O Rio vai hospedar, em junho do ano que vem, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, 20 anos depois da Conferência do Rio. O evento poderá ser ainda mais significativo do que o primeiro, pois estas duas décadas, apesar dos impasses, permitiram consolidar, disseminar e aplicar o novo principio da sustentabilidade, deslocando o meio ambiente da periferia para o centro dinâmico das atenções mundiais.
A Cúpula do G-20 em Pittsburgh, em setembro de 2009, estimulou a proposta de um New Deal Verde, que poderia ser impulsionado com apenas 1% a 2% do PIB mundial e afastar o fantasma de uma grande recessão. Apressar a reconversão para um novo modelo energético, baseado em energias renováveis, como a Alemanha e a China já estão fazendo, para aliviar a recessão. Repensar o automóvel que, tal como existe hoje, é coisa do passado e não merece subsídios com dinheiro publico, nem mesmo sob pretexto de criar empregos, pois eles podem vir, e melhores, de outro lugar. Eis o desafio que está na pauta da Rio+20.
A infraestrutura, como foi o New Deal de Roosevelt nos anos 30 do século passado, volta a ser a locomotiva dos investimentos (e dos empregos) para ampliar a mobilidade urbana e cortar emissões com o metrô, trem, VLTs e BRTs. Por toda parte, remodela-se a construção civil, com prédios e casas populares de teto verde para moderar a temperatura, e que poupam energia, promovem ecoeficiência, armazenam água da chuva e separam a água de esgoto para o reuso. O saneamento ambiental, investimento caro, é o flagelo dos países em desenvolvimento. Estes serviços precisam ser, no Brasil, rapidamente universalizados para garantir a higiene pública e proteger a saúde. As operadoras estão prontas para fazer parcerias público-privadas e oferecer água, coleta e tratamento de esgoto, além do reaproveitamento dos resíduos sólidos, transformando-os em energia. Este é um bom exemplo de como a economia verde pode produzir desenvolvimento, criando empregos e erradicando a pobreza ao mesmo tempo, como propõe a Rio+20.
A Fundação Bill Clinton fez um cálculo: se os países em desenvolvimento investirem em massa neste processo, a crise ambiental planetária pode ser adiada de 2020 para 2040, pois estaremos abatendo enorme quantidade de gases de efeito estufa da atmosfera. A indústria da reciclagem é outro braço poderoso da economia verde, tanto maior quanto mais desenvolvido é o país. Juntos, apenas os Estados Unidos, o Brasil e a China geraram 13 milhões de empregos na área e, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), esses postos de trabalho poderiam se multiplicar no Brasil, porque as cidades não fazem ainda coleta seletiva, da qual depende a reciclagem. O Rio, por exemplo, não recicla nem 1% do seu lixo!
A verdade é que as cidades precisam ser redesenhadas e passadas a limpo e, em nome da governança mundial - outro tema central da Conferência -, precisamos abrir mais espaços para que as cidades possam exercer o protagonismo correspondente às suas responsabilidades e possibilidades. O meio ambiente não é mais, como foi visto no passado, o vilão do desenvolvimento. Ele pode ser a locomotiva do desenvolvimentismo sustentável. Os interessados não são apenas as empresas. Pequenas comunidades pobres, coladas à Natureza, estão buscando também inserções produtivas graças a investimentos em sua sustentabilidade e desenvolvimento com recursos, em geral, advindos das compensações da mineração e do petróleo, que chegam a US$10 bilhões em 20 anos.
Estamos em pleno processo de mudança de nosso paradigma civilizatório. Temos que moderar nossos apetites consumistas e reprogramar uma nova economia da durabilidade e da escassez - com maior equidade e bem-estar social. O velho capitalismo e o velho socialismo, como irmãos siameses, estão morrendo juntos. Surge aos nossos olhos uma nova sociedade, pós-capitalista, mas também pós-socialista. O palco é brasileiro e carioca. .
Aspásia Camargo é deputada estadual (PV-RJ) e integrante do Conselho Nacional da Rio+20.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário