A melhor solução para a Grécia e para a zona do euro é uma saída negociada e ordenada do país do grupo
Poderia ter dado certo a convocação de referendo feita pelo primeiro ministro da Grécia, Georges Papandreou? Nunca saberemos, porque o primeiro ministro grego confirmou sua fraqueza e recuou rapidamente diante da reação violenta dos dirigentes da zona do euro.
O que significaria "dar certo" nesse caso? Significaria encontrar uma solução decente para uma crise tão grave.
O desconto de 50% da dívida pública que foi decidido na última semana foi um avanço, mas não resolve o problema maior que é o do desequilíbrio da conta corrente da Grécia, ou seja, a sobreapreciação implícita do euro grego.
Os líderes europeus ofereceram uma "solução" também para esse problema. É o plano de austeridade, medidas de contenção de despesas por meio das quais se provoca o desemprego e se reduzem os salários e os preços, e assim se deprecia a taxa de câmbio implícita da Grécia.
Mas essa solução é muito cara para o país. A Grécia já está há 18 meses em recessão, e ninguém sabe quanto tempo ainda levará para o país corrigir seus preços em relação aos da Alemanha e da Holanda.
Ao propor o referendo, Papandreou estava abrindo o caminho para a saída da Grécia do euro, e para a desvalorização da sua moeda. Dessa forma, os salários seriam também reduzidos, mas de uma só vez, e sem o custo de mais desemprego.
Para a Grécia, essa é a melhor solução. Ela não sai da União Europeia, sai apenas do euro, e volta a ter sua própria moeda, depreciada em relação ao euro.
Há riscos nessa mudança para os bancos gregos e em relação à possível inflação na nova moeda. Mas ambos os riscos são provavelmente menores do que o custo de ficar no euro e tentar realizar um plano de austeridade que é grande demais e que não tem apoio popular.
Para diminuir esses riscos é importante que a saída da zona do euro seja acordada, como já está sendo acordada a restruturação da sua dívida pública.
Para a zona do euro será bom que um país que se desequilibrou estruturalmente deixe de a ela pertencer. O desequilíbrio é grande demais, e não é apenas fiscal mas também cambial. E é melhor que se pense em uma saída negociada e ordenada do euro.
Ao invés, Papandreou curvou-se, e a Europa voltou para a alternativa das restruturações, mais a austeridade, mais o aumento do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.
Se os agentes financeiros estivessem mais calmos e mais seguros, se não estivessem tão preocupados com o alto endividamento dos países da zona do euro, o caminho poderia ser mesmo esse, desde que a ele se somasse uma ação mais ativa do Banco Central Europeu de apoio a seus membros.
Entretanto, a Europa vive tempos anormais, o medo de novas crises deixa os mercados financeiros ainda mais instáveis do que já são, e, em tempos anormais, são necessárias soluções anormais.
Como foi o Plano Real, no caso do Brasil. Como foi a atuação do Federal Reserve Bank nos Estados Unidos depois da crise de 2008. Como precisam ser as políticas da zona do euro e do seu banco central, incluindo-se entre elas a saída de alguns de seus membros.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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