Para especialistas em ética, presidente está numa situação constrangedora e não pode demorar para tomar atitude
Silvia Amorim
SÃO PAULO. Sob o risco de ter abalada a popularidade que conquistou no início de governo, a presidente Dilma Rousseff não tem outra alternativa a não ser seguir a recomendação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República e demitir o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Essa é a opinião de estudiosos em ética pública ouvidos ontem pelo GLOBO. Eles avaliaram que a decisão da Comissão colocou Dilma numa situação constrangedora.
- A imagem que a Dilma tem na sociedade é de que é mais rigorosa do que foi o Lula. Mas, especificamente no caso do Lupi, ela está demorando para tomar atitude. A situação está se complicando, e eu só vejo uma opção para Dilma: demite ou demite - avaliou a professora de Administração da PUC-SP e autora do livro "Responsabilidade Social e Ética", Elisabete Adami Pereira dos Santos.
- Do ponto de vista da ética pública, a retidão tem que ser levada a sério. Mas esse caso, assim como muitos outros, serve para mostrar como a ética no Brasil é muito flexível. Depois da postura e das declarações dele (Lupi), totalmente inadequadas para um ocupante de cargo público, já nem era para estar no governo. Foram desculpas esfarrapadas e cínicas. Ele zombou do cidadão - disse a professora.
O professor de Ciência Política da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas (FGV) Claudio Couto diz que o pronunciamento da Comissão de Ética cria um constrangimento novo para Dilma:
- Manter alguém com restrições éticas é sempre muito custoso. A situação do Lupi foi ficando muito complicada, principalmente após as notícias de que acumulou cargos ilegalmente na Câmara dos Deputados e na Câmara de Vereadores no Rio. Acho que ela (Dilma) vai ter que rever a posição de só trocar o Lupi na reforma ministerial.
O jornal "Folha de S.Paulo" noticiou ontem que Lupi ocupou simultaneamente, entre 2000 e 2005, cargos de assessor na Câmara dos Deputados e na de Vereadores do Rio de Janeiro. Para a professora e pesquisadora do Grupo Ética e Filosofia Política da PUC-SP Salma Tannus Muchail, sustentar o ministro no cargo para não tornar as coisas mais difíceis na reforma ministerial é "falta de pudor":
- A presidente Dilma tem todo o aval da sociedade para tomar decisões como essa (proposta pela Comissão) agora. Seria falta de pudor adiar isso para 2012. Se errou, tem que sair.
Para especialista, Dilma já não tem escolha
Um dos motivos apontados para a demora de Dilma em tomar uma decisão no caso de Lupi é que a presidente gostaria de tirar o Ministério do Trabalho do comando do PDT, dando à sigla outro espaço no governo. E isso seria mais conveniente e fácil de ser feito no bojo da reforma ministerial.
Salma considera que Dilma não tem escolha, caso queira manter a imagem que conquistou, a de que é pouco tolerante com casos de corrupção no governo.
- Agora com a recomendação da Comissão de Ética, não me passa pela cabeça que ela não vai demiti-lo. Não tem como - avaliou Salma.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário