Vera Magalhães
SÃO PAULO - Quando Gilberto Kassab disse a já célebre frase de que o PSD não será nem de esquerda, nem de direita, nem de centro, estava enunciando a estratégia que pode levar seu partido a nascer com a terceira maior bancada da Câmara, com 50 deputados.
Ser incolor, insípido e inodoro é uma espécie de condição de existência do novo partido, que não terá, na largada, dois combustíveis essenciais: tempo no horário eleitoral e fundo partidário.
É por isso que Kassab costuma dizer que a primeira prova de fogo do novo partido será mesmo em 2014. Eleger uma bancada federal numerosa será fundamental justamente para estabelecer o cálculo do quinhão do fundo partidário ao qual o PSD terá direito, bem como os preciosos minutos no cobiçado horário eleitoral.
Sem essas duas ferramentas por enquanto, resta ao partido como tática de sobrevivência em 2012 o direito à livre associação, de acordo com o desenho político local em cada seção.
No Rio, estará com o peemedebista Eduardo Paes. Em Curitiba, deve dar suporte à reeleição de Luciano Ducci, do PSB. Em São Paulo, pode tanto ter candidato próprio quanto apoiar um nome do PV. E assim indefinidamente, sem restrições. Nem o PT, que sempre rechaçou alianças com o PSDB e com o DEM -de cuja espinha dorsal nasceu o partido de Kassab-, quis impor veto a acordos com a sigla "neutra" do prefeito.
A liberação de acordos com o PSD atende, principalmente, a uma conveniência do governo Dilma Rousseff. Diante de uma base aliada mais que heterogênea, com a qual a relação está sempre por um fio, interessa à presidente ter um partido com 50 deputados como uma "reserva de contingência" para votações importantes.
Não que o PSD vá aderir ao governo do PT de cargo e cuia, ao menos num primeiro momento. Isso contrariaria a necessidade de ser um aliado de gregos e troianos na sucessão municipal.
O exército de Kassab, oriundo das mais diferentes linhagens políticas e unido por contingências na maior parte dos casos locais, ficará livre para agir como quiser também no Congresso.
Mas a fatiga de ser oposição por muito tempo foi o que levou boa parte dos parlamentares a migrarem para a nova e heterogênea legenda.
É a esse contingente que Dilma poderá recorrer sempre que sua coalizão inflacionar demais o apoio, como uma espécie de estoque regulador da governabilidade, o que é uma posição estratégica no quadro político atual.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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