A crise será amainada com juro menor, se o governo não inflacionar a economia com medidas desesperadas
"Governo lança pacote contra a crise", ouvia-se ontem a respeito daquela meia dúzia de decisões díspares num conjunto improvisado.
Mal o "pacote" não vai fazer. Daí a dizer que o país vai crescer décimos a mais ou vai evitar "a crise" (qual delas?) cabem as probabilidades de se ganhar numa loteria.
De mais importante e novo, o governo abriu algumas porteiras fechadas ao capital externo. Eliminou o imposto (IOF) sobre compras estrangeiras de ações e sobre um tipo de empréstimo externo para empresas. O governo parece preocupado com o risco crescente de seca braba de dólares. Mas não apenas.
Apesar do tumulto econômico mundial, multinacionais têm gastado bilhões na compra de empresas brasileiras: há interesse no país.
Ao eliminar impostos sobre aquisições de ações (também para aumento de capital) e empréstimos de médio prazo, o governo está, pois, também eliminando uma restrição ao investimento. Investimento que porém pode não vir se a crise lá fora piorar.
Outra parte grande do "pacote" é medida "velha", regulamentada agora. O governo vai devolver logo parte dos impostos que exportadores pagam. Vai melhorar a rentabilidade dessas empresas, que apanharam muito com o real forte. Deve estimular alguma exportação. Pouca. Ainda menos se a economia mundial for para o vinagre.
Outras reduções de impostos barateiam pão e massas. Melhoram um pouco a vida dos mais pobres, mas são irrelevantes para "combater a crise" ou estimular o PIB.
A redução do imposto sobre "linha branca" é um presente para um setor industrial e injeção de ânimo no comércio. As vendas sobem um pouco; há o efeito psicológico. O efeito real é pequeno.
Note-se, claro, que a produção de linha branca quase não cresceu nos últimos 12 meses. Mas vários setores apanham e não receberam seu quinhão de estímulo.
O crescimento no Brasil caiu rápido porque:
1) O efeito da alta de juros e restrições outras ao crédito decididas no início do ano foi sentido mais agora;
2) O governo conteve gastos (até agora, neste ano, gastou 3% mais que em 2010, quando gastou 11% mais que em 2009). No caso do investimento federal, houve mesmo queda, de 9%;
3) A confiança do empresário tombou, dada a crise lá fora. Investe-se menos, contrata-se menos, demite-se.
A crise será amainada mesmo é com juro menor, o que será possível se o governo não inflacionar a economia com medidas desesperadas de estímulo ao crédito e de aumento de gasto.
Mas nem isso é certo. O grosso do problema de 2012 (que será de qualquer modo crítico) depende da solução para a crise de governos e bancos europeus, do câmbio ou da desaceleração chinesa.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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