terça-feira, 4 de outubro de 2011

Em sinal de respeito :: Wilson Figueiredo

A democracia brasileira acaba de ser agraciada com um novo partido, que nasceu fora das urnas e trouxe do berço, eleita por outros partidos, uma gente que merece ser referida como a bancada de Ali Babá, quando nada, pela coincidência numerológica. São 40 deputados que vão disputar um lugar ao sol para o novo PSD entre as 27 outras legendas que não deram conta da empreitada de fazer deste país uma democracia digna do respeito daqueles que pagam as despesas. Valem-se do nome do anterior PSD, que fez de conta mas não trouxe para o Brasil, em 1945, o que pudesse ser consumido como social democracia.

O espaço social e político não é melhor nem pior, e muito menos igual, àquele em que o Brasil sempre se embriaga com a idéia de democracia mas , passado o efeito, engrena a marcha a ré cujo sinal é a proposta de uma Constituinte exclusiva, mas para não valer, com igual falta de resultado. A alternativa são as reformas engavetadas, que servem de biombo para a doce vida parlamentar. A reincidência malandra começou bem: seu fundador e prefeito de São Paulo valeu-se da oportunidade para dizer que este PSD não é de esquerda, de direita e muito menos de centro. Para deixar claro que nada tem a acrescentar ao que se procura descartar, não precisava tanto. O Brasil está numa encruzilhada política em que até os quatro pontos cardeais não são mais dignos de fé. A impressão é que, entre o papel de Papai Noel e o de Rei Momo, o prefeito Gilberto Kassab sacode as banhas para compensar o vazio de idéias.

Refeitas as contas, o que se diz e o que deixa de ser dito não passa de mais uma carta jogada à mesa. O novo PSD nada tem a acrescentar, nem a opor, à prolífera democracia retomada em 1985, mas que embolou e agora aposta no equívoco segundo o qual, quanto maior o número de partidos e de deputados, mais flexibilidade política e ética modelará a nação trazida do futuro para o presente. Por esse lado, chega-se primeiro ao fim do raciocínio que leva ao conhecido beco sem saída.

A democracia ficou entalada com a desproporção entre a quantidade de partidos que excedem as idéias à disposição dos eleitos e o aumento indiscriminado de representantes vazios de conteúdo, que já extrapolam a categoria do senadores eleitos sem votos próprios (nos quais a ótica dos governos militares acreditou ter encontrado solução duradoura que não passou de equívoco).

O novo PSD não traz qualquer contribuição de ordem geral, mas ressalta a soma de interesses pessoais, para fazer da vida pública a via preferencial de enriquecimento pelo mandato eletivo. Os interesses públicos e particulares se tornaram irmãos siameses.

A partir do próprio nome, o guaribado PSD nada tem a ver com o conceito histórico, e tomou emprestado o título aos que se valeram dele como trapaça. A social-democracia não passa de nostalgia, digna de um tango argentino. A idéia original trazia com ela a visão bifocal de socialismo reforçado pela participação das garantias oferecidas no compromisso democrático. A utilização política da idéia original, para fins desqualificados, seja qual for o ponto de vista, é um desrespeito ao socialismo e à democracia.

No Brasil, o primeiro partido que se anunciou social-democrata nada teve a ver com mérito político. À fome de votar, depois de 15 anos de jejum eleitoral, bastava então o feijão com arroz. Eleição direta. O primeiro PSD só deu pela coisa, de acordo com a lenda oposicionista, quando recebeu de uma fonte social-democrata (supostamente na Turquia) o telegrama de cumprimentos pela eleição histórica do presidente Dutra e da maior bancada na Constituinte. A maioria farta nem se lembrou de que social-democrata era a fachada de um edifício conservador. E tratou de conservá-la enquanto durou.

Em respeito à opinião pública, não custa lembrar que o PSD de 1945 também nada deveu à social democracia do Século 19. Mas não precisou de enganar ninguém. Fora do título, por extenso, sua substância política era designada como pessedismo. Subentendia hábitos, sem dúvida republicanos, mas reincidentemente conservadores. O novo PSD, nem isso.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

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