O acerto de contas com a corrupção institucionalizada bateu na porta do PMDB. Era previsível. Já faz tempo que a pasta do Turismo se converteu em central de maracutaias envolvendo emendas parlamentares, empresas de fachada e convênios fajutos.
Por ora, o afilhado de Sarney segue no cargo.
Mas o problema maior reside na Agricultura, comandada por Wagner Rossi, o homem de Michel Temer. Conforme o personagem vai sendo retirado da sombra, percebe-se que não se trata de passar a limpo uma, duas ou três suspeitas de corrupção, mas sim toda uma vida dedicada aos princípios do PMDB.
Se fosse aplicar ao partido os critérios que adotou em relação ao PR, Dilma teria motivos de sobra para alcançar Wagner Rossi com suas chineladas. É pouco provável que isso aconteça, ao menos por ora.
Pelo seu tamanho e pela posição que ocupa na aliança, o PMDB tem força para viabilizar ou melar o que um de seus caciques já chamou de "esse negócio da governabilidade". São 20 senadores e 80 deputados, além da ameaça, já vocalizada, de formar um bloco na Câmara com PR, PTB, PP e PSC, o que amplificaria muito seu poder de chantagem.
Por isso, o caso Wagner Rossi talvez exponha os limites do método Rousseff de depuração do sistema político. O ministro não arreda o pé da Agricultura, onde Temer o plantou. A não ser que seja apanhado em flagrante ou vire alvo de mobilização popular. Mas a indignação difusa das classes médias ainda parece muito distante de deixar o sofá ou ir além da tela do computador.
A presidente não disfarça sua ojeriza pela política como ela é, mas foi com esse pacote de viagem (ou essa cesta básica) que ela se elegeu. Em grande medida, é prisioneira desse arranjo que avalizou.
Com seu modo de agir, Dilma despertou expectativas na sociedade e insatisfações entre os políticos. Do jeito que está armado o jogo, é possível que venha a frustar as primeiras e não consiga controlar a sede de revanche dos amigos de Lula.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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