A presidente Dilma Rousseff tem dado sinais claros de que pretende enfrentar a estrutura de corrupção implantada e difundida na Esplanada dos Ministérios, mesmo sabendo que esta rede dá sustentação política ao seu governo. Lula governou apoiado nesta teia de negócios escusos que domina a política brasileira, permitindo que os partidos aliados fizessem a farra nos respectivos ministérios com "porteira fechada", em contrapartida, apoiavam as decisões do governo. A presidente Dilma deve saber que este sistema nefasto de poder ajudou na sua eleição, mas não parece disposta a se submeter à chantagem e às ameaças em nome da governabilidade.
A população aplaude e observa com simpatia, nada mais que isso, o gesto corajoso e decidido da presidente enquanto os aliados esperneiam e prometem desestruturar o governo na "república de coalizão". Nenhuma liderança relevante da sua base de apoio defendeu publica e enfaticamente a faxina presidente, nem mesmo o PT, antigo baluarte da moralidade pública. As manifestações de apoio partiram das lideranças lúcidas da oposição, mas a maioria dela tenta aproveitar a confusão para jogar o governo nas cordas. Esta solidão da presidente faxineira é típica de toda iniciativa de mudança na realidade, como já dizia Maquiavel: o reformador encontra inimigos em todos aqueles que se beneficiavam das instituições antigas sem ganhar o apoio decidido dos potenciais beneficiários das novas condições.
A faxina moral é tão mais necessária quanto difícil na medida em que a corrupção contamina as instituições em vários níveis e em larga escala. A faxina não basta para definir um governo e consolidar a governabilidade, ameaçada pelos beneficiários do sistema de corrupção. O governo não tem uma estratégia de desenvolvimento, terminando o oitavo mês, ainda parece completamente perdido, sem um rumo claro, exceto pelo mais do mesmo, numa coleção dispersa de projetos emergenciais. Além disso, como o ambiente econômico global não é favorável, a situação política se complicará com um provável modesto crescimento econômico.
Para dar consistência e efetividade à faxina, a presidente tem que construir uma nova base de poder, atraindo políticos que pensem no Brasil e não nos interesses pessoais. Ela teria que procurar lideranças políticas com legitimidade e prestígio, dispersas em todos os partidos ou fora deles, para definir a estratégia de desenvolvimento e dar suporte político e parlamentar às medidas de enfrentamento da corrupção nas instituições. Para continuar esta briga contra a enfermidade crônica, Dilma teria que procurar Fernando Henrique Cardoso, Cristovam Buarque, Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Eduardo Suplicy entre muitos outros políticos dispostos a se engajar num projeto de Estado e de longo prazo e apoiar a faxina. A faxineira se transforma assim numa estadista.
Do contrário, a presidente se isola e termina forçada a escolher entre dois caminhos igualmente trágicos: persistir como uma solitária faxineira impedida de governar, ou recuar e ceder ao sistema de poder para continuar governando na mesmice enquanto a turma se locupleta.
Sérgio C. Buarque é economista e consultor
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
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