A acreditar (por que não?) na 16ª. Pesquisa Latinoamericna, a confiança dos brasileiros na democracia despencou nove pontos percentuais do ano passado para este, sem que se tenha sentido a diferença no comportamento dos cidadãos. Ainda bem. Tudo que se passou nos últimos anos por aqui pode ser entendido também como acomodação, senão no subsolo, na superfície mesmo. Objetivamente, tudo se passa como não ocorria quando as dificuldades exteriores nos reservavam papel secundário e nos brindavam apenas com as conseqüências.
A divulgação da notícia não teve maior destaque nos meios de comunicação, nem qualquer efeito num país em que a democracia - está implícito na expectativa social - já preserva a diferença entre ela e as formas de governo que abrem mão das liberdades, a começar da relativa à opinião e à informação. Pode ser pouco, mas é melhor do que era. Vivam as diferenças.
O levantamento anual feito por uma ONG chilena em 18 países da América Latina, e divulgado em Santiago, registrou a queda de 61% para 58% na confiança que a democracia já alcançou no nível continental..No que diz respeito ao Brasil, a confiança recuou de 54% para 45%, mais acentuada do que a média continental. A economista Marta Lagos, presidente do instituto chileno, entreviu na mudança do discurso entre a presidente Dilma e o seu antecessor a razão política do problema. Nada digno de apreensão. O tempo dirá se existe mais do que parece na diferença dos discursos de Dilma Rousseff e Luiz Inácio.
No ano passado, a corrupção foi apontada por 64% dos brasileiros como em alta nos três anos anteriores (no segundo mandato do PT/Lula), Ficou suficientemente claro que o brasileiro considera e trata o Legislativo e os partidos políticos como instituições que não resistem à sedução do dinheiro nas relações funcionais, nem respeitam a linha divisória entre o que é público e o que é privado. O efeito restritivo não passa, porém, da ênfase oral. Ainda não chega ao voto do cidadão, movido por outros motivos de natureza pessoal e de fundo social. Fica por aí a questão.
Em época de eleição, aí sim, pesquisas de opinião já mobilizam atenção nas faixas sociais da classe média para cima. Os boatos perderam prestígio e eficácia com a multiplicação dos recursos técnicos postos a serviço da opinião pública, na mesma faixa de mobilização em que as pesquisas exercem função ainda por ser devidamente decifrada.
A etapa de consolidação democrática em curso tem lastro na continuidade que já parece exercer mais sedução do que as variantes ilusórias que a comprometeram no passado. A democracia comporta oscilações de opinião pública e já não têm efeito político as estridências retóricas diante da estatística da normalidade. Altos e baixos no registro da opinião pública, em questões de natureza ética ou de baixa moralidade na vida pública, fazem parte da evolução natural que deixa episódios marcantes pelo caminho. Foi certamente a falta de apoio na opinião pública que levou o ex-presidente Lula a desistir em tempo da sedução que o terceiro mandato exerceu sobre ele e o cercou de ingênuos e espertalhões. Salvou a biografia.
Há na opinião pública uma saturação crítica em relação à maneira como se apresenta a vida política. A classe média, que dá a impressão de usufruir surto novo rico como estado de espírito, ainda não sabe, mas não vai demorar a perceber que a expansão do mundo da comunicação cairá no seu colo. O resto será conseqüência, no bom sentido que faz parte da alma dessa gente disposta a entrar na História.
FONTE: JORNAL DO BRASIL ONLINE
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