Para não perder sustentação, presidente não fará limpeza em ministérios do partido
Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Determinada a levar a faxina no Ministério dos Transportes até o fim, a presidente Dilma Rousseff será mais cautelosa, no entanto, com aliados mais poderosos, que comandam áreas igualmente importantes do governo. Para evitar uma rebelião generalizada nos partidos da base governista, a ordem no Palácio do Planalto é deixar para outro momento uma eventual limpeza em ministérios comandados por indicados de partidos como PMDB, PP, PDT e até PCdoB, que já foram alvo de denúncias de irregularidade.
Uma avaliação pragmática feita por ministros do Palácio do Planalto indicou que Dilma não pode dar ao PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, o mesmo tratamento dado ao PR. E, para evitar que a sustentação política do governo no Congresso seja enfraquecida, Dilma não deve mexer também agora no Ministério das Cidades, comandado pelo aliado PP, nem no Ministério do Trabalho, comandado pelo PDT.
Presidente quer que ação nos Transportes sirva de alerta a partidos da base
A presidente vai se dedicar, por ora, a fazer a limpeza completa nos Transportes e quer que essa sua ação sirva de alerta para todos os partidos da base. Para um interlocutor de sua confiança, Dilma, num desabafo, alertou que até mesmo as alianças políticas têm limite.
- Pegaram pesado nos Transportes. Por isso, vou adiante, não vou passar a mão na cabeça de ninguém. Tenho acordo político com os partidos. Mas esse acordo não é com o malfeito - disse Dilma, segundo esse relato.
No Palácio do Planalto, a avaliação é que seria um erro político partir para um enfrentamento com o PMDB. Auxiliares da presidente destacam que é boa a relação com o partido de seu vice, apesar de problemas setoriais. Os próprios caciques peemedebistas também avaliam que o partido não está na mira de Dilma. A explicação dos dois lados é a mesma: a presidente está comprando briga com o PR, um partido médio e sem lastro no governo, o que não é o caso do PMDB. Dilma sabe que pode ter dificuldades sem o apoio do PR, mas também tem consciência de que perde a governabilidade sem o apoio do PMDB.
- O PMDB está tranquilo. A conduta do partido é exemplar. Os nossos ministros estão bem. Tem vários partidos que fizeram indicações técnicas, inclusive o PT. O que ocorreu com o PR é uma questão pontual. Não haverá isso (faxina) em outros ministérios - disse o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).
Um assessor palaciano ressaltou que podem ser feitas mudanças pontuais, no Ministério do Turismo ou em estatais como Furnas Centrais Elétricas. O mesmo pode ocorrer no Ministério do Trabalho. Os próprios petistas já relataram ao Planalto suspeitas de que o pedetista Carlos Lupi estaria usando o ministério para fortalecer a Força Sindical.
Um ministro peemedebista perguntou, sutilmente, se alguma medida saneadora poderá atingir as pastas administradas pelo PT. Ou seja, é o PMDB sinalizando que, antes de Dilma direcionar suas baterias para o partido, terá de fazer a limpa também entre petistas.
- A Dilma tem noção do que está fazendo - observou esse ministro, insinuando que a presidente tem consciência política de que não pode abrir mão do seu maior parceiro no governo.
Na Valec, a empresa estatal que administra as ferrovias, ligada ao Ministério dos Transportes, a determinação da presidente Dilma, conforme ela já anunciou, também é de mudar todo o comando. Já foi exonerado, da presidência da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, uma indicação do secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto (SP), além de dois assessores. Outras mudanças virão.
FONTE: O GLOBO
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