O embaixador Marcílio Marques Moreira deu adeus à presidência da Comissão de Ética Pública depois que Lula e Carlos Lupi não deram a menor bola para o parecer do órgão contra o acúmulo de funções - Lupi era, simultaneamente, ministro e presidente do PDT. É proibido, mas só depois de meses ele se licenciou do partido.
Perguntei na quarta-feira ao atual presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, que já presidiu o Supremo:
"E se Dilma fizer como Lula e não acatar a recomendação da comissão para exonerar Lupi?"
"Eu não sei, mas estou preparado para enfrentar o que der e vier. A recomendação é o máximo que podemos fazer. O poder é da presidente, não da comissão. Ela é que vai sopesar a conveniência ética e política de manter o ministro."
Pois é. Dilma "sopesou" e decidiu manter Lupi mais um pouco, sabe-se lá até quando, apesar...
...do parecer da comissão;
...das acusações de que o Ministério do Trabalho cobra propinas, repassa recursos para ONGs desaconselhadas por órgãos do próprio governo e desvia verbas para o partido e para partidários;
...de o próprio Lupi ter mentido sobre o jatinho e as relações com um empresário esquisitão;
...de ter sido duplo funcionário-fantasma, na Câmara, em Brasília, e na Câmara Municipal do Rio;
...da falta de compostura: "Só saio abatido a bala", "Te amo, Dilma!". (Isso pesou particularmente na recomendação da comissão.)
A decisão da presidente da República mata a Comissão de Ética, enterra a autoridade dos seus integrantes e realça o quanto os órgãos de controle (e a própria CGU) são tratados como balangandãs.
A opinião pública sabe perfeitamente por que a comissão pediu a demissão, mas não por que a presidente insiste (ou insistia até ontem, pelo menos) em manter o ministro. A faxina acabou, mas o lixo continua.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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