Ministro muda versões sobre avião, dono de ONGs e também sobre pagamento de aeronave
Em depoimento ontem no Senado, o ministro Carlos Lupi, do Trabalho, caiu em contradições em relação ao que já dissera sobre viagem ao Maranhão num avião providenciado por Adair Meira, dono de ONGs que tem convênios com a pasta. Ele admitiu que voou num King Air, apesar de ter negado semana passada. Também confirmou que conhece o dono das ONGs, o que negava até então. E disse que não sabe quem pagou o aluguel do avião, apesar de ter dito antes que fora o PDT do Maranhão, que negou. Lupi explicou as contradições: "Não tenho memória absoluta."
"Não tenho memória absoluta"
Ministro do Trabalho, Lupi dá novas versões sobre voo em avião com dono de ONGs
Evandro Éboli e Maria Lima
Sem o espalhafato exibido na semana passada, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, usou as três horas ontem de seu depoimento na Comissão de Assuntos Sociais do Senado para tentar se segurar no cargo. Deixou, no entanto, contradições no ar, como o fato de ter admitido só agora que viajou num avião King Air, onde estava o empresário Adair Meira. Mas disse que não sabe quem pagou. E admitiu, também só ontem, que conhece Adair, o que negara semana passada.
Durante depoimento na Câmara, semana passada, Lupi desdenhara de sua possível proximidade com Adair, dono de ONGs com as quais o Ministério do Trabalho fez convênios julgados irregulares pela Controladoria Geral da República. Fizera pouco caso do empresário, ao protagonizar a cena na qual folheia várias anotações para encontrar o nome de Adair citado pelos parlamentares:
- Eu não tenho nenhuma relação, nenhuma, absolutamente nenhuma... com o... Como é o nome?... Seu Adair. Adair. Nenhuma. Não sei onde ele mora. Nunca andei em aeronave pessoal nem dele nem de ninguém - disse na Câmara.
Ontem, o tratamento era outro.
- Caro Adair, eu nunca neguei que o conhecesse. Disse não ter relação pessoal - afirmou Lupi, que emendou: - Aquele dia (na Câmara) eram cinco, 12 deputados me perguntando. Não tenho memória absoluta. Tenho memória boa, mas ela falha. São arroubos, força de expressão e gestuais. Por isso, tentam demonizar a gente.
E tentou justificar o comportamento da semana passada:
- Foi crime ter falhado na hora do nome?!
"Não disse que não andei de avião"
Evitando provocações e a repetição de frases que irritaram a presidente Dilma Rousseff semana passada, Lupi disse ontem que vive um linchamento público. Ao reconhecer que andou num avião com Adair, Lupi tentou se explicar:
- Disse que nunca andei em avião pessoal dele (Adair), nem em outros aviões particulares. Não menti, amigo (dirigindo-se ao senador tucano Álvaro Dias). Não disse em nenhum momento que não andei de avião - afirmou, apesar de só ter admitido isso após a divulgação das imagens da viagem de 2009.
Lupi deixou sem resposta também denúncia da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) de que recebeu cinco diárias do ministério, no valor total de R$1.736, para viagem partidária no Maranhão no final de 2009 - a mesma do avião King Air.
O ministro reconheceu que participou de eventos do PDT naqueles dias, mas afirmou não se lembrar de ter recebido diárias pagas pelo Erário:
- Só foi uma diária. Se estiver irregular, devolvo. Vou verificar. É pouco provável ter havido outras diárias.
Líderes do governo evitaram o depoimento. Os petistas, à exceção de Eduardo Suplicy (SP), não apareceram para ajudar o ministro. No depoimento, companheiros de PDT repetiram o apelo para que deixasse o cargo.
Cristovam Buarque (PDT-DF) foi na mesma linha:
- Tenho trauma de ter sido demitido pelo telefone (no governo Lula, quando ministro da Educação). É sair menor. Mas, pior, é sair acusado de corrupção. E o senhor não foi. Deixe o ministério - disse Cristovam.
Lupi não se comoveu com os apelos do colegas e disse que fica:
- Mas não é por apego a cargo. É apego à causa.
E disse que Dilma pediu para ele ficar, mas não deu detalhes:
- Uma conversa entre a presidente e um ministro é sigilosa. É confiança recíproca. Só posso me limitar a dizer que ela pediu que ficasse.
"Quem tem que explicar não sou eu"
Kátia Abreu levantou ainda outra suspeita: a de que a nota fiscal do fretamento da aeronave King Air teria sido incluída na prestação de contas da ONG Pró-Cerrado, de propriedade de Adair Meira. Ela reconheceu, porém, que não tem como provar. E pediu a Lupi que abrisse a prestação de contas da ONG. Lupi negou a acusação:
- Não existe isso. Esse convênio é de 2007. A cada hora criam um fato e, desse fato, um factoide. Não tenho que responder. Vou esperar a verdade - disse o ministro.
- Essa nota existe e vamos buscá-la. Lupi é um escroque, frio e calculista, cínico. Fica se escondendo na barra da saia da Dilma ao tentar misturar as denúncias contra ele com o governo - reagiu Kátia.
O ministro afirmou que não era ele quem teria que se explicar sobre a aeronave King Air, mas, sim, Ezequiel Nascimento, ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego do ministério, que teria providenciado a aeronave para a viagem ao Maranhão.
- Quem tem que explicar não sou eu. Compete a quem pagou. Não tenho obrigação de saber.
Ezequiel confirmou que a aeronave foi providenciada por Adair, que, por sua vez, nega ter pago a empresa de táxi aéreo. Lupi disse que pode usar um carro sem conhecer o dono, devido à intensidade da atividade partidária. O ministro afirmou que sua amizade com Ezequiel continua:
Questionado sobre a resistência do PDT à sua permanência, respondeu:
- Meu amor, unanimidade, só Jesus Cristo.
FONTE: O GLOBO
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