Lupi pôs dez dirigentes do partido na direção da pasta, que financia entidades ligadas a centrais sindicais
O Ministério do Trabalho sob a gestão de Carlos Lupi transformou-se numa espécie de anexo do PDT, seu partido. Lupi mantém dez integrantes da executiva nacional da legenda em postos de comando da pasta. O tesoureiro do partido, Marcelo Panella, foi chefe de gabinete de Lupi até o início do mês passado, auge da faxina ministerial. O ministro confirmou que a filiação deles pesou na nomeação, mas disse que os cargos são de "livre provimento" - ou seja, podem ser preenchidos como Lupi bem entender. Presidente licenciado do PDT, o ministro mantém reuniões políticas durante viagens oficiais. Ele negou que uma atividade interfira na outra, porque as reuniões são feitas "após o horário do expediente". Entidades vinculadas a centrais sindicais impedidas pelo Tribunal de Contas da União de receber dinheiro público levaram R$ 11 milhões do ministério só neste ano.
Ministro do Trabalho abriga cúpula do PDT e turbina central aliada com verba
Esplanada loteada. Carlos Lupi mantém dez integrantes da Executiva Nacional do seu partido em postos de comando do ministério e somente neste ano entidades vinculadas a sindicatos já receberam R$ 11 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador
Iuri Dantas, Marta Salomon
BRASÍLIA - No comando do rateio de recursos milionários do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, abrigou parte da cúpula do seu partido, o PDT, na pasta e encontrou brecha para turbinar centrais sindicais, impedidas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de receber dinheiro público por causa de irregularidades no passado. Só neste ano, entidades vinculadas a centrais já receberam R$ 11 milhões.
O ministro mantém dez integrantes da Executiva do PDT em postos de comando do ministério e um outro personagem da cúpula partidária na Fundacentro, instituição ligada à pasta. O tesoureiro do partido, Marcelo Panella, foi chefe de gabinete de Lupi até o início do mês passado, auge da faxina ministerial, quando deixou o cargo a pretexto de cuidar de negócios pessoais.
"Todos são filiados ao PDT, o que pesou, sim, para suas nomeações", disse o ministro ao Estado, confirmando a lista de correligionários que nomeou. "Reitero que todos os seus cargos são de livre provimento", completou. No jargão burocrático, isso significa que Lupi considera caber a ele preencher os cargos da forma que entender melhor.
Panella e Lupi são amigos há 25 anos, segundo o próprio ministro. Os dois chegaram a ser sócios no Rio de Janeiro, no Auto Posto São Domingos e São Paulo, mas a falta de alvarás não permitiu o funcionamento do negócio.
Sucessor de Leonel Brizola na presidência do PDT, Lupi chegou ao bloco F da Esplanada dos Ministérios em 2007, após perder a disputa para governar o Rio e ter apoiado a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele tirou licença do comando do PDT para assumir o ministério, mas continuou mandando na legenda, numa confusão de fronteiras entre o cargo no governo e a militância partidária.
Loteamento. O critério político-partidário pesou na escolha de alguns dos principais cargos do ministério. Além de Lupi, o secretário executivo da pasta, Paulo Roberto Santos Pinto, também é integrante da Executiva Nacional. Da mesma forma, comandam o partido quatro assessores diretos do ministro: o secretário de Políticas para o Emprego, Carlo Roberto Simi, e a diretora de Qualificação, Ana Paula da Silva.
Completam a lista dois coordenadores-gerais: o responsável por Estudos, Anderson Brito Pereira, e Rafael Oliveira Galvão, que cuida de empreendedorismo juvenil. A Fundacentro, instituição de pesquisa sobre segurança do Trabalho, vinculada ao ministério, também é comandada por um membro da Executiva do PDT, Eduardo de Azeredo Costa. Neste ano, a Fundacentro recebeu R$ 45,7 milhões.
O Estado apurou que Panella tinha ascendência sobre os demais pedetistas. A maioria dos secretários ia ao seu gabinete despachar. Isso significa que a proximidade com Lupi se impunha à hierarquia do ministério.
Manobra. No ano em que assumiu o ministério, Lupi abriu caminho para o repasse de verbas do FAT a centrais sindicais, por meio de convênios com sindicatos ligados às centrais, proibidas pelo TCU de receber dinheiro público por fraudes e irregularidades na prestação de contas. A justificativa foi "a necessidade de novos parceiros" para cuidar da intermediação de emprego nas cidades de São Paulo e do Rio.
Com a medida adotada Lupi, a Força Sindical tomou a liderança do repasse de verbas para agências de emprego. O convênio em curso com a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos soma R$ 46,4 milhões. A confederação é comandada por Monica de Oliveira Lourenço Veloso, que também é diretora da Força. A central sindical é presidida por Paulo Pereira da Silva (SP), deputado federal pelo PDT e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.
A brecha aberta em dezembro de 2007 também resultou na contratação de entidade que atende pelo nome de Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores nas Indústrias de Confecção de Roupas e de Chapéus de Senhoras do Rio de Janeiro. A entidade usou parte do convênio de R$ 6 milhões para reformar e mobiliar sua sede, reativando um Centro de Atendimento ao Trabalhador, no bairro de São Cristóvão.
O sindicato é filiado à União Geral dos Trabalhadores (UGT). "Isso dá visibilidade às centrais", disse o deputado Roberto Santiago (PV-SP), vice-presidente da UGT, que intermediou o convênio. "Fiquei intercedendo junto ao Lupi, deu trabalho", contou.
Lupi alegou que a escolha das entidades obedeceu a um "edital de chamada pública de parceria" com ampla divulgação no Diário Oficial.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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