Mal saída da crise nos Transportes, a presidente Dilma Rousseff demitiu ontem o terceiro ministro em dois meses, pouco depois de completar apenas um semestre no Planalto. Ministro da Defesa desde o governo Lula, Nelson Jobim não teve alternativa senão entregar sua carta de demissão ontem à noite, após uma conversa de apenas cinco minutos no Palácio. A demissão, porém, já estava decidida desde cedo. A gota d"água foram declarações de Jobim à revista "Piauí": ele chamou a ministra Ideli Salvatti de "fraquinha" e disse que a colega Gleisi Hoffmann "não conhece Brasília". Semana passada, o então ministro já tinha contrariado a presidente ao confessar que votara no tucano José Serra nas eleições de 2010. O novo ministro da Defesa será Celso Amorim, que foi chanceler do governo Lula. A presidente Dilma indicou a nova diretoria do Dnit e escolheu um general, Jorge Ernesto Pinto Fraxe, para comandar o órgão
Jobim ataca e fica sem Defesa
Dilma escolhe Celso Amorim, que também foi ministro de Lula, para o ministério
Luiza Damé, Cristiane Jungblut e Maria Lima
Em sete meses de governo, a presidente Dilma Rousseff demitiu ontem o terceiro ministro, todos indicados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram três demissões em apenas dois meses. Depois de Antonio Palocci (Casa Civil) e Alfredo Nascimento (Transportes), ontem foi a vez de Nelson Jobim deixar o Ministério da Defesa. O PMDB, partido de Jobim, tentou ficar com o posto, mas Dilma escolheu outro ex-ministro de Lula, o embaixador aposentado Celso Amorim, que foi chanceler de 2003 a 2010.
Jobim perdeu o cargo depois de várias provocações à presidente, com quem nunca teve uma relação próxima. Sua saída foi decidida por Dilma ainda na noite de quarta-feira, quando ela soube do teor das declarações de Jobim à revista "Piauí".
Nos últimos dez dias, o ministro provocou polêmicas no governo, culminando com a revelação, à "Piauí", de um diálogo com a presidente sobre a contratação do ex-deputado petista José Genoino para a assessoria do Ministério da Defesa e também do que pensa sobre as ministras Ideli Salvatti - "bem fraquinha" - e Gleisi Hoffmann - "nem conhece Brasília". No caso de Genoino, Jobim contou à revista que, quando Dilma lhe perguntou se ele seria útil como assessor na Defesa, teria respondido: "Presidente, quem sabe se ele pode ser útil ou não sou eu". Para Dilma, isso foi a gota d"água.
Jobim entregou a carta de demissão à presidente pouco depois das 20h, 15 minutos após desembarcar na Base Aérea de Brasília, num encontro rápido e frio no Palácio do Planalto que durou cerca de cinco minutos. Ele estava em Tabatinga (AM) quando recebeu um telefonema de Dilma, depois do almoço. Ele só voltaria a Brasília no fim da noite, mas ela pediu que ele antecipasse o retorno, pois não queria protelar a exoneração.
Para militares, insubordinação
O anúncio oficial da demissão de Jobim foi feito pela ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, por volta de 20h15m. Ela também disse que Dilma havia convidado Amorim para o cargo. Amorim é o segundo diplomata a ocupar o Ministério da Defesa e chegou a ser citado para o cargo em outras crises na pasta. O embaixador José Viegas foi o primeiro ministro da Defesa de Lula, depois substituído pelo então vice José Alencar.
Da área militar, a presidente Dilma recebeu sinalizações, logo cedo, de que, apesar da atuação de Jobim no Ministério da Defesa, os comandantes não concordavam com o "comportamento de insubordinação" do ministro em relação à comandante-em-chefe das Forças Armadas.
A presidente foi rápida na substituição de Jobim porque já tinha tomado a decisão de tirá-lo do posto desde que ele explicitou, em entrevista ao portal UOL, que tinha votado no tucano José Serra, no ano passado. Dilma tinha conhecimento disso, mas considerou deselegante e inoportuno ele confessar publicamente o voto em Serra. E ainda acrescentar que, se o tucano fosse o presidente, faria a mesma faxina que Dilma fez nos Transportes.
A saída de Jobim já era dada como certa pela classe política desde as primeiras horas do dia. Tanto adversários como amigos do peemedebista diziam que ele havia extrapolado e perdido as condições de continuar no cargo. Já a escolha de Celso Amorim para a Defesa dividiu opiniões entre políticos governistas e de oposição.
- Achei a escolha brilhante. Um nome muito preparado, uma solução muito boa. É um diplomata com grande experiência governamental, ficou oito anos no Ministério de Relações Exteriores e tem grande afinidade com Lula - disse Paulo Teixeira (SP), líder do PT na Câmara.
O líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), também elogiou a escolha de Amorim:
- É uma bela escolha da presidente Dilma. Ótima escolha.
Já o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), avaliou como temerária a ida de Amorim para um cargo estratégico como a Defesa, por seu viés esquerdista e sua política de aproximação com ditaduras, como a do Irã. Disse que Jobim era de competência incontestável e disciplinou as Forças Armadas.
- Jobim foi trocado por um fanático esquerdista. Isso é um perigo na Defesa pelo seu passado de aproximação com ditaduras e suas ligações com Cuba e Venezuela. Muito mais que uma crítica, vejo a solução como extremamente temerária para um cargo estratégico de defesa nacional. Só falta o Amorim levar o Marco Aurélio Garcia e o Samuel Pinheiro Guimarães. Acho que será um desastre! - comentou Demóstenes.
Mesma preocupação foi manifestada pelo líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP):
- Espero que ele (Celso Amorim) não deixe se contaminar com o viés político-ideológico, o que muita vezes ocorreu no Ministério das Relações Exteriores. Gostaria de lamentar a saída de Jobim, com um currículo extremamente qualificado.
- Essa é uma colocação totalmente descabida! Qualquer que fosse o ministro iria executar a política da presidente Dilma. A política externa implementada por Amorim não tinha viés ideológico. É um nome muito adequado para o cargo - retrucou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
Antes mesmo da oficialização da demissão de Jobim, já havia se estabelecido uma acirrada disputa entre petistas e peemedebistas pelo comando do Ministério da Defesa - nenhuma das partes ganhou. A lista de candidatos citados ao longo do dia tinha quase uma dezena de nomes: o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; o vice-presidente Michel Temer; o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP); o ministro Moreira Franco, que o PMDB tentou emplacar; e até o ex-ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, que era visto como uma solução institucional. O nome de Celso Amorim também entrou nessa lista, mas com algumas ressalvas de que ele teria resistência junto às Forças Armadas.
FONTE: O GLOBO
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