Depois de quase nove anos de governo petista, nos quais a tônica, por cima dos escândalos e da própria realidade, era mostrada por meio de uma maciça campanha publicitária embalada pelo mantra do “nunca antes na história deste país”, a verdade do país descortinada pela divulgação do censo do IBGE contraria o tom ufanista de que se revestiu o governo Lula e de que ainda se veste o governo Dilma.
As desigualdades sociais e a concentração de renda continuam a desafiar uma nação que se pretende no século XXI, mas que grande parte de seu povo vive em condições do século XIX. A situação da saúde continua calamitosa, mesmo depois que o presidente Lula afirmou que o SUS “estava próximo da perfeição”. Vemos agora, pela ausência de saneamento em mais de 50% dos lares brasileiros, e pela completa ausência de uma efetiva política de Estado para superar tal condição, que estamos muito longe de alcançarmos esse trivial sinal de civilização.
É claro que estamos avançando, na melhoria da qualidade de vida de nossos cidadãos e cidadãs, a questão é que nessa velocidade continuaremos longe dos países emergentes. E, pior, sem modificar as estruturas que possibilitam a permanência de tal quadro de desigualdades quer regionais, étnicas, de gênero, etc.
Tome-se o exemplo da distribuição de renda. Em todas as regiões as diferenças de rendimentos reduziram-se, exceto no Nordeste, destino privilegiado da política assistencialista do governo, por meio do Programa Bolsa Família. Enquanto uma parcela da intelectualidade ressaltava a importância do Bolsa Família para mitigar a miséria dos estratos mais pobres, as estruturas que condicionavam e alimentavam as desigualdades continuaram intocadas. Daí a regressão do Nordeste, como mostrado pelo Censo 2010.
É justamente a falta de uma política de Estado que enfrente as históricas estruturas de nosso atraso relativo que faz com que a concentração de renda seja uma das maiores do planeta. Onde os 10% da população mais rica tenha uma renda média mensal quase 40 vezes maior que os 10% mais pobres. Enquanto os 10% mais pobres auferem 1,1% do total de rendimentos, os 10% mais ricos detêm 44,5%. O mais grave é que o Censo de 2010 revela que metade da população recebia até R$ 375,00 por mês, quando o salário mínimo oficial nesse ano era de R$ 510,00.
Outra maneira de vermos tais disparidades é considerarmos os rendimentos da metade mais pobre de nossa população que retém 17,7% da renda total! Isso apesar do aumento da renda em todos os níveis, pesquisados.
Analisando-se as diferenças de renda regionais, podemos observar com clareza a persistência da concentração, com o CentroOeste com um rendimento médio per capita de R$ 1.422,00, o Sudeste com R$ 1.396,00, o Sul muito próximo com R$ 1.282,00, o Norte com R$ 957,00 e o Nordeste com R$ 806,00 mais distantes. Apesar de o Nordeste receber quase 50% do valor total do Bolsa Família.
Não é difícil perceber que o novo lema da propaganda do governo, “País rico é país sem miséria”, além de uma platitude, quando visto à luz do novo Censo, pode ser percebido como um escárnio.
Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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