É de se perguntar com que autoridade o ex-presidente Luiz Inácio da Silva diz que os demitidos do Ministério dos Transportes poderão voltar a seus cargos se "provarem" ser inocentes.
Lula faz média com os partidos atingidos (PR e PT), sem atinar para a inconsequência da declaração. Primeiro, porque não é dele (ou não deveria ser) a prerrogativa de decidir sobre nomeações e demissões. Segundo, não havendo inquérito policial - e por enquanto não há - não existe como comprovar culpas ou inocências.
A sem-cerimônia de Lula com os ritos do poder formal já se evidenciou algumas vezes desde que deixou a Presidência. Seja atuando como interlocutor da base aliada na crise Palocci, ou visitando obras que não teve tempo para inaugurar quando presidente.
Lula se declara um "ajudante" de Dilma e, assim, tenta não imprimir a suas ações um caráter de usurpação e obter junto à opinião pública salvo-conduto para circular como a sombra oficial da presidente.
Não só não pretende "desencarnar", como vai ocupando o espaço privilegiado de um "shadow president".
À falta de uma oposição com consistência, unidade e senso de direção para cumprir esse papel.
Dora Kramer, jornalista. Vícios na origem. O Estado de S. Paulo, 24/7/2011.
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