Nada menos que 10 anos se passaram do ataque que reduziu a pó as duas torres do World Trade Center, que, como a Estátua da Liberdade, passaram a compor a imagem de Nova York. O sucesso chocou o mundo. Mais do que isso, dada as suas peculiaridades, ficaram a integrar a crônica mundial das violências como algo sem antecedente, misturando-se com o medo inerente das incertezas.
Não se limitaram às vozes das vítimas que lá permanecem num túmulo vazio, a elas se juntam não apenas as de uma nação, mas das nações, pois o mal-estar que não se sabe onde começa ou onde termina migrou a outros recantos. Enfim, a insegurança não existe tão só no círculo imaginário em torno de Nova York; o medo não é apenas nela em razão do que lá ocorreu, mas pelo que pode acontecer lá e em qualquer outro lugar. Para o terrorismo, não há fronteiras nem a veneração às coisas que o tempo se encarregou de fazê-las sagradas.
Quem poderá dizer que a Catedral de Chartres com seus vitrais centenários de um azul, parece retirado do céu, goza de imunidade diante da selvageria? E Notre-Dame, cravada ao lado do Sena, um dos mais belos monumentos de Paris? O mesmo se diria em relação à Capela Sistina ou dos museus do Vaticano com suas belezas e acervos maravilhosos, para não dizer a Cúpula da Basílica de São Pedro? Quer dizer, nada mais é patrimônio da humanidade, convertendo-se em objeto ao alcance do desvario humano. Este me parece ser o desenho aproximado do medo, 10 anos depois do maldito 11 de setembro.
O recente congresso petista mostrou alguns dados ilustrativos. Limito-me a apreciar dois deles. Um de nítida censura à senhora presidente! Defendendo a extinção da "faxina", o partido propunha uma excêntrica anistia às pessoas denunciadas e até punidas, ainda as não apuradas, mas já articuladas pelo Ministério Público. A "faxina" macularia o governo passado.
O país inteiro sabe que, não por obra dos serviços oficiais, mas graças à imprensa, alguns fatos de particular gravidade foram divulgados. A eles estavam vinculados membros do passado governo e mantidos pelo atual. Diante da evidência dos fatos, era indisfarçável o maltrato do dinheiro público. A senhora presidente tomou providências que eram de seu estrito dever adotar. Não o fizesse, estaria sendo conivente com ilícitos e sujeita até a perda do cargo por ofensa à "probidade de administração", Constituição, art. 85,V. E, diga-se de passagem, a opinião pública ratificou a ação presidencial, enquanto no Congresso se pleiteava a extinção da "faxina". Não se engane a presidente, é pública a indignação popular em relação à ostensiva improbidade publicada. Nas ruas de Brasília, no dia da pátria, a presidente viu vivamente visto o fenômeno singular.
O outro diz respeito à tentativa de amordaçar a imprensa, ideia que não é nova em setores petistas. Agora, a censura passou a chamar-se de "democratização da mídia". No final do governo passado, o então ministro da Informação trabalhou em projeto para esse fim. Não houve tempo para avançar no caminho escabroso. Pois, no Congresso petista, o tema voltou a ter defensores. E foi preciso que a própria senhora presidente batesse na mesa para modificar a medida autoritária que, entre nós, existiu em anos passados e extinguiu-se sem deixar saudades. Aliás, é de lembrar-se que na comemoração dos 90 anos da Folha de S. Paulo, a senhora presidente proferiu eloquente oração defendendo a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, de modo que a divergência ficou manifestada.
Em termos de defesa da corrupção e supressão de liberdades (no Brasil e no Exterior), o PT faz hoje o que nem o partido oficial nos tempos do arbítrio ousou fazer. Estes os fatos, são sumamente relevantes e do maior interesse nacional. Como se vê, as saudades autoritárias, para não dizer totalitárias, permanecem vivas em setores de um partido que desfruta do governo do país.
*Jurista, ministro aposentado do STF
FONTE: ZERO HORA (RS)
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