A “faxina” atribuída à presidente Dilma Rousseff foi suspensa ou abandonada face à inviabilidade ou impossibilidade de combinar os benefícios à imagem dela com a preservação da base parlamentar governista, cuja amplitude tem sido peça essencial para o controle do Congresso pelo Executivo e para as alianças eleitorais do lulismo. Ao contraste com o antecessor no acolhimento – e não no rechaço – de denúncias consistentes da imprensa sobre irregularidades praticadas em ministérios e outros órgãos do governo, contraste bem recebido pela opinião pública, segue-se agora o empenho oficial de desconsiderá-las especialmente quando envolvam o principal partido aliado, o PMDB, e, sobretudo o PT. E diante dos riscos de derrotas em votações importantes nas duas casas do Legislativo, bem como da criação de uma CPI. Mas o uso do astuto marketing da “faxina ética” de Dilma e da aparência de seu distanciamento em relação ao antecessor – uso que poderá ser retomado num contexto considerado favorável e se isso for útil ao tutor Lula – esse uso suscitou várias e contraditórias reações no campo oposicionista e no próprio PT. Reações diferenciadas por interesses e perspectivas que resumi nos três tipos apontados no título acima.
Parcerias político-administrativas – O exemplo mais significativo de aproveitamento no campo da oposição do marketing da imagem ética e independente da presidente Dilma foi o encontro dela com os governadores do Sudeste, promovido pelo paulista Geraldo Alckmin no início da semana passada na capital de seu estado, com a participação do ex-presidente FHC. Alckmin trocou o reconhecimento de tal imagem e a integração entre o programa federal Brasil sem Miséria e os estaduais Renda Cidadã e Ação Jovem pela garantia de recursos do Palácio do Planalto para a conclusão do Rodoanel e outros projetos do seu Plano Plurianual de Investimentos entre 2012 e 2015. Trata-se de uma cooperação administrativa com o governo federal importante para as duas esferas e sobretudo para o estado, sem necessárias implicações políticas ou eleitorais. Mesmo assim, um colunista político (José Roberto de Toledo, do Estadão) avaliou que, a eloquência dos elogios mútuos entre os dois protagonistas do encontro “se explica se Alckmin estiver preocupado em garantir sua reeleição em 2014, e fazer dela trampolim para a candidatura presidencial em 2018. Ele teria 66 anos. Para o governador ter chances daqui a sete, Dilma – e não Lula – precisaria disputar em 2014 pelo PT”.
Cálculos e apostas a respeito dos passos políticos de Dilma – Na mídia, artigos de vários analistas e até editoriais de veículos de forte posicionamento crítico ao governo avaliaram positivamente os passos da “faxina” da presidente, combinando a cobrança de mais ações com a perspectiva da concretização disso. Entre lideranças com postura independente ou oposicionista no Congresso, o senador Jarbas Vasconcelos destacou-se ao propor explicitamente apoio a Dilma, apostando em progressivo distanciamento entre ela e Lula. Eis a chamada e trechos de reportagem do Globo, de domingo último, com entrevista dele: “O que a gente não pode é esmorecer”. “Integrante da frente contra a corrupção, Jarbas Vasconcelos diz que faxina é forma de Dilma reforçar imagem independente de Lula”. “Acho que vai ter um conflito, mais cedo ou mais tarde, com o desejo dele de volta à presidência em 2014 e o desejo dela de permanecer no poder, de querer se reeleger”. Reação contraposta à do senador do PMDB de Pernambuco foi a de dirigentes do PT (manifestada em off na imprensa), temerosos de desdobramentos da “faxina” prejudiciais à imagem do governo Lula, bem como de efeitos negativos para o partido, especialmente em São Paulo, da parceria Dilma-Alckmin.
Realismo, político e eleitoral – Dentre as reações de lideranças do PSDB, destaco uma pelo realismo de identificação do objetivo antioposicionista da “faxina” da presidente Dilma – a de Aécio Neves. Objeto de reportagem, também do Globo de domingo, com o título Aécio: faxina de Dilma é ‘slogan de campanha’. Depois de criticar “o aparelhamento da máquina pública pelo PT”, ele apontou ‘a formação de feudos partidários como verdadeiros responsáveis por distorções que levam à corrupção’. Outros trechos da matéria: ‘O governo acorda todos os dias, deve abrir os jornais quase como filando uma carta de baralho para saber quem é o próximo denunciado, parta, a partir daí, agir. Para um governo com apenas oito meses de duração, já está muito envelhecido’ – criticou Aécio, que defendeu medidas pró-ativas de combate à corrupção, como a ação de auditorias e da Controladoria Geral da União. ‘Um governo que com oito meses está premido pela agenda ética é um governo que não tem iniciativa. Onde estão as grandes reformas? O Brasil precisa de muito mais, disse, em referência às reformas política, tributária e previdenciária, entre outra’.
Jarbas de Holanda é jornalista
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