quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A prova dos 9 e dos 4,5%:: Vinicius Torres Freire

Apesar de dúvidas sobre o futuro da inflação, clima do debate é mais pró-governo, que se anima com PIB 2012

A PROVA dos 9 da política econômica do governo Dilma Rousseff ainda virá da precisão do seu diagnóstico sobre inflação e crescimento. Talvez seja a prova mais importante, não só devido a seu impacto político e socioeconômico mais imediato, mas porque os projetos maiores dos anos Dilma, que não são muitos e ainda precisam sair do papel, não devem ter efeito tão cedo.

O péssimo estado da economia dos países ricos e o pequeno declínio da inflação alteraram o clima político e midiático do debate a respeito de preços, juros e PIB.

Banco Central e governo acertaram ao estimar que a crise mundial seria mais grave do que o previsto por economistas do mercado (previsões incorporadas em suas projeções de inflação doméstica).

Quanto à taxa de inflação (IPCA) acumulada em 12 meses, o índice também começou a cair desde agosto de 2011. Porém, os melhores e mais ponderados economistas do setor privado também previam queda do IPCA neste final de ano.

O problema mesmo seria o rebote dos preços a partir de janeiro, fevereiro, assunto sobre o qual governo e povos do mercado ainda divergem amargamente.

Porém, a baixa do IPCA, provisória ou não, serviu para modificar o clima do debate. Não se trata apenas de meteorologia subjetiva. Devido a essa mudança de clima e informações, o governo animou-se a partir para uma ofensiva de imagem e, provavelmente, de ação.

Dados o início quase certo de recessão na Europa, a possibilidade de agonia longa no mercado financeiro mundial e seus impactos na economia brasileira, afora a inflação por ora algo menos alta, seria preciso tomar medidas para evitar um crescimento outra vez abaixo de 4%, um anátema para Dilma.

Hoje, por exemplo, outra vez o governo afirmou em público que o PIB de 2012 andará ao ritmo de 4% ao ano, pelo menos. Mas a intenção mesmo é chegar a 5%.

As dúvidas maiores: 1) A inflação vai mesmo chegar a 4,5%, na meta oficial, como dizem Banco Central e governo? 2) Chegando ou não, o governo vai continuar comprometido com a meta de crescer pelo menos 4%? 3) Quais serão os instrumentos para vitaminar o PIB?

Quanto à questão número um, a resposta é mais imponderável que de costume. A inflação vai depender do tamanho da rateada da economia europeia e mundial, do câmbio, do preço dos produtos negociados no mercado mundial (como commodities). Mesmo que a Europa afunde, como a China vai reagir? Com mais estímulo, como começam a dizer os dirigentes chineses?

Mais: qual vai ser o impacto do aumento de gastos do governo (com salário mínimo e a prometida retomada de investimentos)? O IGP-M, índice de preços com muito peso de preços de atacado e de câmbio, está caindo desde janeiro (de 11,5% ao ano para 6,95%). Vai continuar a baixa? Isso vai se refletir no IPCA, nos preços ao consumidor?

Segunda e terceira questões: o governo vai tomar medidas de estímulo econômico qualquer que seja o índice de inflação lá por, digamos, fevereiro, março (quando em geral começa o "descongelamento" das despesas)? Tomará qualquer medida, como aumento de gastos? Ou vai deixar tudo a cargo do BC (com baixa de juros)? E se a inflação resistir e o BC mudar de ideia sobre juros?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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