Discurso ético é arma dos nove senadores
Diana Fernandes
BRASÍLIA. O discurso ético em defesa de uma faxina completa em todos os órgãos do governo sob suspeita de corrupção é aplaudido por muitos governistas, mas esbarra na maioria fisiológica que compõe a base aliada no Congresso e que dá, com seus votos, sustentação à governabilidade. Os senadores que se uniram ontem em torno da proposta de incentivar a presidente Dilma Rousseff a fazer a faxina até o fim formam um grupo de nove senadores, sendo a maioria de partidos da base aliada - apenas um é de um partido de oposição, Randolfe Rodrigues, do PSOL do Acre.
A baixa adesão à frente de combate à corrupção reflete o receio de maioria esmagadora da base governista com os resultados de investigações mais profundas e punição aos políticos e partidos eventualmente envolvidos em irregularidades. Como nem a oposição aderiu à proposta de apoio às ações de corrupção do governo Dilma, o grupo só terá mesmo o discurso ético como principal arma.
No Senado, os partidos do campo governista somam 63 senadores. Considerando as dissidências conhecidas, esse número cai, no máximo, para 53. Ou seja, o governo tem número para impedir CPIs, aprovar todo tipo de matéria, inclusive emendas constitucionais que exigem quórum qualificado de três quintos (49 senadores).
Na Câmara, a situação do governo é mais tranquila ainda, com os partidos governistas somando 390 deputados. Número muito superior aos 308 exigidos para a aprovação de uma emenda constitucional.
Nos dois casos, na Câmara e no Senado, os principais líderes aliados já manifestaram preocupação - em alguns casos, repúdio - à ideia de uma limpeza ética total. Adotam regularmente o discurso do risco da desmoralização da classe política para a governabilidade e para as instituições.
Nem mesmo os chamados partidos ideológicos - PCdoB, PSB e o PDT - fecharam com a proposta da frente do Senado. Eles também não escaparam do fisiologismo, da troca de favores com o governo.
Quando a atual onda de denúncias chegou ao Ministério dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff agiu de imediato, enfrentando o pequeno PR, que tem fama e histórico de partido fisiológico, e demitindo ministro e executivos com postos de comando no setor.
A prova da força dos partidos maiores se mostrou assim que as denúncias beiraram os ministérios do PMDB, da Agricultura e do Turismo. A presidente mudou de tática e desses dois setores podem ser contadas duas ou três demissões.
Os nove senadores da Frente Suprapartidária de Combate à Corrupção e Impunidade são: Pedro Simon (PMDB-RS); Cristovam Buarque (PDT-DF); Pedro Taques (PDT-MT); Randolfe Rodrigues (PSOL-AP); Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE); Ricardo Ferraço (PMDB-ES); Ciro Miranda (PSDB-GO); Ana Amélia Lemos (PP-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP).
FONTE: O GLOBO
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