e universidades particulares. Com a situação se desenhando incontrolável no médio prazo, Itamar fechou o Conselho Federal de Educação, numa atitude que teria evitado infiltração de más influências na pasta. Hingel lembra que Itamar atendeu ao apelo para evitar o desmantelamento do setor.

Como fora nomeado por questões técnicas, o presidente confiava no plano de trabalho de Hingel. Ao contrário do que acontece hoje, com partidos loteando o governo por absoluto interesse eleitoral.

Na avaliação de cientistas políticos e pessoas da órbita do governo, pesa a favor de Itamar o corte na raiz que ele mesmo exigia a cada problema à vista. As crises nas áreas de transporte e educação indicam esse caminho: o reduzido loteamento da máquina pública e a distribuição de cargos a profissionais técnicos em setores estratégicos teriam ajudado o presidente a levar adiante um governo sem grandes sobressaltos. Antes, porém, já havia enfrentado os dois principais episódios que macularam sua gestão.

- Foi um soco no estômago do Itamar ter que enfrentar as acusações contra o (Henrique) Hargreaves e o que aconteceu com o (Rubens) Ricupero. Mas o presidente não passava a mão na cabeça do ministro só pra tentar evitar desgaste ao governo - lembra o senador Pedro Simon, líder do Congresso no governo de Itamar.

FONTE: O GLOBO

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